Descrição de chapéu guerra israel-hamas

Porta-voz do Exército de Israel contradiz Netanyahu e diz que não é possível eliminar Hamas

Declaração de militar expõe racha no governo após 8 meses de guerra; premiê condiciona fim do conflito à destruição da facção

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São Paulo

Em declaração que evidencia fissuras entre autoridades de Israel, o principal porta-voz do Exército, Daniel Hagari, afirmou nesta quarta-feira (19) que o grupo terrorista Hamas não pode ser eliminado apesar da guerra na Faixa de Gaza.

A declaração contradiz promessas feitas e frequentemente reiteradas por Binyamin Netanyahu e ainda expõe rachas no governo —enquanto o premiê condiciona o fim do conflito à destruição da facção, aliados cobram dele planos para o futuro do território palestino.

"O Hamas é uma ideologia, e não podemos eliminar uma ideologia. Dizer que vamos fazer o Hamas desaparecer é jogar areia nos olhos das pessoas", disse Hagari à emissora israelense Canal 13. "Se não oferecermos uma alternativa, no final, teremos o Hamas no poder de Gaza."

Um soldado vigia o horizonte do alto de um tanque de guerra camuflado, enquanto outro caminha ao lado, em um cenário que sugere uma pausa em meio a operações militares em um terreno árido com vegetação esparsa
Tanques do Exército israelense posicionados em área da fronteira sul de Israel com a Faixa de Gaza - Jack Guez - 29.mai.24/AFP

Trata-se da primeira vez que Hagari admite não ser possível eliminar a organização em mais de oito meses de guerra. No sentido contrário, o governo havia anunciado na última segunda (17) que cerca de metade das forças do Hamas tinham sido destruídas em Rafah, o atual epicentro do conflito no sul de Gaza.

As declarações provocaram reações quase imediatas. Logo após a publicação da entrevista, o gabinete de Netanyahu rebateu o militar. "O gabinete político e de segurança liderado pelo primeiro-ministro definiu como um dos objetivos da guerra a destruição das capacidades militares e governamentais do Hamas", disse em nota. "As forças de Israel estão, obviamente, comprometidas com isso."

Já o Exército israelense divulgou outro comunicado no qual tentou atenuar as falas de Hagari. Segundo a instituição, o porta-voz se referia somente "à destruição do Hamas como ideologia e ideia". "Qualquer outra declaração seria tirar as coisas de contexto", disse.

Ainda que os comentários tenham sido relativizados, a entrevista aumenta a turbulência política de Netanyahu, alvo de protestos diários contra o governo e que exigem mais negociações para o retorno de reféns.

Os rachas internos ficaram mais evidentes na semana passada, quando Benny Gantz e Gadi Eisenkot, ambos da aliança de centro-direita Unidade Nacional, renunciaram a seus cargos no gabinete de guerra após divergências em relação ao rumo das operações militares em Gaza.

Com efeito, Netanyahu decidiu dissolver o gabinete, formado ainda no início do conflito por membros da coalizão governista e da oposição para conduzir o país no conflito contra o grupo terrorista. Segundo analistas, a medida tem mais repercussões políticas do que práticas. Com a decisão, Bibi, como o premiê é conhecido, impede que a ala mais extremista do governo ganhe assentos no órgão —o que desagradaria a aliados como os Estados Unidos— e reafirma seu controle nas tomadas de decisão do conflito.

Ex-aliado e hoje é adversário político do premiê, Gantz cumpriu promessa feita no fim de maio de deixar o gabinete de guerra caso o premiê não apresentasse um plano para o pós-guerra no território palestino.

Além da ruptura com os antigos aliados, o premiê tem sido criticado fora de Israel. No começo do mês, o presidente americano, Joe Biden, afirmou que Netanyahu pode estar protelando o fim do conflito por motivos políticos. Bibi, como o premiê é conhecido, responde a acusações de corrupção e, depois de deixar o poder, poderá ser condenado e até preso.

O premiê israelense está sendo julgado em Israel por acusações de suborno, fraude e quebra de confiança. Antes da guerra em Gaza, ele foi alvo de uma onda de protestos após o avanço no Parlamento de uma controversa reforma judicial que limita os poderes da Suprema Corte.

O conflito em Gaza, por ora, continua sem perspectiva para acabar. No mês passado, o governo de Israel admitiu que a guerra provavelmente continuará até o fim do ano. Na terça (18), as forças do país avançaram sobre Rafah, a despeito de o Conselho de Segurança da ONU ter aprovado uma resolução apresentada pelos EUA que pede um cessar-fogo no conflito iniciado em outubro.

A adoção da medida pelas Nações Unidas, no último dia 10, não tem efeito prático, mas aumentou a pressão para que Tel Aviv e Hamas cheguem a um acordo que interrompa a guerra. Trata-se da segunda vez que uma moção pedindo um cessar-fogo foi aprovada no órgão.

Com AFP

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