Venezuela prende ex-número dois do regime acusado de corrupção

Escanteado por Maduro, Tareck El Aissami, que também foi ministro do Petróleo, é suspeito de esquema com criptoativos

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São Paulo

Número dois do regime da Venezuela entre 2017 e 2018, Tareck El Aissami, antigo homem de confiança do ditador Nicolás Maduro e de seu antecessor, Hugo Chávez, foi detido na terça-feira (9) por suposto vínculo com um esquema de corrupção.

Ao anunciar a prisão à imprensa, o procurador-geral da Venezuela, Tarek William Saab, mostrou uma foto do momento da detenção. Nela, o ex-dirigente chavista de 49 anos está algemado e é escoltado por dois agentes com os rostos cobertos.

Procurador-geral da Venezuela, Tarek William Saab, mostra foto de momento da prisão do ex-ministro do Petróleo Tareck El Aissami - Ministério Público da Venezuela - 9.abr.2024/AFP

Segundo Saab, o regime conseguiu revelar a suposta participação de El Aissami em um esquema de venda de petróleo por meio de criptoativos que ficou conhecido como PDVSA-Cripto, em referência à sigla da estatal venezuelana.

Na primeira etapa, há um ano, foram presos 61 funcionários, políticos e empresários; nesta segunda fase, 54 pessoas foram acusadas até agora e outros 17 mandados de busca e apreensão foram emitidos.

Esse é mais um escândalo envolvendo a petrolífera, alvo de diversas investigações. Rafael Ramírez, que também era próximo de Chávez, foi acusado de corrupção durante sua gestão como ministro do Petróleo (2002-2014) e presidente da PDVSA (2004-2014) e está foragido na Itália. Outros dois titulares da pasta, Eulogio del Pino e Nelson Martínez, foram detidos, e o segundo morreu sob custódia do Estado.

Agora, a ligação do ex-aliado do regime com o caso teria sido comprovada por meio da delação de cinco "testemunhas de ouro" que já haviam sido presas no âmbito da mesma investigação. Saab não informou onde aconteceu a prisão do ex-vice ou dos outros cinco delatores, que tampouco foram identificados.

El Aissami, alvo de sanções dos Estados Unidos e acusado de narcotráfico, havia desaparecido da vida pública desde a sua renúncia à chefia da pasta, no dia 20 de março de 2023, após a divulgação de investigações. Ao longo de sua vida pública, ele passou pela PDVSA, pela Corporação Venezuelana da Guiana e pela Sunacrip (Superintendência Nacional de Criptoativos).

Durante o anúncio, Saab afirmou ainda que o ex-ministro da Economia Simón Alejandro Zerpa e o empresário Samark López também haviam sido detidos. O segundo era procurado por autoridades dos EUA pelo menos desde 2020, quando o Departamento de Estado americano ofereceu US$ 5 milhões de recompensa por informações que conduzissem ao venezuelano.

"López Bello trabalhou com outros em um esforço para violar e escapar das sanções do Escritório de Controle de Ativos Estrangeiros", afirmou o órgão na ocasião.

Os três detidos serão acusados de crimes como traição à pátria, apropriação ou desvio de bens públicos e lavagem de dinheiro. "Uma pluralidade de crimes que vai resultar em uma sanção exemplar", afirmou Saab, para quem o desfalque ao Estado do suposto crime era "terrorismo econômico".

O atual procurador-geral foi nomeado após sua antecessora ser derrubada em 2017 pela Assembleia Nacional Constituinte —órgão criado para, na prática, anular os poderes da Assembleia Nacional, que tinha maioria opositora desde 2016.

A venda de petróleo por meio de criptoativos foi uma aposta do regime para contornar as sanções financeiras impostas pelos EUA contra a Venezuela, que tem as maiores reservas petrolíferas do mundo —297 bilhões de barris.

"O objetivo dessa máfia liderada por Tareck El Aissami não era outro senão implodir a economia nacional, destruir a nossa moeda inflacionando o dólar paralelo e, assim, fazer as políticas econômicas promovidas pelo Executivo fracassarem", afirmou Saab.

Segundo o procurador, El Aissami e Antonio Pérez Suárez, vice-presidente de Comércio e Abastecimento da PDVSA, criaram um esquema para fugir dos controles do Estado e lucrar com a venda da commodity.

As testemunhas teriam contado que os funcionários presos faziam "vendas [de produtos da PDVSA] abaixo do valor de mercado", com "gestão arbitrária e criminosa dos fundos obtidos". Elas teriam revelado também a "cobrança de comissões em todo o processo de comercialização, bem como o pedido de propina para garantir acesso aos contratos".

Saab os vinculou, ainda, a "uma rede de prostituição" de "jovens de nacionalidade venezuelana e estrangeiras". Analistas avaliam que a queda de um ex-aliado como El Aissami é uma espécie de expurgo político na tentativa de Maduro se reeleger pela terceira vez para mais um mandato de seis anos no pleito marcado para o final de julho.

Com AFP e Reuters

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