Zelenski decide cancelar reunião com líderes da América Latina após risco de esvaziamento

Presidentes da região, entre eles Lula, foram convidados para encontro com ucraniano em Nova York, à margem da Assembleia-Geral da ONU

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Brasília

O risco de esvaziamento levou o governo da Ucrânia a decidir cancelar uma reunião que o presidente do país, Volodimir Zelenski, planejava realizar em Nova York com líderes da América Latina.

A ideia da reunião era mostrar um apoio simbólico de governos da região a Kiev diante da guerra contra a Rússia. Os convites foram enviados, mas Kiev decidiu rever os planos devido ao baixo número de confirmações. Agora, a ideia é tentar realizar um encontro semelhante só em 2025.

O episódio mostra como o conflito no Leste Europeu é um tema que divide a América Latina, onde muitos países adotam posições ambíguas e evitam criticar frontalmente a ação militar ordenada por Vladimir Putin.

O presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski - Heiko Becker/Reuters

O governo ucraniano enviou convites no fim de agosto a presidentes latino-americanos para o que seria um evento de alto nível paralelo à Assembleia-Geral da ONU, que começa na próxima terça (24). A equipe de Zelenski havia proposto que a reunião ocorresse na véspera.

Kiev descreveu o objetivo do encontro aos possíveis participantes como "uma plataforma apropriada para que Zelenski apresente pessoalmente aos líderes da América Latina e do Caribe informações relevantes e confiáveis sobre a guerra lançada pela Federação Russa".

Ainda segundo o convite, o ucraniano falaria "sobre a necessidade de juntar forças na defesa de regras e princípios fundamentais da lei internacional, cuja violação também significa uma ameaça para a América e para o Caribe" e "sobre a possibilidade de países da região participarem na reconstrução da Ucrânia após a guerra".

Junto ao convite para o evento em Nova York, o governo da Ucrânia afirmou que seu objetivo seria elevar as relações com a América Latina a um novo nível. Também afirmou querer encorajar países da região a participarem ativamente na implementação da fórmula de paz proposta por Zelenski —um conjunto de exigências para negociar o fim do conflito rejeitadas por Putin.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi um dos convidados, mas Kiev já contava com a sua ausência —o petista sempre adotou distância de Zelenski, e suas declarações têm sido criticadas pela Ucrânia, como quando disse que os dois lados eram culpados pela guerra.

Os ucranianos receberam poucas confirmações de presença, sendo uma delas a do presidente Bernardo Arévalo (Guatemala). Diante disso, a avaliação foi a de que o momento não era adequado e que era preciso evitar uma situação possivelmente interpretada como falta de apoio.

As divisões que a Guerra da Ucrânia causam na América Latina ficaram evidentes na cúpula sobre o tema que a Suíça organizou em junho. Na ocasião, 11 governos da região participaram, mas nem todos foram representados por chefes de Estado —entre os líderes presentes estavam Javier Milei (Argentina), Gabriel Boric (Chile), Daniel Noboa (Equador) e o guatemalteco Arévalo.

O governo Lula esteve apenas como observador e não assinou a declaração final. Representado por sua chanceler, Alicia Bárcena, o México tampouco endossou o documento. Já Gustavo Petro, da Colômbia, cancelou sua viagem de última hora.

Zelenski tem apoio consolidado no G7 e na Otan na guerra contra a Rússia, mas tem tido menos sucesso em suas ações diplomáticas no chamado Sul Global (países em desenvolvimento).

A situação com o Brasil, maior economia da América Latina, é especialmente conturbada. Lula iniciou seu terceiro mandato com ambição de protagonizar algum papel de mediador no conflito, mas já nos primeiros meses foi alienado pelo Ocidente por declarações consideradas alinhadas ao discurso de Putin.

Em maio de 2023, Lula e Zelenski participaram como convidados da cúpula do G7 em Hiroshima (Japão), mas uma aguardada reunião entre os dois não ocorreu. As duas partes se acusaram mutuamente pelo desencontro.

Meses depois, em setembro daquele ano, os dois líderes se reuniram numa bilateral à margem da Assembleia-Geral da ONU, em Nova York. Mas o encontro não serviu para diminuir as desconfianças de ambas as partes.

Na mais recente ação diplomática do Planalto sobre o tema, o assessor internacional de Lula, Celso Amorim, assinou durante uma viagem a Pequim um documento conjunto com a China no qual são apresentados seis pontos que, na visão sino-brasileira, deveriam ser observados na construção de um processo de paz. Dessa vez, coube à Ucrânia rejeitar os termos da proposta, classificada por Zelenski de destrutiva.

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