Descrição de chapéu g7 aborto

Menção ao direito de aborto é retirada de documento final do G7

Texto suprime termo e fala em saúde reprodutiva; não inclusão é considerada vitória para primeira-ministra da Itália

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Puglia (Itália)

Anfitriã da cúpula do G7 e em alta após o bom desempenho na eleição do Parlamento Europeu, a primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni, travou uma disputa diplomática nos bastidores do encontro em relação à inclusão do direito ao aborto no documento final da reunião, que foi divulgado nesta sexta-feira (14).

Depois de dois dias de vazamentos de rascunhos e de desmentidos, a versão final do documento excluiu qualquer menção direta ao aborto. O tema havia sido inserido na declaração do G7 anterior, no Japão. A não inclusão no documento deste ano foi considerada uma vitória da conservadora Meloni, cuja posição teria sido criticada por diplomatas da França e da Alemanha em meio às negociações da cúpula.

Na imagem, um homem e uma mulher caminham lado a lado sob a luz do sol. O homem, vestindo um terno escuro e gravata, sorri enquanto estende o braço, parecendo guiar ou oferecer apoio à mulher. Ela, por sua vez, veste um blazer claro e olha para baixo com uma expressão serena, acompanhando o passo do homem.
O presidente francês, Emmanuel Macron, e a premiê da Itália, Giorgia Meloni, no primeiro dia da cúpula do G7; menção a aborto em documento final do encontro causa atrito entre os dois - Louisa Gouliamaki - 13.jun.24/Reuters

O texto, desta vez, menciona os "direitos sexuais e reprodutivos abrangentes para todos". "Reiteramos os nossos compromissos no comunicado dos líderes de Hiroshima relativamente ao acesso universal a serviços de saúde adequados, acessíveis e de qualidade para as mulheres, incluindo saúde e direitos sexuais e reprodutivos abrangentes para todos", diz o documento.

Em outro trecho, os signatários do documento defendem a promoção "da saúde materna, neonatal, infantil e de adolescentes, em especial aqueles que se encontram em circunstâncias vulneráveis".

No Japão, a referência era bem mais direta, com a citação da palavra: "Reafirmamos o nosso total compromisso em alcançar saúde e direitos sexuais e reprodutivos abrangentes para todos, nomeadamente abordando o acesso ao aborto seguro e legal e aos cuidados pós-aborto".

A chegada até a versão mais recente foi marcada pela troca de acusações entre os países, especialmente entre Itália e França, com pressão também dos Estados Unidos.

O que se sabe é que no início da reunião de cúpula, em algum momento, a referência ao aborto legal e seguro saiu do texto preparativo. Paris, depois seguida por outros, acusou Roma de ter atuado para suprimir o trecho. O governo italiano negou e disse que as conversas sobre a redação ainda estavam em andamento.

Diante da ameaça dos americanos de não referendar o documento, a saída encontrada teria sido o uso da expressão "direitos reprodutivos".

Nos bastidores, a direitista Meloni, que defende valores conservadores em relação ao aborto e às famílias LGBTQIA+, acusou o presidente francês, Emmanuel Macron, de estar fazendo campanha eleitoral com o texto do G7, em uma referência ao pleito legislativo, antecipado por ele após seu revés na disputa pelo Parlamento Europeu. A legenda de Macron recebeu metade dos votos da oposicionista Marine Le Pen, de ultradireita, que tem buscado se aproximar de Meloni.

Legalizado em 1975 na França, o aborto, desde que consentido até 14 semanas de gravidez, passou a ser um direito garantido na Constituição no ano passado, em uma passagem política celebrada por Macron.

Na Itália, o aborto foi legalizado três anos depois, em 1978. As mulheres podem fazer a interrupção voluntária da gravidez com até 90 dias de gestação.

Em declarações passadas, Meloni já disse não ser contra a legislação vigente na Itália, mas que defende ênfase a outro trecho da mesma lei, que fala de prevenção ao aborto.

Em abril, uma medida apresentada pelo partido da primeira-ministra e aprovada pelo Parlamento encoraja grupos ativistas contra o aborto a atuar em centros de aconselhamento familiar.

O debate em torno do aborto no G7 ocorre ao mesmo tempo em que no Brasil se discute o PL 1904, que tramita em regime de urgência na Câmara. Pelo texto, uma mulher que tiver uma gestação resultante de estupro e realizar o aborto após a 22ª semana pode vir a ter uma pena maior que a de seu estuprador.

A ideia é equiparar a punição à de homicídio simples, que pode chegar a 20 anos. A pena valeria tanto para grávidas quanto para quem realiza o procedimento. O projeto tem sido alvo de protestos de entidades de defesa dos direitos reprodutivos.

O governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) avalia o risco de se posicionar contrariamente ao projeto de lei, considerando que sua aprovação é tida como quase certa. Questionado nesta quinta (13) em Genebra, após discurso na OIT (Organização Internacional do Trabalho), Lula foi cauteloso: "Deixa eu voltar para o Brasil e tomar pé da situação", declarou.

Também nos EUA, o aborto está em debate nesta semana. Nesta quinta (13), a Suprema Corte manteve o direito de acesso a uma pílula usada para interromper a gravidez.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.