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Governo Milei planeja vídeo que relativiza ditadura no aniversário do golpe, diz imprensa

Medida que ecoa discurso negacionista do presidente e de sua vice durante campanha busca se contrapor a atos da data

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Boa Vista

O governo de Javier Milei planeja publicar um vídeo nas redes sociais para se contrapor a atos da esquerda neste domingo (24), data em que a Argentina relembra o aniversário do golpe que empurrou o país para sua última ditadura militar (1976-1983).

A ideia do vídeo, segundo a imprensa local, é apresentar o que Milei e principalmente sua vice, Victoria Villarruel, defenderam durante a campanha: uma "memória completa" do período repressivo, ressaltando violências cometidas por grupos militantes contrários ao regime à época e pintando o período como um momento de guerra.

Organizações de direitos humanos e movimentos de esquerda tradicionalmente realizam atos em memória das vítimas da repressão nessa data.

O presidente da Argentina, Javier Milei, e sua vice, Victoria Villarruel, em evento em Buenos Aires
O presidente da Argentina, Javier Milei, e sua vice, Victoria Villarruel, em evento em Buenos Aires - Agustin Marcarian - 18.mar.2024/Reuters

Ainda de acordo com a imprensa argentina, o responsável pela peça é o produtor Santiago Oría, documentarista do presidente e um dos estrategistas de imagem de Milei, e haverá depoimentos de ex-integrantes da luta armada contra a ditadura, além de falas de familiares de vítimas das organizações de esquerda.

Segundo o jornal Clarín, o ministro da Defesa, Luis Petri, negou a possibilidade de eventual indulto a militares condenados após o fim da ditadura, e o próprio Milei teria descartado a mudança de penas para prisão domiciliar.

Villlarruel, vice de Milei, é notória revisionista da ditadura argentina. Em setembro passado, já durante a campanha, ela organizou evento em Buenos Aires em que chamou grupos armados contrários ao regime militar de terroristas e defendeu a indenização de vítimas deles durante o período.

"As vítimas do terrorismo desapareceram da memória, foram varridas para baixo do tapete da história. Foram negados seus direitos à verdade, à Justiça e à reparação", afirmou Villarruel na ocasião, em referência a grupos que disse terem imposto um "Estado autoritário, comunista, baseado na tirania".

A organização que busca desaparecidos do regime Mães da Praça de Maio, sindicatos e partidos políticos de esquerda repudiaram o evento à época e a fala de Villarruel por considerá-los "negacionistas" do terrorismo de Estado durante a ditadura.

A vice-presidente chefiou organização criada para a "assistência às vítimas do terrorismo" no país, tema do qual tratou no juramento ao cargo de deputada, que ocupava antes de ser eleita com o ultraliberal.

Milei e Villarruel têm tido rusgas recentes. Ela expôs publicamente em entrevista algumas diferenças com o chefe do Executivo, por exemplo dizendo que soube da indicação do juiz Ariel Lijo à Suprema Corte pelos jornais, discordando do uso das forças armadas para combate ao narcotráfico e admitindo certa tensão com a irmã de Milei, Karina.

Durante a entrevista, Villarruel afirmou que Karina, como ela, tem "muito caráter" e "é brava", e que Milei fica no meio delas, antes de se referir a ele como "pobre jamoncito", usando termo inusual para conotar que ele fica pressionado entre duas personalidades fortes. A ministra da Segurança, Patricia Bullrich, criticou a fala, e Milei afirmou não ter visto a entrevista e que ela não o incomodava.

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