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Violência na fronteira

Agressões contra venezuelanos envergonham o país, que tem larga tradição de receber imigrantes

Moradores de Pacaraima, em Roraima, atacaram imigrantes venezuelanos, que foram expulsos das tendas que ocupavam na região
Moradores de Pacaraima, em Roraima, atacaram imigrantes venezuelanos, que foram expulsos das tendas que ocupavam na região - Avener Prado/Folhapress

As agressões contra imigrantes venezuelanos em Pacaraima (RR), no sábado (18), envergonham o país.

Por mais que se compreendam as tensões sociais exacerbadas pelo influxo contínuo de refugiados, não há como relevar o recurso à violência para expulsar famílias que deixaram tudo para trás, empurradas pelo desespero.

É impossível minimizar o desastre social, econômico e político que se abate sobre a nação vizinha, sob o jugo do ditador Nicolás Maduro.

Fome, desabastecimento, repressão e criminalidade urbana impulsionam a busca por uma vida melhor, ou pela simples sobrevivência. Nada diverso dos motivos que levaram pioneiros de outras regiões brasileiras a povoar Roraima, poucas décadas atrás, se bem que não sob ameaça de uma guerra civil.

Um estado não pode arcar sozinho com o inegável ônus representado pela onda de venezuelanos. Os sistemas de saúde e segurança pública, numa região pobre, são despreparados para lhe fazer frente. O governo federal deve agir, com mais decisão.

O Brasil tem larga tradição de receber imigrantes. Há que mantê-la, o que não se separa da responsabilidade de organizar o fluxo, sem atenção para considerações miúdas quanto a interesses de política provinciana em ano eleitoral.

Parece duvidoso que o envio de 120 policiais da Força Nacional de Segurança Pública possa dar conta da emergência. Compete ao Planalto montar um plano para reencaminhar os imigrantes às demais unidades da Federação e a logística necessária para efetivá-lo de forma mais expedita.

Não tem cabimento o novo pedido do governo estadual ao Supremo Tribunal Federal para que se feche a fronteira entre Brasil e Venezuela. Fez bem a Advocacia-Geral da União em pedir ao STF que volte a negar a demanda da governadora Suely Campos (PP).

Tampouco há razão defensável para erguer obstáculos artificiais à entrada de venezuelanos, como exigir atestados de vacinação. O surto de sarampo em Roraima diz mais sobre a deficiente imunização no lado brasileiro, precariedade sem a qual os casos importados da doença não se propagariam.

Atribuir a violência aos recém-chegados, igualmente, não se sustenta em fatos, ainda que episódios isolados possam ocorrer. Roraima já enfrentava guerra sangrenta entre facções nacionais do tráfico.

A primeira preocupação deve ser evitar que a escalada de tensão degenere em uma voga xenófoba, mesmo porque nada indica que os venezuelanos encontrem em breve incentivos para deixar de fugir.

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