Biden pode ser substituído como candidato democrata nas eleições dos EUA?

Aos 81 anos, presidente tentou aliviar preocupações sobre sua idade, mas o debate só aprofundou a crise

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Um homem de terno azul está falando em um púlpito com o selo presidencial dos Estados Unidos. Atrás dele, há uma multidão segurando placas que dizem 'Biden Harris' e 'Let's Go'.
O presidente dos EUA, Joe Biden, fala em comício de campanha após o debate em Raleigh, Carolina do Norte - Allison Joyce - 28.jun.24/Getty Images via AFP
Christal Hayes Holly Honderich
BBC News Brasil

O primeiro debate das eleições presidenciais dos Estados Unidos terminou com consequências não muito boas para o atual presidente americano, Joe Biden.

O principal objetivo de Biden, de 81 anos, na quinta-feira (27), era aliviar as preocupações sobre sua idade. No entanto, o debate as aprofundou.

Segundo jornais americanos, o desempenho de Biden no evento deixou o Partido Democrata alarmado ou mesmo em pânico.

Alguns políticos e funcionários do partido supostamente enviaram mensagens a comentaristas da rede de televisão CNN, onde ocorreu o debate, com esperanças de que Biden desistisse da corrida presidencial.

Duas pessoas estão acenando em frente a uma grande bandeira dos Estados Unidos. A pessoa à esquerda está vestida com um terno azul escuro, enquanto a pessoa à direita está usando um vestido azul escuro com a palavra 'VOTE' repetida em branco.
O presidente dos EUA, Joe Biden, e a primeira-dama Jill Biden acenam ao sair do palco durante um comício de campanha em Raleigh, Carolina do Norte - Elizabeth Frantz - 28.jun.24/Reuters

Alguns sugeriram a possibilidade de ir à Casa Branca e declarar publicamente suas preocupações sobre ele permanecer como candidato.

Na imprensa americana, a performance de Biden perante Donald Trump, que tem 78 anos, foi descrita com palavras como "confusa", "vacilante", "desastrosa" e "atrapalhada".

Mas Biden poderia desistir agora? O que aconteceria? E quem poderia substituí-lo?

Biden pode desistir?

O candidato do Partido Democrata à Presidência dos EUA será oficialmente escolhido na Convenção Nacional Democrata (DNC, na sigla em inglês) em Chicago, de 19 a 22 de agosto.

Na ocasião, um candidato precisa ganhar o apoio da maioria dos chamados "delegados" — membros do partido que escolhem formalmente o indicado.

O voto de cada delegado na convenção deve refletir como os eleitores que ele representa votaram nas chamadas primárias — que é a disputa interna do partido em cada Estado para definir quem será seu candidato na eleição.

Neste ano, Biden ganhou quase 99% dos quase 4 mil delegados.

De acordo com as regras da DNC, esses delegados são "comprometidos" com ele e são obrigados a apoiar sua nomeação.

Mas se Biden desistisse, seria um "salve-se quem puder".

Não há um mecanismo oficial para ele ou qualquer outra pessoa no partido escolher seu sucessor, o que significa que os democratas ficariam com uma convenção aberta.

Teoricamente, Biden teria influência sobre seus delegados. Mas eles estariam, no fim das contas, livres para fazer o que quisessem.

Isso poderia levar a uma competição frenética entre os democratas que querem uma chance de concorrer.

Vale acrescentar que, até agora, Biden não deu nenhuma indicação de que pode desistir.

A imagem mostra dois homens em pé atrás de púlpitos durante um debate presidencial transmitido pela CNN. O homem à esquerda está gesticulando com as mãos, enquanto o homem à direita está tocando sua orelha. O fundo é azul com o logotipo da CNN repetido várias vezes.
Debate na CNN foi o primeiro entre Donald Trump e Joe Biden das eleições 2024 nos Estados Unidos - Brian Snyder - 28.jun.24/Reuters

Biden poderia ser impedido de concorrer?

Este é um cenário ainda menos provável.

Na era política moderna dos EUA, um grande partido nacional nunca tentou trocar um candidato contra a vontade dele e não há indícios de qualquer plano para isso.

No entanto, as regras da DNC têm algumas pequenas brechas que poderiam, em tese, tornar possível o afastamento de Biden.

As regras dizem que os delegados do partido devem "de livre consciência refletir os sentimentos daqueles que os elegeram".

Assim, se muitos eleitores democratas sinalizassem que deixaram de apoiar Biden, os delegados poderiam mudar o voto, segundo interpretação de alguns analistas.

Para o jornalista Richard Benedetto, professor da American University e ex-correspondente da Casa Branca, caso Biden não queira abandonar a corrida, mas os democratas insistam na substituição, isso poderia causar um racha no partido.

"Haveria uma batalha na convenção, o que seria bastante complicado. Eles têm que tomar uma decisão antecipadamente, de um jeito ou de outro", diz Benedetto à BBC News Brasil.

Mas o professor avalia que o partido não deve se opor à decisão de Biden, "Ele teria que decidir que não quer concorrer e tomar essa decisão por conta própria. Se ele for contra isso, não acho que o partido o substituiria."

Kamala Harris pode substituir Biden?

Uma pessoa está discursando em um pódio com o selo do Vice-Presidente dos Estados Unidos. Ela está usando um blazer claro e tem os braços abertos. O fundo é escuro e há dois microfones no pódio.
A vice-presidente Kamala Harris não é muito popular - Brendan McDermid - 28.jun.24/Reuters

A vice-presidente Kamala Harris assumiria automaticamente o lugar de Biden na Casa Branca caso ele renunciasse durante seu mandato presidencial.

Mas as mesmas regras não se aplicam se Biden desistir como candidato na corrida eleitoral e não há nenhum mecanismo em vigor que daria à vice-presidente uma vantagem numa convenção aberta.

Harris teria que ganhar a maioria dos delegados, assim como qualquer outro candidato.

Como ela já está na chapa democrata com Biden, a vice-presidente certamente poderia ser favorecida. Mas sua popularidade baixa entre o eleitorado americano pode atenuar essa vantagem.

Sua desaprovação, porém, é menor do que a de Biden e a de Donald Trump, segundo o site de pesquisas FiveThirtyEight.

Quem mais poderia substituir Biden?

Vários democratas tentaram desafiar Biden nesta campanha eleitoral, incluindo o deputado Dean Phillips, do Estado de Minnesota, e a escritora Marianne Williamson.

Mas as duas tentativas eram consideradas não competitvas e é improvável que eles apareçam como favoritos em qualquer lista.

Há especulações de que o governador da Califórnia, Gavin Newsom, ou a governadora de Michigan, Gretchen Whitmer, poderiam ser os substitutos.

Mas nenhum dos candidatos mostrou interesse em pegar o lugar de Biden.

"Eu nunca vou virar as costas para o presidente Biden", disse Newsom na quinta-feira, na sala de imprensa do debate em Atlanta, na Geórgia.

"Passei muito tempo com ele e sei o que ele conseguiu nos últimos três anos e meio. Sei do que ele é capaz, conheço sua visão, e não tenho nenhum receio."

Texto publicado originalmente aqui

*Com a colaboração de Julia Braun

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