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Venezuela: Escândalo de corrupção abala criptomoedas, usadas como proteção contra inflação

Escândalo tem epicentro na petroleira PDVSA; ativos são usados por cerca de 10% da população

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Esteban Rojas
Caracas | AFP

O mundo das criptomoedas na Venezuela, muito ativo devido à busca de refúgio da inflação e ao baixo custo da eletricidade necessária para operar com esses ativos, foi abalado por um escândalo de corrupção que tem epicentro na petroleira PDVSA.

O governo de Nicolás Maduro apostou nos criptoativos como forma de driblar as sanções financeiras dos Estados Unidos contra o país, chegando a lançar uma criptomoeda estatal, o petro, em 2018.

As coisas, no entanto, mudaram: a estatal Sunacrip (Superintendência Nacional de Criptoativos) se envolveu em um escândalo de corrupção na PDVSA e outras empresas e instituições estatais. O episódio levou à detenção dezenas de funcionários e à renúncia do outrora poderoso ministro do Petróleo, Tareck El Aissami.

Loja em Caracas anuncia que aceita pagamentos via criptomoedas - Yuri Cortez - 1º.out.2021/AFP

O caso

Após denúncias do Ministério Público sobre irregularidades na gestão de recursos provenientes de operações petrolíferas realizadas com criptoativos, o presidente da superintendência, Joselit Ramírez, foi preso em março, assim como o chefe de operações de mineração digital da instituição, Rajiv Mosqueda .

Investidores em criptomoedas garantem que, em meio às investigações, diversos pedidos de fechamento de fazendas de mineração digital (onde esses ativos são produzidos) e exchanges (plataformas de troca de criptomoedas) paralisaram o ecossistema local.

A AFP consultou fontes judiciais sobre o número de fazendas e exchanges afetadas, mas não obteve resposta até o momento.

"Eles estão torpedeando a mineração (de criptomoeda). Descubra o que eles precisam descobrir, mas por que eles precisam desligar tudo?", disse Humberto Quintero, diretor da privada Associação Nacional de Criptomoedas (Asonacrip) e da plataforma especializada CryptoLand Venezuela, que pede maior "transparência" das autoridades.

"Você tem um problema e sua solução é pegar uma submetralhadora e matar todo mundo?", questiona Quintero.

A Superintendência de Criptoativos está agora sob o controle de um conselho fiscalizador, mas sua sede permanece fechada desde a prisão de Ramírez. Até as letras metálicas prateadas da placa "Sunacrip" nas portas do prédio no centro de Caracas foram removidas, apurou a AFP.

O uso de criptomoedas já estava em alta na Venezuela muito antes da aposta de Maduro no petro. Esses criptoativos eram vistos como um refúgio contra a inflação crônica e a desvalorização constante da moeda local, o bolívar.

De acordo com uma pesquisa apresentada no ano passado na Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento, 10,3% da população venezuelana possui criptos, em comparação com 8,3% nos Estados Unidos e 5% no Reino Unido.

Mineração digital no "limbo"

A mineração de criptomoedas como o bitcoin proliferou na última década na Venezuela, impulsionada pelo baixo custo da energia necessária para sua produção ou "mineração", apesar dos graves problemas de fornecimento de energia. Perseguido no início, o governo o autorizou quando se voltou para criptoativos e o fomentou com fazendas de mineração estatais.

A Sunacrip, criada em 2018 pelo governo Maduro, concedeu licenças de operação.

"Todas as pessoas que tentaram legalizar seu status (antes do Sunacrip) estão expostas", disse à AFP Luis —um nome fictício para proteger sua identidade—, que fechou duas fazendas de mineração de bitcoin nas quais tinha cerca de 500 máquinas. "Aqueles que fizeram isso anonimamente estão em melhor situação", reclama.

"Eliminei as fazendas. É um absurdo que venham e obriguem a desligar tudo até segunda ordem. Tudo isso nos leva a um limbo jurídico", acrescenta.

Falhas com o petro

Ao mesmo tempo, o ambiente ficou ainda mais difícil nos últimos dias devido à paralisação das transações com petros, sem explicações das autoridades. O uso dessa criptomoeda sempre esteve praticamente restrito a operações com o Estado.

"De repente e sem aviso" a blockchain da petro, a tecnologia que permite registrar operações naquela criptomoeda, "foi paralisada, impossibilitando as transações", disse um comunicado divulgado pela plataforma CryptoLand no fim de semana.

A blockchain foi brevemente reativada no sábado e congelada novamente até esta segunda-feira (29).

Antecedeu a situação um provável erro de sistema de preços, que possibilitava a aquisição de petros a preços bem abaixo do mercado.

"Espero que todos os serviços derivados e apps sejam restabelecidos pouco a pouco", postou a CryptoLand no Twitter.

Investidores denunciam que centenas de contas de usuários de petro foram bloqueadas na plataforma digital de planos sociais do governo, que não deu explicações sobre o ocorrido.

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