Chicago oferece o mesmo ar cosmopolita de Nova York, mas com menos muvuca

Terceira maior metrópole americana, cidade do Meio-Oeste atrai turista que busca cultura e boa comida

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Trem cruza ponte que corta o rio Chicago, na região central da metrópole americana

Trem cruza ponte que corta o rio Chicago, na região central da metrópole americana Nolis Anderson/The New York Times

Chicago

Sentado diante de cinco copos de cerveja artesanal produzida no galpão ali atrás, Robert Finkel lança mão de uma analogia sonora para comparar a cidade que adotou e aquela em que nasceu.

"Chicago é como Nova York, mas em sistema Dolby, isto é, sem os extremos altos e baixos", diz ele, que largou o mundo corporativo e abriu a Forbidden Roots, cervejaria de inspiração botânica nos arredores de West Town, reduto moderninho na terceira maior metrópole americana.

Comparações como essas são comuns por aqui. Com cerca de um quarto da população de Nova York e metade da de Los Angeles, a cidade do Meio-Oeste guarda um tanto do mesmo ar cosmopolita da megalópole do Atlântico, mas com muito menos muvuca e armadilha para viajantes.

É uma alternativa para quem quer experimentar a vida urbana nos Estados Unidos, mas com menos perrengue. Até porque, convenhamos, aquele charme da Manhattan suja e esfumaçada, plasmado por Martin Scorsese e Woody Allen, já morreu e foi substituído por esquinas atulhadas de turistas.
Em compensação, em Chicago dá para curtir numa boa mesmo as atrações mais populares do cardápio sem precisar gastar horas num fila.

É o que acontece, por exemplo, na Willis Tower, prédio da década de 1970 que por mais mais de 20 anos foi o mais alto do mundo e de onde se tem uma vista de 360º de toda a metrópole e do lago Michigan —em dias mais claros, dá até para ver uma pontinha do vizinho estado de Indiana. Ingressos para adultos custam a partir de US$ 32 (R$ 161) e dão direito a entrar num dos cubos de vidro, suspensos no 103º andar.

No térreo, o caminho até os elevadores já funciona como uma espécie de cartão de visita para a cidade. Estão ali, espalhadas pelas paredes, imagens e explicações sobre ícones locais, como Oprah Winfrey e o casal Obama, além das iguarias tradicionais dali, caso do hot-dog com salsicha bovina e da Deep Dish Pizza.

Vista aérea do lago Michigan, em Chicago
Vista aérea do lago Michigan, em Chicago - Lyndon French/The New York Times

O edifício John Hancock, não muito longe, também oferece um tiquinho de vertigem, do alto do seu 94º andar. Mas ali, a plataforma se move, inclinando-se para fora num ângulo de 30º —a atração custa US$ 10 (ou R$ 50,30) além da entrada para o prédio, que sai por US$ 30 (R$ 151). Para os menos corajosos, dá para aproveitar o panorama enquanto se bebe uma Mimosa no Cloud Bar, também na cobertura, ou até fazer ioga com vista para o topo dos arranha-céus.

Por falar em arranha-céus, e Chicago é cheia deles, vale voltar um pouquinho na história.

Por volta de meados do séculos 19, a cidade já era um entreposto importante devido à sua localização estratégica, ligando a costa leste ao oeste então era desbravado —não à toa, já era o mais importante hub do nascente sistema rodoviário dos Estados Unidos. Mas em 1871 ocorreu um incêndio que praticamente destruiu tudo. Reza a lenda que a vaca leiteira de uma imigrante irlandesa chutou um lampião, e aí as chamas se espalharam.

Os esforços de reconstrução incentivaram o afluxo de arquitetos e engenheiros que fizeram ali experimentos com construções de aço, dando origem aos primeiros espigões em todo o mundo, que despontaram na virada do século. De fato, a imagem que fica até hoje da cidade é de suas altíssimas estruturas de ferro, seja nas pilastras do sistema de trens urbanos ou nas pontes sobre o rio —que, aliás, era poluidíssimo até que tomassem a decisão de mudar o seu curso e escoar a sujeira para o sul.

O rio Chicago, na região central da metrópole americana
O rio Chicago, na região central da metrópole americana - Alyssa Schukar/The New York Times

Entusiastas de arquitetura podem optar por um dos vários passeios de barco pelo curso fluvial, que partem da região central. A linha CAFC River Cruise, por exemplo, conduz um trajeto de uma hora e meia em parceria com o Chicago Architecture Center.

Por US$ 54 (R$ 272), dá para ter uma boa noção dos estilos das construções, como o art déco e seu rigor geométrico e os caixotões de ferro e vidro de Mies van der Rohe. É quase como navegar num cânion, mas cercado por arranha-céus. E dá para imaginar o que poderia ser de São Paulo se a cidade finalmente limpasse os seus rios.

Com formato de feijão, a escultura de aço "Cloud Gate", de Anish Kapoor, ponto mais fotografado de Chicago, está em reforma e vai reabrir em 2024. Mas quem gosta de arte encontra abrigo ali perto, no Art Institute (US$ 32 a entrada, ou R$ 161), museu que é dono de um acervo digno de capital mundial. Há representações rupestres, ruínas de civilizações mediterrâneas, artefatos indígenas e africanos e telas de medalhões como Van Gogh, Picasso e Gauguin.

Foi nesse museu que Ferris Bueller, protagonista do filme "Curtindo a Vida Adoidado", matou aula com os amigos. Por sinal, John Hughes, diretor do clássico da Sessão da Tarde, costumava dizer que o longa era uma homenagem à metrópole do Meio-Oeste, sede de uma penca de produções hollywoodianas.

Amantes de séries e cinéfilos podem encontrar por ali os restaurantes da premiada "O Urso" e a escadaria da Union Station, onde Eliot Ness e seus homens trocaram tiros com os capangas de Al Capone em "Os Intocáveis", de Brian De Palma.

Mais famoso gângster da história, Capone deixou suas marcas por ali, na época em que contrabandeava álcool durante a Lei Seca, nos anos 1920 e 1930. Hoje, a empresa Chicago Crime Tours oferece passeios guiados a partir de US$ 40 (ou R$ 201) a quem quer conhecer pontos como o local onde sete rivais do mafioso foram metralhados no Dia de São Valentim —lembrança de quando a cidade era uma das mais violentas do mundo.

Vêm mais ou menos dessa época as raízes de outro grande legado cultural da cidade, o blues de Chicago. Marcado pelo uso de instrumentos elétricos, ele foi desenvolvido com a chegada em massa de negros vindos do sul segregacionista e teve em Muddy Waters e Willie Dixon os seus representantes mais famosos.

Nat King Cole, no jazz; Sam Cooke e Curtis Mayfield, no soul; Patti Smith e Wilco, no rock; e Kanye West, no rap, são outros dos nomes que ganharam impulso em Chicago. O Tortoise Supper Club traz shows ao vivo de jazz todas as noites para acompanhar o jantar refinado ou o coquetel no balcão sob luz baixa.

Fotos de Al Capone de quando ele foi preso
Fotos de Al Capone de quando ele foi preso - Biblioteca do Congresso dos EUA/Reprodução

Quem preferir um outro tipo de palco pode se dirigir ao Second City, clube de comédia que formou
Bill Murray, Tina Fey, Jordan Peele, Amy Poehler, John Candy, Steve Carell e toda uma escola de humor calcada na improvisação. As apresentações, com aspirantes a comediantes ou nomes já consolidados, acontecem todas as noites.

O nome do clube ("segunda cidade") não deixa de ser uma autogozação de Chicago com o apelido dado a ela pelo jornalista nova-iorquino A.J. Liebling, que costumava dizer que a cidade dos ventos jamais seria tão grandiosa quanto a sua cidade natal.

Mas eis que os tempos passaram e o Second City, um dos maiores ícones de Chicago, abriu filial até mesmo em —quem diria— Nova York.

DICAS GERAIS PARA APROVEITAR CHICAGO

Como chegar
A companhia aérea United Airlines oferece voos direto de São Paulo para Chicago a partir de R$ 5.749 (incluindo taxas de embarque), mas a cidade americana também é muito bem guarnecida de voos domésticos

Como aproveitar
ma opção de desconto para quem deseja conhecer várias atrações é o City Pass, que por US$ 134 (R$ 675), oferece agendamento e entrada livre em diversos lugares

O QUE COMER EM CHICAGO

Deep Dish Pizza
A pizza no estilo de Chicago mais parece uma torta, de tão robusta, e vem com doses cavalares de queijo derretido e molho de tomate. De tão farta, é ideal para comer em grupo, já que uma única fatia basta para saciar a fome. A rede Giordano's é famosa por servi-la

O hot dog de Chicago, feito com salsicha bovina, picles, tomate e pimentão
O hot dog de Chicago, feito com salsicha bovina, picles, tomate e pimentão - Rachel Vanni/The New York Times

Hot Dog
Servido num pão com semente de papoula, tem como recheio picles, cebola, pedaços de tomate e pimentão, além da salsicha bovina. Ketchup é vetado no sanduíche --nativos olham feio se um estrangeiro pede o condimento. Está disponível em redes como a Portillo's

PESSOAS NOTÁVEIS DE CHICAGO

Al Capone
O gângster nasceu em Nova York mas usou a localização estratégica de Chicago para construir seu império de contrabando de bebida durante a Lei Seca. Há passeios guiados que mostram locais de seus crimes mais célebres

Barack Obama
O ex-presidente americano construiu a sua carreira em Chicago e nela fez os seus dois discursos da vitória, quando foi eleito e reeleito. O futuro Obama Presidential Center, que terá museu e parque, será construído na porção sul da cidade

O ex-presidente americano Barack Obama faz discurso de despedida em Chicago, em 2017
O ex-presidente americano Barack Obama faz discurso de despedida em Chicago, em 2017 - Shen Ting/Xinhua

Michael Jordan
O ídolo que marcou o basquete nos anos 1980 e 1990 fez do Chicago Bulls uma verdadeira potência. É fácil encontrar artigos do time, como bonés e camisetas, em praticamente qualquer loja que vende souvenir na cidade

Oprah Winfrey
Com seu jeito despachado, a apresentadora ganhou fama a partir dos anos 1980, conduzindo um talk show que estreou nas rádios e migrou para a televisão, indo aao ar a partir de Chicago e se tornando um fenômeno em todo o país

O jornalista viajou a convite da United Airlines e da Choose Chicago

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