Lula critica gasto com armamentos um dia após G7 aprovar empréstimo à Ucrânia

Presidente afirma que Kiev e Moscou não vão alcançar objetivos por via militar; sobre Gaza, diz que Israel exerce vingança

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Puglia (Itália)

Um dia depois de a cúpula do G7 aprovar um empréstimo de US$ 50 bilhões para Ucrânia, para fortalecer a defesa do país contra a invasão russa, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) discursou aos líderes do grupo e criticou o gasto crescente com armamentos.

Disse que "está claro" que nenhuma das partes vai alcançar seus objetivos pela via militar e chamou de inoperantes as instituições de governança diante da realidade geopolítica.

Um homem, Lula, e uma mulher, Giorgia Meloni, ambos vestidos formalmente, estão de pé ao ar livre com um fundo de vegetação. O homem, com barba branca e terno escuro, faz um sinal de positivo com ambas as mãos. A mulher, ao seu lado, veste um blazer claro e sorri.
O presidente Lula e a primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni, na cúpula do G7 - Filippo Monteforte - 14.jun.24/AFP

Convidado pela presidência italiana do G7, cujo encontro ocorreu no resort de Borgo Egnazia, na região da Puglia (sul), Lula voltou a defender a realização de uma conferência internacional com a participação dos dois lados como única forma de impulsionar conversas pela paz.

"Já está claro que nenhuma das partes conseguirá atingir todos os seus objetivos pela via militar. Somente uma conferência internacional que seja reconhecida pelas partes, nos moldes da proposta de Brasil e China, viabilizará a paz", afirmou.

Neste fim de semana, a Suíça sedia uma conferência para discutir uma saída do conflito, mas Lula não irá participar, com o argumento de que a ausência da Rússia nas negociações não trará resultados. A diplomacia brasileira será representada no encontro por sua embaixadora em Berna, Claudia Buzzi.

Sem citar Israel nominalmente, o brasileiro criticou o andamento do conflito em Gaza, onde, segundo ele, o "legítimo direito de defesa" se transformou em "direito de vingança". Lula tem sido crítico à resposta de Tel Aviv aos ataques terroristas do Hamas. Além de classificá-la de insanidade, também a comparou aos atos de Adolf Hitler durante o Holocausto nazista —frase que gerou uma crise diplomática com Israel.

A participação de Lula foi na sessão que debateu inteligência artificial, energia, África e Mediterrâneo. Na grande mesa oval, os líderes do G7 –formado por Estados Unidos, Itália, França, Alemanha, Reino Unido, Canadá e Japão– dividiram o espaço com representantes de Turquia, Índia e Tunísia, entre outros.

Lula estava sentado entre o presidente da Argélia, Abdelmadjid Tebboune, e o canadense Justin Trudeau. Outro presente à mesa foi o argentino Javier Milei.

Tiziana Fabi - 14.jun.24/AFP
O papa Francisco e diversos líderes mundiais durante reunião na cúpula do G7 em Borgo Egnazia, na Itália - TIZIANA FABI/AFP

A grande estrela, porém, foi o papa Francisco, primeiro pontífice a participar de um G7. Em seu discurso, sobre inteligência artificial, alertou para riscos e defendeu que a ferramenta esteja a serviço das pessoas –e não o contrário. "A tecnologia nasce com um propósito e, com o seu impacto na sociedade humana, representa sempre uma forma de ordem nas relações sociais e uma disposição de poder, permitindo a uns realizar determinadas ações, enquanto a outros impede de concretizar outras."

Em referência ao tema abordado pelo papa, Lula apontou o que considera uma concentração, na área digital, "sem precedentes" nas mãos de poucas pessoas, empresas e países. "A inteligência artificial acentua esse cenário de oportunidades, riscos e assimetrias. Seus benefícios devem ser compartilhados por todos", disse. "Interessa-nos uma IA que também tenha a cara do Sul Global, que fortaleça a diversidade cultural e linguística e que desenvolva a economia digital de nossos países."

Ao falar sobre outro tópico considerado prioritário pela presidência italiana do G7, Lula afirmou que os países africanos são parceiros indispensáveis para o enfrentamento dos desafios globais e fez referência aos fluxos imigratórios e às políticas de combate ao fenômeno.

"A força criativa da juventude [da África] não pode ser desperdiçada cruzando o Saara para se afogar no Mediterrâneo. Buscar melhores condições de vida não pode ser uma sentença de morte", disse, diante da primeira-ministra Giorgia Meloni, que já defendeu um bloqueio naval no Mediterrâneo como forma de inibir a entrada de imigrantes na Itália.

Na condição de ocupante da presidência rotativa do G20, Lula incluiu em sua fala algumas das prioridades brasileiras, como o combate a fome e a taxação de grandes fortunas, que serviria de mecanismo de combate à desigualdade. "Já passou da hora de os super-ricos pagarem sua justa contribuição em impostos. Essa concentração excessiva de poder e renda representa um risco à democracia."

Essa foi a oitava participação de Lula desde 2003. Após o encerramento da sessão, Lula participou de encontros bilaterais com os presidentes Recep Tayyip Erdogan (Turquia) e Emmanuel Macron (França), o primeiro-ministro Narendra Modi (Índia), com a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e com o papa.

Tanto Modi quanto Erdogan confirmaram presença na cúpula do G20, em novembro, no Rio, e o turco pediu apoio do Brasil para entrar como membro do Brics.

Com Macron, foram discutidas ações na área da cultura e de cooperação no combate ao garimpo ilegal. O francês convidou Lula para uma visita de Estado à França. Já com Von der Leyen, o tema foi o resultado das eleições para o Parlamento Europeu e o acordo do bloco com o Mercosul.

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