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Marcelle Chauvet

É grande o risco de recessão já em 2019? NÃO

Tudo bem até ano que vem

A economista Marcelle Chauvet, durante entrevista à Folha em Brasília - Pedro Ladeira - 14.ago.17/Folhapress

Após sofrer uma das mais profundas recessões econômicas da história, o Brasil passa por uma recuperação lenta e delicada. No passado, recessões profundas também foram seguidas de recuperações lentas, mas estas demoraram em torno de sete trimestres para se transformarem em uma plena expansão. 

Neste terceiro trimestre de 2018 completam-se 7 trimestres desde o fim da recessão, mas ainda não estamos perto de alavancarmos para uma expansão acelerada.

Fins de períodos recessivos são marcados por grande incerteza econômica. O público pode interpretar um crescimento gradual como ameaça de volta à recessão. O crescimento lento leva à incerteza, e a incerteza leva ao crescimento lento. Há centenas de variáveis a serem estudadas, expectativas, opiniões.

Há os fatores externos. Como avaliar tudo isso e chegar a uma previsão objetiva? Modelos estatísticos de probabilidade de recessão produzem avaliações que não estão impregnadas por percepções pessimistas ou otimistas e dão sinais mais precisos em tempo real.

A informação sobre o estado da economia possibilita reavaliação de projeções de vendas e lucros por empresas e planejamento dos consumidores, os quais obtêm respostas para perguntas-chave: a economia está enfraquecendo ou fortalecendo? O que o modelo diz agora, com dados disponíveis até setembro de 2018? 

A probabilidade de recessão no momento é de apenas 4%. Mas o Brasil corre risco alto de recessão em 2019? A pergunta deve ser respondida mediante análise de cenários. Estamos diante de dois focos grandes de incerteza: eleitoral e situação externa.

Cenário 1: se o presidente eleito imediatamente acalmar o mercado, investidores e consumidores, dando garantias de que o ambiente será propício aos negócios e que se comprometerá com reformas que reduzam a dívida pública sem sufocar o frágil crescimento econômico, o risco de uma recessão em 2019 é baixo.

O cenário externo pode também se reverter. Nas últimas semanas houve um grande fluxo de capitais para o Brasil. A alta do dólar torna os ativos dos emergentes uma barganha.

Se o arrefecimento do crescimento da economia mundial diante da guerra comercial liderada pelos EUA afetar o seu crescimento econômico, o banco central americano pode estabilizar a taxa de juros, o que seria favorável para atrair capital externo para o Brasil.

Cenário 2: se o novo governo for de um extremo ou de outro e não tiver a credibilidade necessária para acalmar o mercado interno e externo, tudo pode acontecer, inclusive uma nova recessão. 
No passado recente, a incerteza com relação às políticas econômicas de um presidente recém-eleito causou uma recessão. Produtores e consumidores podem frear ainda mais os planos de gastos --o que, associado a um já alto nível de ociosidade e a uma frustração quanto às reformas públicas necessárias, pode fragilizar a economia.

O cenário externo pode também piorar. A intensificação da guerra comercial poderia gerar inflação alta nos EUA, o que levaria a aumento dos juros locais, crescimento mundial lento, queda do preço de commodities e aumento do risco de economias emergentes como o Brasil.

Marcelle Chauvet

Professora titular da Universidade da Califórnia, mestre em economia pela Universidade de Brasília e Ph.D. pela Universidade da Pensilvânia; membro do Codace-FGV (Comitê de Datação de Ciclos Econômicos)

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