Difícil apontar a declaração mais desastrada cometida pelo secretário estadual da Educação de São Paulo, José Renato Nalini, em entrevista a esta Folha.
Declara-se um outsider, um estranho no mundo pedagógico. Critica o programa oficial da pasta que, em tese, comanda há dois anos. Isenta o governo de responsabilidades pela melhoria do desempenho dos estudantes.
É um espanto que se trate do responsável pela área na gestão de um dos principais pré-candidatos à Presidência, em um país que tem o ensino público como uma de suas principais carências.
Em desacordo com a política educacional do estado, Nalini não obteve respaldo para fazer mudanças ou foi incapaz de promovê-las.
Critica o sistema de incentivos para professores na forma de bônus, em coro com teses rasteiras do sindicalismo; rejeita, também, o sistema de avaliação de alunos.
Seria possível criticar de modo fundamentado e propositivo os dois programas, que este jornal considera meritórios. Em vez disso, o secretário recorre a jargões vazios e diletantismos.
A avaliação seria ruim porque não mede “competências socioemocionais”, mas apenas a memória de jovens adestrados.
Fosse este o problema, que se propusessem exames complementares. Mas tudo não parece passar de subterfúgio para eximir o poder público de responsabilidade pelo número ainda alto de crianças e adolescentes com desempenho insatisfatório.
Mais avaliação, afirma, seria inútil. Do modo como está, o sistema já não contribuiria para uma “educação mais humana” —promoveria tão somente um espírito mais competitivo, o que já seria ensinado pelo consumismo.
Nenhuma palavra, portanto, sobre o motivo do despreparo dos estudantes, a não ser um pretenso humanismo com ecos de teses sindicais contra a meritocracia.
Os estudantes da rede de educação de São Paulo apresentam, decerto, os melhores resultados nacionais. Difícil que fosse muito diferente, dados os recursos humanos e materiais do estado.
Desde 2007, porém, os progressos correm quase no mesmo ritmo do restante da Federação. Além do mais, a média paulista não difere tanto assim da brasileira —e o país apresenta desempenho deprimente em testes internacionais.
Mas isso não importa, desconversa o secretário, que tem a impressão, empírica e não científica, de que os alunos progridem. Quando não o fazem, será culpa talvez das famílias, da sociedade adormecida e da avaliação desumana.
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