Com agenda esvaziada por imprevistos, Lula encontra controverso premiê etíope

Líderes africanos tiveram reunião de emergência; presidente brasileiro participa de cúpula da União Africana neste sábado

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Adis Abeba

O primeiro dia de compromissos oficiais do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na Etiópia, nesta sexta-feira (16) foi marcado por um encontro com o primeiro-ministro Abiy Ahmed, seguido de uma série de cancelamentos de última hora.

Lula teria três reuniões bilaterais e a participação em um evento da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO, na sigla em inglês). Todas foram canceladas sob justificativas de atrasos em voos e convocações para reuniões de emergência.

O único evento de grande relevância do dia, portanto, foi o encontro com o premiê etíope, ganhador do prêmio Nobel da Paz em 2019, hoje criticado por levar adiante uma guerra contra rebeldes de seu país.

Presidente Lula participa de cerimônia com Abiy Ahmed, premiê da Etiópia, em homenagem a heróis de batalha, em Adis Abeba
Presidente Lula participa de cerimônia com Abiy Ahmed, premiê da Etiópia, em homenagem a heróis de batalha, em Adis Abeba - Ricardo Stuckert/PR

Lula foi recebido em uma cerimônia oficial no palácio do governo, em uma de suas agendas bilaterais às margens da cúpula da União Africana, que começa no sábado (17).

O presidente chegou à sede do governo pouco antes das 11h, no horário local (5h em Brasília). Foi recebido com as cerimônias destinadas a chefes de Estado e depois se reuniu com Ahmed, por quem também foi convidado para um almoço.

Ao contrário do encontro com o ditador egípcio, Abdel Fattah al-Sisi, a imprensa não teve autorização para acompanhar os eventos dentro do palácio e não houve declaração conjunta aos jornalistas. Segundo a assessoria de Lula, a agenda bilateral tinha como pautas a cooperação para o desenvolvimento e a promoção do comércio.

Lula também busca articular com países africanos apoio para a reforma das organizações internacionais, em particular econômica. Ela já havia tratado disso durante encontro com o Sisi, no Cairo, no início da viagem à África.

Abiy Ahmed, o premiê etíope, por sua vez, é considerado uma figura controversa no cenário internacional. Em 2019, foi premiado com o Nobel da Paz por suas ações, já à frente do governo do país, para encerrar o conflito entre Etiópia e Eritreia.

No entanto, desde então, o seu caráter pacificador vem sendo colocado em xeque por outras guerras que levou adiante. Tropas federais estão atualmente usando drones para atacar grupos rebeldes no nordeste do país. Algumas organizações de direitos humanos denunciam o ataque como um genocídio em andamento.

A imagem mostra o presidente Lula sorridente
O presidente Lula na chegada a Adis Abeba, na Etiópia - Ricardo Stuckert/Presidência da República

Antes de seguir para a sede do governo, Lula foi até o memorial da Batalha de Ádua, confronto no final do século 19 entre Etiópia e Itália, onde as forças etíopes derrotaram completamente os invasores italianos, marcando a primeira vitória africana contra uma potência europeia e preservando a independência etíope. O presidente brasileiro depositou flores e depois visitou o museu do memorial.

A tarde desta sexta seria toda destinada a encontros com líderes africanos. Estavam previstas inicialmente uma reunião com o presidente da Nigéria, Bola Tinubu, que acabou não confirmando participação; com o presidente do Quênia, William Ruto, que alegou atraso em seu voo; e com o presidente do Banco Africano de Desenvolvimento, Akinwumi Adesina, que se atrasou por estar em outro encontro.

No fim da tarde, Lula seria um dos chefes de governo a discursar em um evento da FAO sobre financiamento climático para a agricultura e segurança alimentar. No entanto, vários presidentes de países africanos foram convocados para uma reunião de emergência na União Africana, para discutir a escalada do conflito na região leste da República Democrática do Congo.

Segundo a Secretaria de Comunicação Social da Presidência, o encontro não previsto foi convocado pelo presidente de Angola, João Lourenço, que é o mediador designado pela União Africana para a crise entre Uganda e República Democrática do Congo. "Com a ausência dos Chefes de Estado, o presidente Lula também não participou do evento", informou a Secom.

O presidente do Quênia, apesar do atraso, compareceu ao evento da FAO e fez seu discurso. Lula, no entanto, já havia saído para um jantar na residência do embaixador brasileiro em Adis Abeba. Ao ver que era o único líder presente, Ruto também deixou o local logo após sua participação.

Auxiliares do presidente minimizaram a série de cancelamentos. Argumentam que o principal encontro do dia já seria com o premiê etíope e foi para ter esse encontro que Lula antecipou sua saída do Cairo.

A equipe de Lula apenas teria tentado encaixar encontros na tarde de sexta-feira, para tentar agilizar a agenda, considerando que alguns líderes da União Africana só chegam à Etiópia neste sábado.

Lula vai participar da cúpula da organização, também em Adis Abeba. O brasileiro deve discursar e tem uma série de reuniões bilaterais agendadas com chefes de Estado africanos. O presidente vai tratar com outros líderes sobre cooperação, comércio, desenvolvimento e, novamente, tentar angariar apoio internacional para a reforma do sistema internacional de governança.

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