Chile decreta emergência após incêndios florestais matarem ao menos 46

Regiões costeira próxima a Santiago é atingida por quase cem focos de chamas; país sofre com fenômeno anualmente

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Santiago | AFP

Grandes incêndios deixaram ao menos 46 mortos e mantiveram Viña del Mar, Valparaíso e outras regiões do centro e sul do Chile em situação de emergência neste sábado (3). Ao menos nos últimos três anos o país sul-americano passa por catástrofes do tipo durante o verão.

Bombeiros tentam conter incêndio na comuna de Quilpe, na região de Valparaíso, no Chile
Bombeiros tentam conter incêndio na comuna de Quilpe, na região de Valparaíso, no Chile - Javier Torres - 3.fev.2024/AFP

"Ficamos sem nada de um minuto para o outro", afirma o trabalhador aposentado Luis Vial, 69, em frente à sua casa. A construção foi totalmente consumida por um incêndio que devastou Villa Independencia, na cidade de Viña del Mar, na noite de sexta-feira (2).

Fileiras de veículos carbonizados podiam ser vistas em frente aos edifícios em ruínas. "Não peço dinheiro, peço que me ajudem a recuperar minha casa", diz Vial.

O presidente do Chile, Gabriel Boric, sobrevoou a área afetada e decretou estado de emergência com o objetivo de reunir "todos os recursos necessários" para apagar as chamas.

Apoiados por helicópteros e aviões, bombeiros e voluntários combatiam os incêndios nas colinas em vários pontos do país.

Apenas na Villa Independencia morreram 19 pessoas, mas o balanço final de óbitos pode aumentar nas próximas horas, de acordo com a ministra do Interior, Carolina Tohá. Quinze dos mortos já foram identificados. Ainda não se sabe o número de pessoas que deixaram suas casas em fuga.

Até o 12h de sábado, no horário local (o mesmo de Brasília), 92 incêndios haviam sido registrados. Desse total, 40 foram controlados. Brigadas ainda tentam conter os demais.

"A prioridade está nos incêndios na região de Valparaíso, por sua proximidade com áreas urbanas. Ali temos vários focos, mas dois são mais preocupantes", explicou Tohá.

As áreas mais afetadas ficam perto das praias do Pacífico, a cerca de 100 km a noroeste de Santiago, onde operam empresas vinícolas, agrícolas e madeireiras. Durante esta temporada, a região recebe muitos turistas.

Vários municípios da região de Valparaíso e Viña del Mar acordaram sob toque de recolher neste sábado, uma medida ordenada por algumas horas pelo governo para facilitar a retirada dos moradores e o trabalho das equipes de emergência.

Há um ano, também em fevereiro, o país registrou ao menos 24 mortos em incêndios que superaram os 270 mil hectares de área queimada —o fogo atual queimou cerca de 43 mil hectares, segundo o governo. Em 2023, aviões e equipes especializadas foram enviados por países como Brasil, Argentina, Venezuela, México e Estados Unidos.

Em dezembro de 2022, a mesma região de Valparaíso sofreu com fortes incêndios florestais, que costumam ser intencionais, segundo relatórios oficiais. O fogo também se espalha rapidamente devido a construções em áreas não autorizadas.

"Nunca vi nada igual. Isso é muito angustiante porque deixamos nossa casa, mas não podemos avançar. Todos tentam sair e é impossível se deslocar", conta a administradora Yvonne Guzmán, 63, que deixou sua casa em Quilpué, a cerca de 90 km de Santiago.

Desde a última quarta-feira (31), as temperaturas se aproximam dos 40°C na zona central do Chile, onde fica Santiago. O Ministério dos Transportes decidiu, nesta sexta, bloquear totalmente o trânsito devido à visibilidade reduzida pela fumaça na Rota 68, que vai de Santiago a Valparaíso.

A prefeita de Viña del Mar, Macarena Ripamonti, ficou surpresa com a magnitude dos incêndios. "Estamos diante de uma catástrofe sem precedentes, uma situação dessa envergadura nunca tinha acontecido na região de Valparaíso. São mais de cinco focos simultâneos, e o setor mais afetado é, novamente, Viña del Mar", observou.

As rotas para essas praias do Pacífico foram fechadas. As chamam queimam zonas povoadas, onde colapsaram as rotas alternativas de milhares de pessoas que tentavam deixar a área.

Segundo relatório da Corporação Nacional Florestal (Conaf), o maior incêndio florestal é na Reserva Lago Peñuelas, próxima à principal rodovia que dá acesso à região. O segundo incêndio mais amplo ocorre em La Aguada, comuna de La Estrella na região de O'Higgins, no centro do país.

Uma onda de calor com temperaturas máximas assola a América do Sul, onde El Niño é agravado pelo aquecimento global provocado pela atividade humana, segundo especialistas. Os alertas emitidos pelo persistente calor sufocante estão em vigor a partir desta semana e, na próxima, em áreas da Argentina, Uruguai, Paraguai e Brasil, além do Chile.

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