Documento do Brasil empurra impasse sobre Gaza e Ucrânia no G20 para cúpula em novembro

Carta permite que fórum volte a ter declarações assinadas por ministros após mais de dois anos de bloqueio por causa de conflito entre Moscou e Kiev

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Rio de Janeiro

A presidência brasileira no G20 reconheceu, em carta publicada nesta segunda-feira (22), que há divergências entre os integrantes do fórum sobre as guerras na Ucrânia e em Gaza, mas disse que esse impasse será discutido nos próximos meses, em reuniões preparatórias para a cúpula de novembro no Rio de Janeiro.

No contexto da Reunião Ministerial de Desenvolvimento do G20, que ocorre nestas segunda e terça (23) no Rio, os participantes expressaram suas perspectivas sobre a Rússia e a Ucrânia e a situação em Gaza, diz o documento publicado pelo Brasil.

"Alguns membros e outros participantes consideraram que essas questões [Ucrânia e Gaza] têm impacto na economia global e devem ser tratadas no G20, enquanto outros não acreditam que o G20 seja fórum para discuti-las".

Maxim Shemetov-10.Jun.24/Reuters
O ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, durante reunião do Brics em junho, na Rússia. - Maxim Shemetov/REUTERS

"A Presidência Brasileira do G20 conduzirá a discussão sobre essas questões entre os sherpas [negociadores], nos próximos meses, em preparação para a Cúpula de Líderes do Rio de Janeiro", afirma a carta.

A publicação foi a forma encontrada para contornar um impasse que existe no G20 há mais de dois anos, desde a invasão da Ucrânia pela Rússia.

As duas últimas presidências do G20, da Indonésia e da Índia, foram marcadas por uma paralisia quase total causada pela guerra. De um lado, os Estados Unidos e seus aliados pressionavam para que todo e qualquer documento do grupo tivesse uma condenação à invasão feita pela Rússia. Moscou, como membro do G20, obviamente vetava o texto, o que impedia a divulgação de declarações oficiais por parte dos ministros.

Tanto na cúpula da Indonésia como na da Índia os presidentes conseguiram chegar a declarações de última hora para evitar a perda de credibilidade do fórum multilateral.

O cenário neste ano mudou. Por um lado, o início da guerra na Faixa de Gaza deu a países emergentes e ligados à causa palestina um argumento para dizer que EUA e aliados atuavam com seletividade ao exigir que a Guerra da Ucrânia fosse lembrada em todos os documentos do G20.

Por outro, pesou o temor de que, após dois anos de impasse, o fórum multilateral perdesse relevância.

Com a publicação da carta, foram divulgados nesta segunda-feira dois documentos na área de desenvolvimento.

O primeiro é um "Chamado à Ação do G20 sobre o Fortalecimento dos Serviços de Água Potável, Saneamento e Higiene". O segundo é a "Declaração Ministerial de Desenvolvimento do G20 para reduzir as desigualdades".

O plano do Brasil é usar o mesmo expediente para destravar a publicação dos demais documentos ministeriais do G20. Ou seja, antes de cada encontro dos ministros, uma carta semelhante será publicada, destacando que os temas sensíveis da geopolítica serão debatidos em outra oportunidade.

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