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Macron viaja para Nova Caledônia em meio a protestos pró-independência

Distúrbios começaram após reforma eleitoral aprovada que pode levar a perda de influência de indígenas no território francês

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Paris | AFP

O presidente da França, Emmanuel Macron, embarcou nesta terça-feira (21) em viagem para o arquipélago da Nova Caledônia, território ultramarino francês no Pacífico sob intensos protestos de grupos pró-independência. Confrontos em decorrência das manifestações deixaram ao menos seis mortos.

O presidente da França, Emmanuel Macron, ao embarcar no avião com destino à Nova Caledônia, território francês no Pacífico - Ludovic Marin - 21.mai.24/AFP

Após os distúrbios, os piores desde a década de 1980, a França declarou estado de emergência no último dia 15. Em seguida, mil policiais franceses foram enviados ao território numa tentativa de conter os manifestantes e reforçar a segurança de prédios públicos. A porta-voz do governo francês, Prisca Thevenot, disse que "o retorno à ordem era a condição prévia para qualquer diálogo".

Ainda de acordo com o governo, Macron vai se reunir com autoridades eleitas e outros representantes locais na quinta-feira (23) em rodadas de negociações sobre a política e reconstrução de Nova Caledônia. Gabriel Attal, o primeiro-ministro francês, disse que o presidente "discutirá com todas as forças" do território. "Ele vai restabelecer o diálogo", afirmou.

Os protestos continuaram nos últimos dias apesar dos reforços enviados pela França. Na segunda (20), manifestantes bloquearam uma série de estradas importantes. O aeroporto internacional da capital, Noumea, continuará fechado para voos comerciais pelo menos até o próximo sábado (25).

Diante da crise, os governos da Austrália e da Nova Zelândia decidiram retirar turistas do arquipélago enquanto a violência deixa um rasto de destruição com lojas saqueadas, carros incendiados e barricadas nas estradas que restringem o acesso a medicamentos e alimentos.

Mais de cem turistas desembarcaram na cidade australiana de Brisbane em dois voos do governo, disse a ministra das Relações Exteriores da Austrália, Penny Wong. Na Nova Zelândia, um avião da Força de Defesa pousou em Auckland com cerca de 50 pessoas, segundo o jornal New Zealand Herald. Outros voos são esperados para os próximos dias, e ao menos 500 pessoas devem ser retiradas da Nova Caledônia.

As manifestações começaram no último dia 14, logo após a Assembleia Nacional da França aprovar uma emenda constitucional alterando a legislação eleitoral da Nova Caledônia. O texto ainda precisa passar por uma sessão conjunta do Parlamento, mas ativistas pró-independência da etnia indígena Kanak dizem que a medida vai enfraquecer seus direitos políticos.

Isso porque a emenda derruba o congelamento do eleitorado estipulado por um acordo de 1998 assinado entre Paris e movimentos armados independentistas para encerrar os conflitos à época. Por esse pacto, o direito de voto nas eleições locais não mudaria para refletir mudanças populacionais, excluindo quem chegou ao arquipélago depois de 1998 —um grupo que hoje representa 20% da população.

Com o fim do congelamento, há uma estimativa de que 25 mil pessoas vão passar a ter direito a voto —a maior parte delas vindas da França continental. Isso poderia alterar radicalmente a composição do governo local, que é liderado por partidos Kanak pró-independência. Toda a população já pode votar igualmente para presidente da França, Parlamento e Parlamento Europeu.

Macron já tinha dito que não assinaria imediatamente a lei aprovada na Assembleia, mas afirmou que um novo acordo precisa ser negociado entre o governo e os representantes dos Kanaks até o fim de junho.

Construir diálogo, contudo, não será tarefa fácil. Líderes pró-independência criticaram Macron após o anuncio da viagem ao território. "Lá vem o bombeiro depois de atear o fogo!", escreveu na plataforma X Jimmy Naouna, da Frente de Libertação Nacional Kanak e Socialista (FLNKS, na sigla em francês), o principal partido pró-independência.

Líderes de outras ilhas do Pacífico também pressionam Macron para anular ou suspender a reforma eleitoral. O ministro das Relações Exteriores de Vanuatu, Matai Seremaiah, disse que a França deveria "fazer a coisa certa e resolver todas as questões pendentes de descolonização". Ele afirmou ainda que as autoridades francesas devem se "envolver seriamente" com os líderes Kanak.

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