A expectativa de que os Estados Unidos venham a encerrar o mais longo conflito em que suas forças já estiveram envolvidas permite, por si só, ver com bons olhos o anúncio de que a diplomacia americana se aproxima de um acordo de paz com a milícia Taleban, no Afeganistão.
Já se vão mais de 17 anos de guerra, sem perspectiva concreta de um dos lados subjugar o outro. Até hoje, 147 mil pessoas morreram, e os gastos militares de Washington chegam a US$ 1 trilhão.
Pelos termos em discussão, os EUA se comprometem a retirar seus 14 mil homens do país da Ásia Central dentro de 18 meses, em troca de os talebans combaterem as redes de terrorismo e de iniciarem um diálogo com o governo central.
A busca por um pacto é o reconhecimento, por parte da Casa Branca, de que a eficácia da via militar se esgotou. Não se questiona, porém, a legitimidade do uso de tropas em solo afegão quando o então presidente George W. Bush recorreu a esse expediente extremo.
Tratava-se de resposta ao 11 de Setembro de 2001, ancorada em amplo apoio internacional —ao contrário da ofensiva unilateral no Iraque, dois anos mais tarde. O objetivo era tirar o Taleban do poder, em retaliação à guarida que o grupo dava a Osama bin Laden, mentor dos odiosos atentados.
Houve êxito em expulsar a facção de Cabul e pôr fim a cinco anos de um regime que açoitava mulheres, minorias e qualquer adversário político com base em uma interpretação estrita das leis islâmicas.
Fracassou, contudo, o intuito posterior de estabilizar o país. O Taleban se manteve em vastas porções do interior, e o Estado pós-invasão permanece frágil e corrupto. Não à toa, a permanência dos soldados americanos foi se estendendo por tempo indeterminado.
A retirada por meio de um pacto bem-sucedido traria ganho de imagem à até agora conturbada política externa de Donald Trump.
Nessa seara, a maioria de suas ações teve repercussão negativa, como a retirada do Acordo de Paris. E uma outra negociação importante, para a Coreia do Norte se desfazer de armas nucleares, esbarra nas poucas garantias de que o ditador Kim Jong-un fará sua parte.
Desse mesmo risco, aliás, sofrem as conversas com os insurgentes afegãos. É difícil confiar no compromisso antiterrorismo daqueles que se habituaram a promover ataques. Ademais, nada indica que tenham de fato incorporado valores democráticos.
São ressalvas significativas, mas perseguir um mínimo entendimento com o Taleban é o único caminho possível para sair do atoleiro.
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