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Vexame boliviano

Condução do pleito em que Evo Morales busca 4º mandato mancha instituições

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Maifestante protesta na Bolívia contra o presidente Evo Morales - Ueslei Marcelino/Reuters

As manobras do presidente da Bolívia, Evo Morales, para disputar um quarto mandato já haviam maculado a eleição geral do país antes mesmo de sua realização, no último domingo (20). O anúncio da vitória do mandatário, em meio a uma apuração conturbada, terminou por desmoralizá-la.

Eleito pela primeira vez em 2005, Morales combinou nos últimos 14 anos uma liderança pragmática, que rendeu bons resultados na economia, com um apego ao cargo típico do caudilhismo.

Exemplo eloquente desse traço deplorável foi a maneira como logrou concorrer ao pleito do fim de semana —desrespeitando tanto a Constituição aprovada em 2009 como o resultado de consulta popular realizada há três anos.

Depois de promover uma interpretação particular da Carta, que permite uma única reeleição, para disputar a Presidência pela terceira vez, Morales articulou um referendo com vistas a modificar esse artigo constitucional.

Perdeu por 51,3% a 48,7%, mas não se deu por vencido. Valeu-se então de um expediente casuístico, recorrendo ao artigo da Declaração Universal dos Direitos Humanos que assevera que todo cidadão tem o direito de concorrer a cargos públicos. O tribunal constitucional boliviano, subserviente, acatou a tese estrambólica.

O vexame da participação de Morales no pleito agravou-se com a maneira obscura com que se deu a divulgação de resultados.

Inicialmente, o órgão eleitoral utilizou um modo de contagem rápida, por meio de atas, mas suspendeu a transmissão dos dados na noite de domingo, após ter apurado 83% dos votos. Naquele momento, Morales vencia seu adversário, o ex-presidente Carlos Mesa, por 45,3% a 38,1%, diferença que levaria ao segundo turno.

Na manhã do dia seguinte, porém, o governo anunciou que esse método de contagem seria interrompido e valeria apenas o cômputo voto a voto. Horas mais tarde, porém, apuração rápida foi retomada e divulgou-se que o presidente vencera no primeiro turno.

Seguiram-se uma noite de protestos e uma crise de desfecho imprevisível. De garantido, apenas novas perdas para a credibilidade das instituições democráticas bolivianas.

editoriais@grupofolha.com.br

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