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Flávio Rocha

Ânimo novo em Brasília

Com Bolsonaro, temos a nossa Margaret Thatcher

Flávio Rocha e sua esposa, Anna Claudia, em evento em São Paulo - Marcus Leoni - 3.ago.18/Folhapress
Flávio Rocha

É com um misto de aprovação irrestrita, muita esperança e um orgulho particular que assisto à transição presidencial neste período de contagem regressiva para a posse de Jair Bolsonaro.

Brasília está agitada como havia tempos não se via, animada até. A perspectiva de uma nova era domina rodas de políticos, empresários, jornalistas. De um jeito ou de outro, a mudança iminente mexe com a capital do país.

Não é para menos. Depois de quatro mandatos consecutivos de uma esquerda retrógrada, pela primeira vez o poder troca efetivamente de mãos. Embora o governo do PT tenha acabado em 2016, só agora um presidente que em tudo lhe é antagonista chega ao poder ungido pelas urnas.

Minha aprovação não é surpresa para quem me acompanha. Sempre defendi a necessidade de o Brasil ter um governante liberal na economia e conservador nos costumes.

Com Bolsonaro, temos a nossa Margaret Thatcher, a primeira-ministra britânica que nos anos 80 dobrou os fortes sindicatos do país e colocou de joelhos um obsoleto Estado do bem-estar social, que apenas sobrecarregava a classe que realmente trabalhava.

Não sou entusiasta de primeira hora do novo presidente. Se o fosse, não teria lançado minha própria candidatura à Presidência. Se o fiz, foi por acreditar que, na época, não havia no cenário nacional postulante com as características necessárias para tirar o país do marasmo em que se encontrava.

Lá atrás, no início da corrida eleitoral, Bolsonaro não parecia ter todos os requisitos necessários. Não havia dúvida de que se pautava pela defesa da família e dos bons costumes, mas esse aspecto é apenas metade da receita.

A outra metade --a disposição de liberar as forças da economia-- dependia de uma perspectiva que não me parecia inata ao candidato. Seu histórico apontava um flerte inequívoco com projetos estatizantes.
Mesmo a aproximação com Paulo Guedes --um liberal acima de qualquer suspeita-- corria o risco de ser apenas circunstancial. O tempo, porém, se encarregou de demonstrar que a convicção de Bolsonaro é genuína. Ou ele não teria colocado Guedes no mais importante cargo de seu governo.

Quanto à minha esperança, é a de que a governabilidade esteja assegurada. Tudo indica que sim. O receio inicial de que Bolsonaro não contaria com votos necessários para a aprovação das reformas estruturais logo se dissipou.

A contabilidade do número de cadeiras perdeu sua utilidade. As legendas se transformaram em agrupamentos amorfos que não ditam mais as diretrizes políticas. Estas são dadas pelas principais bancadas, que a esquerda chama, pejorativamente, de BBB (Bíblia, bala e boi). Ao contrário dos partidos, o nível de lealdade dessas bancadas pode chegar a 100%.

Por fim, explico por que mencionei no início um "orgulho particular". Minha candidatura decorreu de uma angústia que sentia, por ver o Brasil rumar mais uma vez na direção errada.

Quando a maioria ainda temia efeitos eleitorais negativos do politicamente incorreto e da defesa da economia de mercado, propugnei sem rodeios esses dois pilares. Hoje, ao ver que sustentam o novo governo, percebo que contribuí, de alguma maneira, para pautar a agenda.

É por isso que assistirei à posse com a sensação de dever cumprido.

Flávio Rocha

Presidente do conselho de administração da Riachuelo e membro do conselho do IDV (Instituto para o Desenvolvimento do Varejo)

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