Descrição de chapéu guerra israel-hamas

Agricultor palestino sacrifica cavalos para não morrer de fome na Faixa de Gaza

Refugiados em campo de Jabalia tentam sobreviver como podem aos ataques e à crise humanitária que se agrava

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Adel Zaanoun Emmanuel Duparcq Sawsan Khalife
Gaza e Jerusalém | AFP

Para não morrer de fome em Gaza, Abu Gibril, 60, sacrificou seus dois cavalos e não ousou contar aos seus familiares e vizinhos o que lhes deu de comer.

"Não tive outra opção e matei os cavalos para alimentar as crianças", disse o agricultor palestino à agência de notícias AFP, refugiado no grande campo de deslocados de Jabalia, no norte da Faixa de Gaza.

A guerra Israel-Hamas tirou tudo dele. Os combates destruíram sua casa e seus campos de produção em Beit Hanun, no extremo norte do território palestino, e a família foi obrigada a se mudar para o campo de Jabalia, a vários quilômetros de distância. O local era, antes da guerra, o maior campo de deslocados da Faixa de Gaza, com mais de 100 mil pessoas abrigadas em um território de 1,4 km², segundo a ONU.

Homem conduz carroça em meio a destroços de construções atingidas por ataques de Israel em Rafah, no sul da Faixa de Gaza - Mohammed Abed - 9.fev.24/AFP

O conflito forçou a família de Gibril a tentar sobreviver em uma tenda que ele montou ao lado de uma escola anteriormente administrada pela ONU e onde milhares de outros deslocados se instalaram. Os ataques não os atingiram diretamente, mas "agora é a fome que está destruindo vidas", disse o agricultor.

Segundo as Nações Unidas, 2,2 milhões de pessoas, ou seja, a imensa maioria da população do território, estão ameaçadas pela fome neste pedaço de terra cercado por Israel. E a grave escassez de alimentos pode provocar uma explosão na mortalidade infantil em Gaza, onde uma a cada seis crianças com menos de dois anos está gravemente desnutrida, segundo alerta do Unicef, o fundo da ONU para infância.

A situação é especialmente alarmante no norte da Faixa, onde "caos e violência" pairam sobre o território, segundo o Programa Mundial de Alimentos (PMA), que suspendeu a distribuição de ajuda na última terça-feira (20) devido aos ataques e às multidões famintas que se lançam sobre os caminhões para saqueá-los.

Neste sábado (24), o Ministério da Saúde de Gaza, governado pelo grupo terrorista Hamas, anunciou que um bebê de dois meses, Mahmud Fatuh, morreu de desnutrição no hospital al-Shifa, na Cidade de Gaza, a menos de dez quilômetros de Jabalia.

'A fome nos consome por dentro'

Um vídeo divulgado pelos meios de comunicação próximos ao Hamas, que mostra um bebê agonizando apresentado como Mahmud Fatuh, circula nas redes sociais, mas até o momento não foi possível verificar a autenticidade das imagens.

Segundo Abu Gibril, ele cozinhou a carne dos dois cavalos, colocou arroz, por falta de vegetais, e distribuiu entre sua família e alguns vizinhos. Várias dezenas de pessoas conseguiram comer, mas ele não disse a eles que era carne de cavalo.

Em geral, em Gaza, ninguém consome carne de cavalo, um companheiro fiel dos agricultores. Assim, exceto por dois parentes, "ninguém sabe que na realidade comeu cavalo", comentou.

Em Jabalia, mulheres e crianças famintas faziam fila na sexta-feira (23) em um ponto de distribuição de alimentos. Enquanto isso, os habitantes do campo são obrigados a vasculhar os arredores em busca de qualquer coisa comestível, mesmo que seja cevada, forragem, milho podre ou folhas.

Às vezes, até mendigam. "Não temos nem um centavo em casa. Vamos de porta em porta, mas ninguém nos dá nada", disse uma mulher, que preferiu não se identificar, à AFP.

Na sexta-feira, dezenas de pessoas se reuniram em Jabalia para denunciar a situação. Amer Abu Qamsan, uma das lideranças do grupo, pediu à comunidade internacional para "salvar" os habitantes de Gaza. Ao seu redor, as crianças seguravam cartazes que diziam "os bombardeios não nos mataram, mas a fome está nos consumindo" ou "a fome nos consome por dentro".

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.