Nas periferias de São Paulo, blocos infantis ganham as ruas com fantasias, marchinhas e criatividade

Ações voltadas para crianças também se espalham nas periferias de SP

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Lucas Veloso
SÃO PAULO/AGÊNCIA MURAL

‘Mamãe, eu gostei muito, tá?’, ‘Bem legal’, ‘divertido’ e ‘’alegre’. As expressões foram usadas por Sara Silva, 7, e Laura Lima, 3, para descrever suas primeira experiências com blocos de Carnaval. 

No ano passado, Sara foi com os pais na edição do Bloco do Beco, tradicional na zona sul da cidade, no Jardim Ibirapuera. 

Na onda da ampliação de blocos nas periferias, também têm surgido mais exemplos de folias voltadas para as crianças.

Na zona leste, por exemplo, o casal Eduardo Souza, 27 e Flávia Lima, 25, são os pais da Laura. Moradores de Guaianases, na zona leste de São Paulo, desde o ano passado, eles têm o costume de levar a filha a blocos de carnaval.

Bloco Cordão do Congo atua na zona norte da cidade em regiões como Brasilândia e Morro Grande. Crédito - Léu Britto / DiCampana Foto Coletivo

A escolha é feita de acordo com a distância. Eles preferem os que estão mais perto de casa para não cansar muito a filha. Neste ano, foram para o Bloco Infantil Samba Tetê é um dos braços do projeto social VerdeRosa, que atua com as crianças na comunidade Chaparral, no entorno do CEU Tiquatira, no distrito da Penha, na zona leste.

Um dos objetivos é que os alunos do curso de percussão se tornem a bateria infantil e oficial do bloco a partir do ano que vem.

“A ideia é tornar o bloco uma grande comemoração, uma forma dessas crianças se sentirem importantes e protagonistas”, define a designer gráfica e arte educadora Cynthia Martins Arcangelo, 36, uma das organizadoras. 

“Queremos mostrar às crianças que elas podem e devem ser parte da cidade como agente transformadoras da sociedade, por direito”. 

No ano passado, houve a participação de cerca de cem crianças na festa. No sábado (22), com ajuda de parceiros, o grupo vai oferecer brinquedos de bambu, brincadeiras de rua, bolhas de sabão e interação musical para entreter os pequenos.

Bloco Cordão do Congo atua na zona norte da cidade em regiões como Brasilândia e Morro Grande - Léu Britto / DiCampana Foto Coletivo

Para Cynthia, o ano passado foi importante para o grupo da organização. “Entendemos que para colocar um bloco na rua é preciso ser atuante, indo em reuniões, estudando a legislação e manuais, além de exigir direitos e respeito. Um ano de muito aprendizado”, resume.

Ela incentiva as famílias que têm dúvidas em levar os filhos para pular o carnaval. “A festa é uma ótima oportunidade de vivenciar a cidade e a comunidade onde mora”, diz. “Uma ótima chance de mostrar a cultura brasileira a elas”. 

Outro bloco infantil que tem se consolidado é o Urubozinho, na Freguesia do Ó, zona norte de São Paulo. Idealizado pelo farmacêutico Leandro Freire Gil, 41, ele lembra que o bloco para as crianças surgiu de uma reclamação. 

Em 2010, primeiro ano do Urubó, bloco tradicional na região, sua irmã avisou que a sobrinha não conseguiu acompanhar o cortejo. A partir daí, ele criou a versão infantil do bloco. Hoje, o Urubozinho sai na parte da manhã, nos mesmos dias que a ‘versão adulta’. 

Bloco Cordão do Congo atua na zona norte da cidade em regiões como Brasilândia e Morro Grande - Léu Britto / DiCampana Foto Coletivo

A ideia ganhou repercussão e chega a atrair uma média de 5.000 crianças, segundo os organizadores. 
Gil, pai de Leandro, 4, e Bernardo, 3, avalia que a importância do bloco está no resgate das tradições do carnaval aos mais novos.

“Acho que dar essa referência para eles é essencial, ainda mais na periferia, onde as crianças precisam acessar opções de qualidade, e ouvir marchinha com músicos bons, de forma gratuita”, exemplifica. 

Outros blocos têm buscado acrescentar ações nos festejos. “A participação dos pequenos é essencial para o sucesso do bloco”, afirma Alair Junior, criador do Bloco do Jatobá, em Itaquera, na zona leste.

Ele conta que realizou diversas ações para envolver as crianças na folia, como oficina de construção de instrumentos de percussão infantil, concurso de fantasias e decoração do espaço onde é a concentração.
 

Os versos da música oficial do bloco seguem essa ideia: “Jatobá / O carnaval vai começar / Ele faz besteira/ Ele é trapalhão/ Ele é zaroio de bom coração/”.
 

Na zona norte de São Paulo, o Cordão Carnavalesco Samba do Congo homenageia os antigos carnavais.

Por conta disso, muitos pais gostam de levar os filhos para os eventos, como é o caso da secretária Elaine Oliveira, 35, que há três anos leva sua filha Olívia, 5. 
 

O bloco sai das ruas da Brasilândia e do Morro Grande, com marchinhas e sambas paulistas como nos antigos carnavais. 
 

Para a mãe, nas periferias há poucas opções para as crianças e os blocos são alternativas nesta época do ano.

"Aqui perto de casa não tem uma praça ou um parquinho para ela brincar, por isso, quando tem manifestações na rua, acho que é um boa alternativa para ela". 
 

O QUE USAR NAS CRIANÇAS?

Ao indicar acessórios e fantasias que os pais podem colocar nos filhos, Cynthia indica usar a criatividade.

“Caixas de papelão, fitas e tampa de garrafa podem se transformar em uma bela máscara”, diz.

“Ou uma camiseta branca, um short preto e um rolo de papelão pode ser um pirata com sua luneta”. 

Bloco É Di Santo teve atividades para crianças neste mês, na zona sul da capital - Weslley Tadeu/DiCampana Foto Coletivo

Para ela, criatividade, imaginação e alegria são as palavras-chave para pensar nas melhores fantasias.

Alair pontua o contato com a cultura popular na vida das crianças. “Música, dança, e arte no geral devem fazer parte do processo de construção da infância”, declara. 

Quando o assunto é fantasia, ele concorda com Cynthia sobre a criatividade.

“Super heróis são sempre legais, mas acredito que, com uma boa criatividade e um material básico, os papais podem viajar na imaginação e criar a fantasia ideal”, afirma.


“Incentivem e levem os filhos para pular Carnaval nos blocos de seu bairro”, incentiva Alair. “Ah, e pulem com eles!”.
 

ONDE IR
Urubozinho, zona norte Sábado, 22 de fevereiro, às 9h na Freguesia do Ó
 

Bloco do Beco, Jd. Ibirapuera, zona su lSábado, 22 de fevereiro, às 12h
 

Bloco Infantil Samba Tetê, zona leste Domingo, 23 de fevereiro, às 14h

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