EUA expressam 'decepção profunda' com Netanyahu após críticas de premiê

Líder israelense chama de inconcebível suposta demora da Casa Branca em manutenção de apoio militar a Tel Aviv

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São Paulo

Um vídeo publicado pelo primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, criticando os Estados Unidos por supostamente estar demorando para entregar ajuda militar ao Estado judeu voltou a aumentar as tensões entre os dois países nesta quinta-feira (20).

O premiê de Israel, Binyamin Netanyahu, discursa em cerimônia no cemitério de Nachalat Yitzhak, em Tel Aviv - Shaul Golan - 18.jun.24/AFP/AFP

Bibi, como o premiê é conhecido, postou na terça (18) uma gravação em que chamou de inconcebível a aparente lentidão de Washington para enviar mais armamentos e munições para Tel Aviv.

No vídeo —gravado em inglês, e não em hebraico—, ele cita uma conversa que supostamente teve em privado com o chefe da diplomacia dos EUA, Antony Blinken, em que este teria garantido que a Casa Branca estava tentando derrubar as restrições ao envio de armas a Israel vigentes.

O premiê fazia referência à suspensão, por parte de Washington, do envio de um conjunto de 3.500 bombas de 2.000 libras (907 kg) e 500 libras (226 kg) para Tel Aviv devido à preocupação com o impacto que elas poderiam ter em áreas densamente povoadas.

Afora essa remessa, porém, o envio de outros armamentos estaria ocorrendo normalmente, segundo a diplomacia americana, uma vez que Tel Aviv continuava a enfrentar ameaças à segurança por parte do Irã e do Hezbollah, milícia libanesa ligada à república islâmica.

Blinken se recusou a comentar a menção a seu nome em encontro com a imprensa na terça.

Ainda na data, a porta-voz da Casa Branca, Karine Jean-Pierre, afirmou não saber "do que ele [Netanyahu] estava falando".

Nesta quinta, foi a vez de o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos EUA, John Kirby, se pronunciar. "Acho que deixamos claro para nossos colegas israelenses, por meio de vários meios, nossa profunda decepção em relação ao que foi dito", afirmou em entrevista coletiva.

Kirby ainda disse que a descrição que Bibi fez da situação não corresponde à realidade. "A ideia de que paramos de ajudar Israel em relação às suas necessidades de autodefesa não é de modo algum verdadeira. Nenhum outro país fez mais [do que nós] para ajudar Israel a se defender da ameaça do Hamas", completou.

Mas Netanyahu não se dispôs a aplacar os ânimos. Em nota divulgada após a fala de Kirby nesta quinta, chamou as declarações de Washington de "ataques pessoais". E acrescentou que está disposto a sofrê-los "desde que Israel receba dos EUA a munição de que precisa na guerra por sua existência".

Já há esforços para diminuir as tensões ocorrendo nos bastidores, com a convocação de um encontro entre Blinken e dois representantes de Tel Aviv —o homólogo de Kirby no Estado judeu, Tzachi Hanegbi, e o ministro de Assuntos Estratégicos israelense, Ron Dermer.

Uma reunião mais formal também estaria sendo agendada, de acordo com um funcionário da Casa Branca que falou à agência de notícias Reuters sob condição de anonimato.

A decisão do presidente Joe Biden de suspender o envio de bombas potentes como as de 2.000 libras foi anunciada depois de Bibi determinar a continuidade dos ataques militares à Rafah, na fronteira com o Egito —cidade para onde mais de 1 milhão de moradores de Gaza, ou quase metade da população total da faixa, fugiu à medida que os israelenses avançavam no norte do território.

Em abril, o líder democrata tinha avisado Tel Aviv de seus temores em relação a um potencial cerco do local.

Netanyahu publicou o vídeo crítico aos EUA em um momento de crescentes divisões internas em Israel.

Só na última semana, o premiê dissolveu o gabinete de guerra, espécie de governo de emergência composto por representantes da situação e da oposição que ele criou no início do conflito para fomentar a união nacional; teve a viabilidade da condição que estabeleceu para o fim dos enfrentamentos em Gaza, exterminar o Hamas, questionada publicamente pelo porta-voz do Exército do país; e viu os protestos que pedem que o governo priorize a volta dos reféns aos ganhos militares em Gaza voltarem a se fortalecer.

Com AFP e Reuters

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