Descrição de chapéu Espanha

Justiça da Espanha barra anistia a líder separatista catalão concedida pelo Parlamento

Tribunal Constitucional mantém ordem de prisão contra Puigdemont, em decisão que pode acarretar nova crise no Legislativo e enfraquecer coalizão do premiê Sánchez

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Madri | AFP e Reuters

O Tribunal Constitucional da Espanha decidiu, nesta segunda-feira (1º), manter o mandado de prisão contra um dos principais nomes do movimento separatista catalão, Carles Puigdemont, o que pode abrir uma crise dentro do Parlamento.

O líder ocupava o cargo equivalente ao de governador da Catalunha na época em que tentou declarar a independência da região. Após o fracasso da empreitada, em 2017, fugiu para a Bélgica, e de lá para a França, em 2022.

Um homem de óculos e cabelo grisalho está discursando em um púlpito transparente. Ele está vestindo um terno escuro e camisa azul clara. O fundo é azul escuro e há um letreiro no púlpito com o texto 'PUIGDEMONT PRESIDENT'.
Carles Puigdemont, líder separatista da Catalunha, durante evento político na França - Josep Lago/4.mai.24/AFP

Agora, sete anos depois, Puigdemont acreditava que enfim poderia voltar para a Espanha. O motivo era uma lei de anistia aos independentistas catalães julgados ou condenados por sua participação na tentativa de secessão, aprovada pelo Parlamento espanhol em maio. A lei foi uma exigência dos separatistas catalães para formar uma coalizão com o socialista Pedro Sánchez e, assim, garantir os votos necessários para ele assumir um novo mandato como primeiro-ministro, em novembro passado.

A ideia era que o indulto fosse aplicado aos casos das mais de 400 pessoas processadas ou condenadas por sua atuação na época. Na semana passada, duas pessoas, um antigo membro do governo regional catalão e um policial, foram perdoadas devido à iniciativa.

Puigdemont, investigado por peculato, desobediência e terrorismo —esse último por seu suposto papel na onda de protestos na Catalunha em 2019— seria um dos maiores beneficiários da lei, por muitos considerada inconstitucional.

Mas segundo o juiz responsável pelo caso, o magistrado do Tribunal Constitucional Pablo Llarena, as condutas do líder e de dois subordinados seus à época se encaixam nas duas exceções à anistia previstas na lei recém-aprovada —aqueles que apoiaram a secessão com a intenção de ter ganhos financeiros pessoais ou cujas ações afetaram de alguma maneira os interesses financeiros da União Europeia (UE) não seriam contemplados pela norma. O processo em que Puigdemont é acusado de terrorismo corre em outra instância judicial.

Na decisão, Llarena afirma que os três desviaram dinheiro público ao realizar o referendo de independência, cujo resultado foi anulado pela Justiça espanhola. Puigdemont se defende alegando que a consulta popular não era ilegal.

O magistrado ainda argumenta que o referendo afetou os interesses financeiros da União Europeia, pois a secessão da Catalunha teria impactado a arrecadação de impostos da Espanha e sua renda nacional bruta.

A sentença também se aplica aos aliados de Puigdemont Antonio Comin e Lluis Puig, à frente das pastas da Saúde e da Cultura da Catalunha, respectivamente, na época da tentativa de independência. Os acusados podem recorrer da sentença nos próximos três dias.

Puigdemont reagiu ao anúncio da decisão com uma publicação no X em que dizia apenas "La Toga Nostra" —um trocadilho com a máfia italiana Cosa Nostra e as togas usadas pelos magistrados da máxima instância judiciária espanhola.

A sentença emitida nesta segunda pode prejudicar a frágil coalizão liderada por Sánchez. Basta o partido de Puigdemont, o Junts, retirar o apoio a projetos de lei como o Orçamento de 2025, por exemplo, que o Congresso corre o risco de chegar a um novo impasse, o que obrigaria a convocação de novas eleições.

A instabilidade política espanhola atual começou com uma expressiva derrota socialista nas eleições regionais de maio de 2023. Fragilizado, Sánchez antecipou as eleições gerais em seis meses.

Nesse pleito, o oposicionista Partido Popular (PP), de centro-direita, venceu, mas sem conseguir garantir o apoio de outros partidos para somar 176 dos 350 deputados. O líder do PP, Alberto Núñez Feijóo, tentou formar alianças, sem sucesso. Com isso, Sánchez foi autorizado a buscar uma coalizão para se manter no cargo, o que só conseguiu graças aos votos dos independentistas catalães.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.