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Cláudio Tucci Junior: Parceria para ressocializar

Melhora do sistema penitenciário passa pela privatização

Instalações do Complexo Penitenciário Anísio Jobim (Compaj), em Manaus, após rebelião que resultou na morte de 56 presos, em janeiro de 2017
Instalações do Complexo Penitenciário Anísio Jobim (Compaj), em Manaus, após rebelião que resultou na morte de 56 presos, em janeiro de 2017 - Marlene Bergamo - 14.jan.17/Folhapress

Em meados do século 18 foi instituída a pena privativa de liberdade, abolindo-se as punições mais cruéis e desumanas. Passados 300 anos, o encarceramento cresceu de tal maneira no Brasil que o número de presos atingiu 726 mil pessoas, a terceira maior população carcerária do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos e da China.

A falta de estrutura, a superlotação e as mazelas no sistema penitenciário brasileiro são alvo de intenso debate, mas pouca ação por parte do governo brasileiro, inclusive quando ocorrem rebeliões como a de abril, no Pará, onde cinco presos foram mortos, e as que deixaram 126 presos mortos há mais de um ano nos estados de Roraima, Amazonas e Rio Grande do Norte.

Atualmente, há uma grande articulação do crime organizado atuando no sistema penitenciário brasileiro, o que dificulta qualquer abordagem de efeito ressocializador.

O planejamento e a gestão da área de segurança pública requerem de forma urgente um novo universo penitenciário. Nesse sentido é que a iniciativa privada pode auxiliar com uma gestão enxuta e eficiente na melhoria da infraestrutura penitenciária, administração e recuperação dos presos.

Como o Estado brasileiro encontra dificuldades em administrar o sistema penitenciário, a proposta de privatização também ajudaria os estados a respeitar o teto estabelecido pelos gastos públicos, conforme emenda constitucional n° 95, de 15 de dezembro de 2016, que dispõe sobre o novo regime fiscal.

Com essa guinada na condução da política penitenciária, haverá economia e maior eficiência na construção e manutenção das unidades prisionais, possibilitando alocar a sobra de recursos em educação, saúde, infraestrutura, além da própria segurança pública.

O setor público conta, ainda, com fundos de investimento que podem ser instituídos como garantia à iniciativa privada para a construção de presídios, como é o caso do Funpen (Fundo Penitenciário Nacional), que ano a ano é contingenciado devido à incapacidade e morosidade dos estados em apresentar projetos executivos que preencham os requisitos técnico, operacional e legal.

A gestão de presídios pela iniciativa privada não é uma experiência inexistente no país. Em 2008, o governo do estado de Minas Gerais lançou, pela primeira vez no Brasil, uma PPP (Parceria Público-Privada) destinada à construção, operação e manutenção de sete unidades prisionais em Ribeirão das Neves, região metropolitana de Belo Horizonte.

Nesse modelo, o Estado paga por mês à empresa privada cerca de R$ 2.100 por cada detento, valor 25% inferior ao custo de manutenção dos presos no setor público. Além da economia, os resultados são superiores às unidades administradas pelo governo em diversos índices, inclusive de rebeliões. A empresa privada opera serviços de manutenção e de apoio ao detento como educação básica e média, cursos profissionalizantes, recreação esportiva, alimentação, assistência médica, odontológica, jurídica, psicológica, religiosa, vigilância interna e espaço mínimo por detento.

O aumento da população carcerária, aliada à falta de recursos públicos para a aplicação no sistema prisional, é uma equação que aumenta sua complexidade a cada ano. Por esse motivo, urge a necessidade de desenvolver uma política criminal penitenciária voltada à gestão das garantias fundamentais do aprisionado, dando a ele a oportunidade de um retorno à sociedade, mas com o uso racional e eficiente dos recursos. Esse caminho passa necessariamente pela iniciativa privada.

Cláudio Tucci Junior

Advogado, coordenador do MBA em Políticas Públicas e Governo na FipeE/USP e professor do curso de segurança pública na Universidade Santa Cecília; ex-secretário-adjunto de Administração Penitenciária de São Paulo

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