Descrição de chapéu Eleições nos EUA

Kamala Harris anuncia Tim Walz como vice na chapa do Partido Democrata

'É a honra da minha vida', diz político, que é governador de Minnesota, ao comentar candidatura em suas redes sociais

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Washington

A menos de cem dias da eleição, a candidata à Presidência dos Estados Unidos pelo Partido Democrata, Kamala Harris, completou a sua chapa ao escolher Tim Walz como vice na corrida pela Casa Branca.

"É a honra da minha vida juntar-me a Kamala Harris nesta campanha", afirmou o político em suas redes sociais na manhã desta terça-feira (6), após a notícia ser publicada em jornais americanos. "A vice-presidente Harris está nos mostrando a política do possível. Isso me lembra um pouco do primeiro dia de aula."

O governador de Minnesota, Tim Walz - JIM VONDRUSKA/Getty Images via AFP

O político de 60 anos —apenas seis meses mais velho do que Kamala, 59— é governador de Minnesota, estado do meio-oeste americano, desde 2018.

Walz estava longe de ser um dos favoritos para a vaga, mas atraiu a atenção da campanha democrata após aparições efetivas e bem-humoradas em programas de TV e eventos de arrecadação de fundos nos últimos dias. Seu trunfo mais famoso até agora foi ter cravado o rótulo de "caras esquisitos" em Donald Trump e seu candidato a vice, J.D. Vance. A alcunha viralizou.

Ex-professor e técnico de futebol americano de ensino médio, além de ter servido na Guarda Nacional Militar, Walz entrou para a política em 2006, ao vencer uma eleição para deputado de um distrito rural e dominado por republicanos há 12 anos. Sua escolha é uma forma de apelar para um eleitorado branco e moderado do Cinturão da Ferrugem.

Walz também representa uma preferência de Kamala por evitar divisões no partido. O favorito para completar a chapa era o governador da Pensilvânia, Josh Shapiro, mas ele vinha sofrendo forte oposição da ala mais à esquerda democrata por seu apoio a Israel e críticas a protestos pró-Palestina.

No Legislativo, Walz representou um distrito predominantemente rural, uma demografia que costuma pender para republicanos. Sua habilidade de ganhar o apoio desse grupo e a complementaridade que ele traz para Kamala —que construiu sua carreira na progressista Califórnia— teriam pesado para sua escolha.

Como deputado, ele também demonstrou uma inclinação moderada ao defender os interesses agrícolas, os veteranos de guerra americanos e até mesmo o direito a posse e porte de armas. Nesse período, ele chegou a estar entre os deputados mais bem avaliados pela NRA, o principal lobby pró-armas dos EUA.

No entanto, Walz mudou de posição após o ataque a uma escola na Flórida em 2018 —segundo ele, convencido por sua filha, então com 17 anos. Desde então, ele defende regras mais rígidas, como verificação universal de antecedentes e proibição de comercialização de armas semelhantes às usadas por militares, por terem alto poder letal, posições compartilhadas por Kamala. Ao mesmo tempo, ele continua se afirmando um orgulhoso caçador.

"Sou veterano, caçador e proprietário de armas. Mas também sou pai. E por muitos anos fui professor. Eu sei que a segurança básica com armas não é uma ameaça aos meus direitos. É sobre manter nossas crianças seguras", afirmou ele no X no final de julho.

Já no Executivo de Minnesota, ele ficou conhecido por conseguir emplacar uma agenda vista como o tipo de populismo que democratas precisam oferecer para o eleitor se quiserem vencer.

O político implementou, por exemplo, refeições gratuitas para alunos de escolas públicas, expandiu o acesso ao Medicaid (acesso a saúde) e facilitou a sindicalização de trabalhadores —organizações de trabalhadores, um braço forte do Partido Democrata, vinham apoiando seu nome para a Vice-Presidência.

O governador também garantiu o direito ao aborto no estado, um tema crucial na eleição deste ano.

Walz já era governador de Minnesota quando irromperam os enormes protestos após o assassinato de George Floyd, um homem negro, por um policial branco em Minneapolis, em 2020. Imagens de depredação já estão sendo compartilhadas por republicanos nas redes sociais para criticar o vice na chapa democrata como alguém incapaz de manter o controle sobre seu estado.

Sua escolha pode ajudar a atrair o eleitor independente ou mesmo conservador, mas é principalmente uma decisão de Kamala para permanecer em território seguro. Para analistas, a imagem de "vovô legal do meio-oeste" projetada pelo político não atrapalha a democrata, mas tampouco ajuda muito a sua campanha.

Já a Minnesota de Walz não é um estado que vá fazer diferença na eleição deste ano. Democratas, no entanto, esperam que o governador tenha apelo com os vizinhos do meio-oeste Michigan e Wisconsin. É a mesma área em que Donald Trump mirou quando escolheu J.D. Vance para ser seu vice.

Nos últimos dias, Walz chamou a atenção ao adotar uma tática simples e rapidamente abraçada pela campanha de Kamala contra Trump: chamar os adversários de "esquisitos". O termo começou a ser usado após uma entrevista do democrata no final de julho.

"Os adversários são estranhos: eles querem tirar livros, querem estar com você na sala de exame", disse ele na ocasião, em referência à censura de livros e restrição dos direitos reprodutivos das mulheres, medidas que republicanos têm apoiado nos últimos anos.

Walz também critica a imagem de Trump e Vance como defensores da classe média. "Eles continuam falando sobre a classe média. Um magnata ladrão do setor imobiliário e um capitalista de risco tentando nos dizer que entendem quem somos? Eles não sabem quem somos", disse Walz em uma entrevista à MSNBC.

"Ele não é o cara mais carismático, mas é uma mão firme. É muito cuidadoso, muito simpático. Ele fez um trabalho muito bom de construção de uma ampla coalizão de apoio. Essa é a força central de Tim Walz", disse à CNN o estrategista democrata Raghu Devaguptapu, ex-diretor de política da associação de governadores democratas, presidida por Walz.

De acordo com uma pesquisa divulgada em agosto pelo instituto Marist Poll, pela rádio NPR e pela emissora PBS, a maioria dos americanos, incluindo democratas, não tem uma opinião positiva sobre o político —mas tampouco o vê de forma negativa.

Segundo o levantamento, 71% dizem não ter certeza se ouviram falar sobre Walz ou afirmam que não o conhecem —entre os democratas, a proporção é de seis em cada dez eleitores. No geral, apenas 17% têm uma opinião favorável em relação ao político, contra 12% que têm uma impressão negativa.

Com Reuters

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