Descrição de chapéu China

Taiwan elege populista pró-China como líder do Parlamento

Escolha do membro da oposição Han Kuo-yu para o cargo deve dificultar vida do presidente recém-eleito Lai Ching-te

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São Paulo

O Parlamento de Taiwan elegeu para a sua liderança Han Kuo-yu, um membro do principal partido da oposição, o Kuomintang (KMT), nesta quinta-feira (1º). A escolha representa uma derrota para o governo do presidente recém-eleito, Lai Ching-te.

Han Kuo-yu acena para a imprensa após ser eleito presidente do Parlamento de Taiwan em cerimônia em Taipé - I-Hwa Cheng/AFP

Mesmo que Lai ainda tenha a prerrogativa de indicar o primeiro-ministro, o cargo de presidente do Parlamento dá ao KMT controle efetivo da pauta legislativa pelos próximos quatro anos. A sigla defende um estreitamento de relações com a China, enquanto Lai já se definiu como um "trabalhador pragmático pela independência de Taiwan" —mesmo que, durante a campanha presidencial, tenha buscado amenizar a declaração, argumentando que independência no contexto atual "se refere ao consenso de que Taiwan não faz parte da República Popular da China".

Além disso, como a sigla de Lai, o Partido Democrático Progressista (PDP), perdeu sua maioria legislativa no último pleito, obtendo 51 das 113 cadeiras, ele terá que negociar com a oposição —majoritariamente composta pelo KMT, que conquistou 52 assentos—, para fazer suas propostas avançarem.

O presidente do Parlamento tem uma atribuição de extrema importância, que é receber políticos estrangeiros que visitam Taiwan. Foi um evento do tipo, a viagem da então presidente da Câmara dos Estados Unidos, Nancy Pelosi, a Taipé em 2022, que disparou a maior crise recente entre Taipé e Pequim —o regime chinês considera a ilha uma província rebelde e parte inalienável de seu território.

Para agravar a situação, o eleito para liderar o Parlamento foi alvo de ataques diretos de Lai durante a corrida presidencial. À época, ele disse que se Han fosse escolhido para comandar o Legislativo, lideraria uma comitiva de prefeitos de sua sigla em uma viagem ao continente para se reunir com autoridades do Partido Comunista Chinês.

O PDP também exibiu durante a campanha um anúncio televisivo em que acusava Han de ser a favor de uma reunificação de Taiwan com a China —algo que o KMT nega, descrevendo as acusações como "maliciosas e injustas".

Han chegou a concorrer à Presidência de Taiwan em 2020, mas perdeu por 18 pontos percentuais para a atual presidente, Tsai Ing-wen, escolhida de 57% dos eleitores.

A acusação de Lai de que Han pretende visitar a China uma vez eleito líder do Parlamento tem certa base. Em 2019, antes de anunciar sua candidatura à Presidência, Han visitou o escritório do regime chinês em Hong Kong. Também esteve no continente naquele ano, encontrando-se com autoridades do Partido Comunista Chinês e reiterando o seu compromisso com o princípio de "uma só China", que exige que países com relações diplomáticas com o gigante asiático não reconheçam Taiwan como um Estado independente.

Questionado sobre os rumores da viagem nesta quinta, Han disse que Lai não precisava "se preocupar tanto". Ao mesmo tempo, não respondeu se planejava de fato ir à Pequim.

Han, 66, atuou como congressista por três mandatos, entre 1993 e 2002. Mas só chamou mesmo a atenção na política local em 2018, quando derrotou o PDP na eleição para a prefeitura de Kaohsiung, segunda cidade mais populosa de Taiwan.

Foi naquela época que Han começou a ser associado a Donald Trump. Assim como o ex-presidente, o político do KMT se vende como um "homem de negócios", tendo trabalhado por anos como gerente empresarial.

Também compartilha com o americano o apelo entre eleitores insatisfeitos com a classe política e uma retórica anti-intelectual, sendo um dos poucos membros de seu partido a não ter se formado em uma universidade americana de elite.

Ao menos um dos obstáculos que Han deve impor ao governo Lai já é sabido —tanto o KMT quanto o Partido do Povo de Taiwan (PPT), também da oposição, defenderam durante a campanha a retomada de um acordo comercial com a China, algo de que o presidente eleito discorda. Juntas, as duas siglas adversárias ao governo têm 60 das 113 cadeiras do Parlamento.

Não é só no Legislativo que o presidente eleito deve enfrentar dificuldades depois de assumir, em maio, contudo. Sua vitória nas eleições presidenciais contribuiu para aumentar as tensões no estreito que separa a ilha da China continental, e só na quarta-feira (31), o Ministério da Defesa taiwanês informou ter detectado 22 aviões da força aérea chinesa realizando "patrulhas conjuntas" com navios de guerra. Duas semanas antes, 24 jatos do tipo haviam sido avistados.

Com Reuters

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