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Marcha insensata

Nos EUA, vai se desfazendo a crença de que o desenvolvimento chinês resultaria em abertura política

Os presidentes dos EUA, Donald Trump, e da China, Xi Jinping, em novembro de 2017
Os presidentes dos EUA, Donald Trump, e da China, Xi Jinping, em novembro de 2017 - Nicolas Asfouri/AFP

Os Estados Unidos deram novo passo na escalada de tensões no comércio global. Depois de elevar as tarifas de importação de aço e alumínio, o presidente Donald Trump decidiu impor sanções sobre até US$ 60 bilhões em compras anuais de produtos da China.

A razão alegada são violações de propriedade intelectual em setores considerados sensíveis para a segurança nacional americana.

Na visão dos EUA, o gigante asiático adota práticas desleais para obter segredos tecnológicos de empresas estrangeiras, como preço de entrada no mercado local.

Espera-se que as restrições recaiam sobre itens de alta tecnologia, segmento em que os chineses começam a desafiar a primazia ocidental: maquinário de precisão, equipamento aeronáutico, inteligência artificial, telecomunicações, biotecnologia, entre outros.

Não por acaso, vários deles constam do plano "Made in China 2025", que detalha a estratégia do governo de Xi Jinping em busca de protagonismo global.

Para todo o mundo, o perigo é uma espiral de retaliações. No âmbito estritamente comercial, a nação emergente tem mais a perder, ao menos de imediato.

Ela exporta aos EUA o equivalente a 4% de seu Produto Interno Bruto, contra apenas 1% do PIB do lado inverso. No comércio bilateral, o déficit americano é de cerca de US$ 375 bilhões ao ano.

Mas Pequim dispõe de outras armas na disputa, como a possibilidade de dificultar a ação de empresas americanas em seu território. Pode ainda abalar o mercado financeiro com a venda de títulos da dívida do rival, seu devedor.

Por ora, contudo, a reação foi moderada. Apesar da retórica contundente, o governo chinês anunciou que poderá impor sanções sobre não mais de US$ 3 bilhões em produtos americanos.

Divulgou também que não deseja um conflito aberto e que admite rever algumas normas para acesso a seu mercado.

A postura se mostra pragmática, dada a importância de manter os canais restantes de negócios com os EUA e, sobretudo, com os demais parceiros. Tudo indica, entretanto, que a competição entre as duas potências continuará.

Do lado americano, histrionismo de Trump à parte, vai se desfazendo a crença de que o desenvolvimento chinês resultaria em abertura política. A China, por seu turno, pode retroceder na aderência às regras do multilateralismo erguidas pelo Ocidente.

Os riscos são crescentes, portanto, ainda que não haja guerra comercial formalmente declarada.

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