'Inaceitável paralisia' do Conselho de Segurança da ONU resulta em mortes de inocentes, diz Mauro Vieira

Em abertura da reunião de chanceleres do grupo, brasileiro defende que G20 assuma papel de mediação de conflitos

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Rio de Janeiro

O ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, criticou o estado de paralisia do Conselho de Segurança da ONU para conter os conflitos atuais no mundo, como as guerras na Faixa de Gaza e na Ucrânia. A declaração foi dada durante o discurso de abertura da reunião de chanceleres do G20, que aconteceu nesta quarta-feira (21), no Rio de Janeiro.

Vieira afirmou que é dever do Grupo dos Vinte assumir o papel na mediação das crises internacionais, já que consegue reunir países de lados opostos dos conflitos em mesa de negociação. A fala do chanceler brasileiro segue a linha de defesa do governo federal pela reforma da governança global —uma das prioridades da presidência brasileira no G20.

O ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, durante discurso na reunião de chanceleres do G20 no Rio de Janeiro - Eduardo Anizelli - 21.fev.24/Folhapress

"As instituições multilaterais não estão devidamente equipadas para lidar com os desafios atuais, como demonstrado pela inaceitável paralisia do Conselho de Segurança em relação aos conflitos em curso. Esse estado de inação implica diretamente em perdas de vidas inocentes", disse Vieira.

O discurso foi feito no dia seguinte ao terceiro veto dos EUA a uma proposta de resolução enviada ao Conselho de Segurança da ONU para determinar um cessar-fogo imediato na guerra Israel-Hamas. Treze membros do órgão votaram a favor do texto redigido pela Argélia, enquanto o Reino Unido se absteve. Os EUA foram o único país a se manifestar de forma contrária à resolução.

"Diante do quadro que vivemos, no entanto, esse grupo é, possivelmente, o fórum mais importante onde países com visões opostas ainda conseguem sentar à mesa e ter conversas produtivas sem necessariamente carregar o peso de posições arraigadas e rígidas que têm impedido avanços em outros foros, como o Conselho de Segurança das Nações Unidas", completou Vieira.

O G20 é o grupo que reúne as 19 maiores economias do mundo, além da União Europeia e da União Africana. Neste ano a presidência do fórum está com o Brasil, que estipulou três prioridades para seu mandato: além da reforma da governança internacional, há o combate à fome, pobreza e desigualdade e as três dimensões do desenvolvimento sustentável (econômica, social e ambiental).

A reunião dos chanceleres é a primeira ministerial a ser feita sob a presidência do Brasil. O tema desse encontro, que deve direcionar as negociações políticas do grupo, vai girar em torno da necessidade de mudanças nos organismos internacionais e nos conflitos em curso no mundo.

O governo brasileiro também usa o fórum para instar que países do chamado Sul Global se fortaleçam. Em seu discurso, Vieira fez uma referência irônica ao fato de o Norte estar "unido em torno de uma aliança militar", em referência à Otan, enquanto o Sul, segundo ele, "é coberto por várias camadas e zonas de paz e cooperação".

"O Brasil não aceita um mundo em que as diferenças são resolvidas com o uso da força militar. Uma parcela muito significativa do mundo fez uma opção pela paz e não aceita ser envolvida em conflitos impulsionados por nações estrangeiras. O Brasil rejeita a busca de hegemonias, antigas ou novas. Não é do nosso interesse viver em um mundo fraturado", disse o chanceler brasileiro.

O chefe do Itamaraty também criticou os altos gastos militares no mundo e fez uma comparação com as despesas em assistência social e no combate às mudanças climáticas. Segundo pesquisa do britânico Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IISS, na sigla em inglês), as despesas com poderio bélico dos países foram as maiores em 2023 desde a Segunda Guerra Mundial.

"Não é minimamente razoável que o mundo ultrapasse, e muito, a marca de US$ 2 trilhões em gastos militares a cada ano. A título de comparação, os programas de ajuda da Assistência Oficial ao Desenvolvimento permanecem estagnados em torno de US$ 60 bilhões por ano, menos de 3% dos gastos militares. Os desembolsos para combater mudanças climáticas, sob o amparo do Acordo de Paris, mal conseguem alcançar os compromissos de US$ 100 bilhões por ano, portanto menos de 5% dos gastos militares", afirmou Vieira.

O ministro afirmou que a discrepância entre os gastos mostra uma inação no combate à desigualdade social e às mudanças climáticas. "Se a desigualdade e mudanças climáticas de fato constituem ameaças existenciais, não consigo evitar a sensação de que nos faltam ações concretas sobre tais questões."

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