Ex-premiê do Paquistão é condenado à prisão pela 2ª vez em 2 dias

Imran Khan foi condenado a 14 anos de reclusão por vender presentes de Estado de forma ilegal

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São Paulo

A pouco mais de uma semana das eleições gerais no Paquistão, o ex-primeiro-ministro do país Imran Khan foi condenado à prisão nesta quarta-feira (31) pela segunda vez em dois dias. Na decisão mais recente, o ex-premiê e sua esposa, Bushra Khan, foram sentenciados a 14 anos de reclusão por venderem de forma ilegal presentes de Estado que ele recebeu no período em que esteve à frente do governo.

Na véspera, o ex-premiê já havia sido condenado a 10 anos de cadeia em outro processo que investigou o vazamento de informações sigilosas. Ele está preso desde o ano passado sob acusações de corrupção.

O ex-premiê do Paquistão Imran Khan discursa em evento sobre 'desestabilização' do Paquistão
O ex-premiê do Paquistão Imran Khan discursa em evento sobre 'desestabilização' do Paquistão - Aamir Qureshi - 22.jun.22/AFP

O veredicto desta quarta, que marcou a terceira condenação imposta a Khan nos últimos meses, também o impede de ocupar cargos públicos por dez anos, segundo o PTI (Movimento Paquistanês pela Justiça, em português), partido do ex-primeiro-ministro que acusa a Justiça de perseguição política.

O advogado Intezar Panjutha, do ex-premiê, disse à agência de notícias Reuters que os processos são uma farsa. "Trata-se de outro dia triste na história do nosso sistema judicial, que está sendo desmantelado", disse em nota a equipe jurídica do político. "Essa decisão ridícula será contestada."

Khan e sua esposa foram acusados de vender os presentes avaliados em mais de US$ 500 mil (R$ 2,4 milhões) em Dubai. Os itens teriam sido recebidos de 2018 a 2022, quando ele ocupava o cargo de premiê.

Segundo a acusação, a lista de presentes inclui perfumes, joias com diamantes, jogos de louça, sete relógios —seis dos quais da marca Rolex—, entre outros produtos de luxo. Somente um dos relógios, disse a promotoria, é avaliado em cerca de US$ 300 mil (R$ 1,48 milhão).

A pena de 14 anos em cárcere é a mais severa que o primeiro-ministro já recebeu. Não está claro se ele cumprirá todas as sentenças de forma simultânea. Após o veredicto, Bushra Khan, a esposa do ex-premiê, se entregou às autoridades —o político está detido em uma prisão de segurança máxima desde 2023.

Foi a segunda condenação de Khan em dois dias. Na terça (30), ele foi considerado responsável por divulgar o conteúdo de um telegrama secreto enviado ao governo de Islamabad pelo embaixador do Paquistão em Washington. O político defende que o material já tinha aparecido na imprensa por outras fontes antes de ele citá-lo.

Os imbróglios com a Justiça acontecem a pouco mais de uma semana das eleições, marcadas para 8 de fevereiro. A condenação anterior de Khan, pela qual ele cumpre três anos de prisão, já o tinha excluído do pleito.

Os advogados de Khan esperavam obter a soltura do político em breve. Mas as condenações recentes tornam isso improvável.

Zulfikar Bukhari, um dos assessores de Khan, disse à Reuters na terça que as decisões judiciais são uma tentativa de diminuir a popularidade do ex-premiê. Mas "agora ainda mais pessoas vão sair de casa para votar", afirmou.

Khan vem enfrentando dezenas de processos na Justiça desde que foi destituído pelo Parlamento, em abril de 2022. O telegrama que ele foi considerado culpado de vazar nesta terça é um dos itens que ele apresentou como suposta evidência de uma conspiração entre o Exército do Paquistão e o governo dos Estados Unidos para derrubar sua gestão. Ambas as partes negam as acusações.

O advogado Gohar Ali, presidente interino do PTI, disse que condenação de Bushra foi uma tentativa de pressionar Khan ainda mais. "Ela não tem nenhuma ligação com esse caso", afirmou.

Já representantes de partidos rivais, incluindo o PPP (Partido Popular do Paquistão) da falecida ex-primeira-ministra Benazir Bhutto, saudaram a decisão. Bilawal-Bhutto Zardari, atual líder da legenda, disse que as condenações fazem parte do "carma" do político.

A prisão de Khan no ano passado ocorreu num momento em que o Paquistão sofria com a sua pior crise econômica em décadas, com inflação recorde e crescimento baixo. Ao mesmo tempo, disputas políticas são comuns na nação do Sul asiático, comandada por militares em boa parte de sua história e onde nenhum primeiro-ministro se manteve no cargo por um mandato inteiro.

Em novembro de 2022, o ex-premiê foi baleado durante um protesto em que exigia eleições antecipadas. O ato fazia parte de sua "longa marcha" que partiu de Lahore em direção a Islamabad —à medida que o comboio passava por cidades e vilarejos, ele subia em um palanque improvisado em cima de um caminhão para discursar para multidões. Apoiadores dizem que o episódio foi uma tentativa de assassinato articulada pela oposição.

Com Reuters e AFP

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