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Franco Reinaudo

Um museu, uma exposição e um grito pela não violência

Mostra Diversa, no metrô, representa ponto de resistência

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Franco Reinaudo

Quem costuma frequentar a estação República do metrô, em São Paulo, irá notar, até 11 de janeiro, uma sala completamente pintada de vermelho, do chão ao teto, em um dos corredores que leva às catracas.

Esse espaço é o Museu da Diversidade Sexual, e a cor não foi escolhida por acaso. Ela é a cor de fundo da Mostra Diversa 2019, que expõe trabalhos de artistas LGBTI+ de todo o Brasil —país no qual, a cada 23 horas, é assassinada uma pessoa lésbica, gay, bissexual, travesti ou transexual. Mais do que nunca, a violência física, social e simbólica atravessa as obras apresentadas nesta mostra.

Franco Reinaudo, diretor do Museu da Diversidade Sexual, na abertura da Mostra Diversa, no Museu da Diversidade Sexual. (Foto Marcelo Justo)
Franco Reinaudo, diretor do Museu da Diversidade Sexual, na abertura da Mostra Diversa - Marcelo Justo

A exposição apresenta 19 projetos selecionados entre os mais de 100 que responderam ao chamamento público. Na sua maioria, representam fortes relatos de discriminação e violência. É o caso da obra do artista Carlos Carvalho, cuja instalação é formada por seis bonecos de toalha, representando um animal cuja imagem é comumente usada como xingamento contra homens gays. Cada um deles traz um alvo na cabeça e tem contra si uma série de flechas apontando em sua direção.

Já o projeto “Bonecas de Adão”, do arte-educador Pi, parte de cartas que contam histórias de violências sofridas por transexuais e travestis. Dobradas pelo artista, as cartas ganham a forma de bonecas de papel que representam o relato. O resultado é arrepiante.

Em sua terceira edição bianual, a Mostra Diversa se transformou em um dos poucos espaços —ainda possíveis— para a visibilidade da produção cultural pautada na diversidade sexual. Dentro desse contexto, o Museu da Diversidade Sexual representa um ponto de resistência em um cenário repleto de tensão para questões ligadas aos direitos humanos.

Abertura da Mostra Diversa, no Museu da Diversidade Sexual. (Foto Marcelo Justo)
Abertura da Mostra Diversa, no Museu da Diversidade Sexual, na estação República do metrô, em São Paulo - Marcelo Justo

Por estar localizado dentro de uma estação de metrô e ser totalmente aberto e gratuito, o museu participa desse conflito rotineiramente. O local é alvo de chutes nas vidraças até pichações com frases ofensivas. Há pessoas que passam xingando ou que fazem sinal de arma com as mãos, apontando em direção ao espaço.

Mas nem tudo é violência. A instituição recebe também visitantes em busca de informação, afeto e acolhida. Muitas daquelas pessoas jamais haviam entrado em um museu em toda a vida. Outras acabaram de ser expulsas de casa por terem se assumido LGBTI+. Há também famílias que querem saber como ajudar filhos e filhas que acabaram de “sair do armário”.

Para sobreviver, tentamos, diariamente, entender o que dispara tanto ódio. Tentamos também auxiliar, no que é possível, a todos e todas que procuram ajuda para seguir em paz com suas orientações, identidades e expressões de gênero dissidentes. Essa ajuda é oferecida primordialmente por meio da arte e da cultura. Dar visibilidade aos artistas LGBTI+ é dizer "estamos aqui", junto com eles. É chamar para o diálogo e para a paz.

Paz que ainda não existe. Por isso, o vermelho que veste o Museu da Diversidade Sexual nesta exposição representa o sangue que é derramado violentamente, todos os dias. Um sangue que também é negro, indígena, migrante e feminino.

Parem de nos matar! 

Franco Reinaudo

Diretor do Museu da Diversidade Sexual e curador da exposição Diversa

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