Descrição de chapéu guerra israel-hamas

Netanyahu dissolve gabinete de guerra e amplia seu controle sobre operação em Gaza

Medida ocorre após saída de membro moderado do órgão e em meio à pressão de aliados de ultradireita do premiê

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São Paulo

O primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, dissolveu o gabinete de guerra, afirmou a equipe do premiê ao jornal Times of Israel nesta segunda-feira (17). A medida era esperada após a saída de dois dos membros do órgão, formado por Netanyahu e outras cinco autoridades após o início do conflito com o Hamas.

Benny Gantz e Gadi Eisenkot, ambos da aliança de centro-direita Unidade Nacional, renunciaram a seus cargos na semana passada após divergências em relação ao rumo das operações militares em Gaza.

Após os ataques do Hamas no 7 de Outubro, Netanyahu buscou criar um governo unitário de emergência para conduzir o país no conflito contra o grupo terrorista. Gantz, que já foi aliado e hoje é adversário político do premiê, condicionou sua adesão à criação de um gabinete de guerra e foi atendido.

Uma vez que Gantz desmontou o governo unitário ao anunciar sua saída com duras críticas a Netanyahu, o gabinete de guerra formado como parte do acordo perdeu a razão de existir, segundo os assessores do primeiro-ministro.

O primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, aguarda início de reunião do gabinete de guerra em Tel Aviv - Brendan Smialowski - 18.out.23/AFP

A medida deve ter mais repercussões políticas do que práticas. Com a decisão, Bibi, como o premiê é conhecido, impede que a ala mais extremista do governo ganhe assentos no órgão —o que desagradaria a aliados importantes, como os Estados Unidos— e reafirma seu controle nas tomadas de decisão do conflito, que já dura oito meses.

Chefe da coalizão mais à direita da história de Israel, Netanyahu havia chamado setores moderados para compor o governo após o início da guerra. Na época, o movimento foi uma tentativa de unir um país que vivia uma grave crise política e era palco de manifestações que reuniam dezenas de milhares de pessoas.

Um dos representantes de centro no gabinete era Gantz, um ex-comandante do Exército e ex-ministro da Defesa que aparece como principal adversário de Netanyahu em pesquisas de opinião. Ao anunciar sua saída, o político cumpriu a promessa feita no fim de maio de deixar o governo de emergência caso o premiê não apresentasse um plano para o pós-guerra no território palestino.

Desde então, as discussões sobre a guerra têm sido conduzidas por Netanyahu em conjunto com seu ministro da Defesa, Yoav Gallant, e assessores próximos, disse um funcionário do governo de Israel sob condição de anonimato ao The New York Times.

A decisão desta segunda, portanto, foi simbólica e estratégica —após a saída dos centristas, o premiê enfrentava pressão para incluir nas cadeiras vagas representantes da ala de ultradireita da coalizão do governo, que inclui os ministros Bezalel Smotrich (Finanças) e Itamar Ben-Gvir (Segurança Nacional), dos partidos Sionismo Religioso e Força Judaica, respectivamente.

Ambas as siglas fazem parte do grupo de partidos extremistas que permitiu a volta de Netanyahu ao poder, em 2022. Embora tenham poucas cadeiras no Knesset, como é chamado o Parlamento de Israel, esses partidos sustentam a maioria da coligação no Legislativo e, portanto, a permanência do premiê no cargo.

Tanto Smotrich quando Ben-Gvir têm posições radicais —o primeiro afirmou, em março do ano passado, que não existe história, cultura ou povo palestinos, enquanto o segundo foi um advogado especialista em defender ativistas judeus radicais antes de entrar na política.

Decisões importantes sobre a guerra ainda serão submetidas a um gabinete de segurança que inclui os dois. O órgão, no entanto, tem mais membros do que o agora extinto gabinete de guerra, o que enfraquece as posições individuais dos políticos, ferrenhos defensores de ações mais duras na Faixa de Gaza.

Em outubro, por exemplo, Ben-Gvir afirmou que, enquanto a facção não libertasse os reféns sequestrados no ataque, "nem um grama de ajuda humanitária" deveria entrar em Gaza, só "centenas de toneladas de explosivos da Força Aérea".

O anúncio da dissolução ocorre um dia depois de o Exército de Israel afirmar que fará pausas diárias nas ofensivas militares em uma das principais estradas da Faixa de Gaza para permitir a entrada de ajuda humanitária no território palestino.

Ben-Gvir foi um dos membros do governo que disseram ter desaprovado a decisão, mas não o único. O próprio Bibi teria considerado a medida inaceitável, segundo um funcionário do governo, dando a entender que o premiê não tinha conhecimento do projeto —afirmação que soa como estratégia para manter o apoio de seus aliados de ultradireita.

Embora a saída do Unidade Nacional não tenha representado uma ameaça imediata ao governo, que controla 64 das 120 cadeiras no Parlamento, o premiê passou a depender ainda mais do apoio dos ultranacionalistas para se manter no poder.

A dissolução do gabinete, que de certa forma afronta a ultradireita, vai na contramão dessa ideia e parece refletir a confiança de Bibi após pesquisas de opinião mostrarem uma queda de popularidade do Unidade Nacional após a saída de Gantz do governo.

Uma pesquisa da Panel4All divulgada na última sexta-feira (14) pelo jornal Ma'ariv mostra que o Likud, partido de Netanyahu, reduziu a diferença de popularidade em relação ao Unidade Nacional após a saída de Gantz do governo. Mesmo assim, a atual coalizão governista provavelmente não conseguiria eleger um primeiro-ministro sem o apoio dos partidos árabes —assim como a oposição.

De acordo com o levantamento, que tem uma margem de erro de 4,4 pontos percentuais, a coligação do atual governo teria apenas 52 de 120 assentos no Parlamento em um pleito, enquanto os partidos de oposição elegeriam 58 membros.

Netanyahu, considerado por parte da população de Israel o culpado pelas falhas de segurança que permitiram o ataque de 7 de outubro, recusa-se a convocar eleições antecipadas.

A crise política que atingia o país antes da guerra continua se manifestando nos últimos meses. Protestos contra o governo e pelo retorno dos reféns são frequentes —nesta segunda, milhares de pessoas se reuniram em frente ao Knesset para pedir a antecipação das eleições e um acordo entre as duas partes do conflito.

"Não ao fascismo", gritavam os manifestantes, segundo o jornal Times of Israel, no segundo dia do que deve ser uma "semana de disrupção", segundo vários grupos de ativistas.

"Depois do que aconteceu em 7 de outubro e à luz do extremismo desse governo e da negação do seu fracasso, é necessário devolver o mandato ao povo", disse aos manifestantes a ativista Shikma Bressler, uma física que ganhou projeção nos protestos do ano passado contra a controversa reforma judicial da coalizão de Bibi.

Com Reuters e The New York Times

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