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No meio, parado

País é firme no pacto democrático, mas não abre caminho para o desenvolvimento

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Moradores caminham por passarela em frente à favela da Rocinha, no Rio de Janeiro - Lalo de Almeida - 13.mai.19

O desenvolvimento de uma nação é um processo paulatino, determinado pelas escolhas organizacionais da sociedade ao longo de gerações, impulsionado pela inventividade, avaliado pelos graus de prosperidade material e de compartilhamento de riqueza e poder político e sujeito a paralisia e reversão.

Por vias diversas, a investigação acadêmica nas últimas décadas tem convergido para essas conclusões. Enfraqueceram-se teorias que enfatizavam fatores geográficos, religiosos e culturais, as que enxergavam na riqueza de um país a pobreza de outros e as que previam a decadência do capitalismo.

Dentre as obras mais bem-sucedidas na divulgação do resultado dessa safra de pesquisas inovadoras está “Por Que as Nações Fracassam” (2012), parceria entre o economista Daron Acemoglu e o cientista político James Robinson.

O livro continha apreciação positiva do Brasil. A ascensão do Partido dos Trabalhadores, a redução da pobreza e o crescimento econômico foram considerados indicadores da emancipação, de um padrão oligárquico de apropriação do poder para um modelo aberto.

Oito anos depois, Acemoglu revela frustração. Em entrevista ao jornal Valor Econômico, atribuiu a quebra de expectativas à corrupção escancarada no governo petista, à gestão Michel Temer (MDB) e à ascensão de um presidente com viés autoritário, Jair Bolsonaro.

A democracia próspera do livro teria agora o futuro ameaçado.

A solução do dilema parece assentar-se na correção do viés excessivamente otimista da obra e, também, do demasiadamente pessimista da entrevista. O Brasil não estava tão bem nem está tão mal —em que pese a tragédia das 100 mil mortes pela Covid-19.

Problemas que remontam ao passado mais distante continuam presentes. A produção por trabalhador tem sido praticamente a mesma há 40 anos. A educação, apesar da injeção de recursos, condena a maioria da população à baixa renda.

O apetite por privilégios mantém-se excitado, como se vê no incipiente debate da reforma tributária.
De outro lado, o edifício da democracia consolidada no pacto constitucional de 1988, submetido a desafios, dá seguidos exemplo de solidez. Demonstra cotidianamente aos incitadores da truculência que esse meio não terá guarida.

Perde-se tempo e dissipa-se energia cívica, é fato. A facilidade com que presidentes põem-se a destruir consensos técnicos na condução das finanças públicas, da educação e da saúde amplia o nosso atraso e o fardo das gerações subsequentes.

Parado, no meio do caminho entre o grupo de nações pobres e o clube dos ricos, mas firme no compromisso democrático —assim está o Brasil, e não é de hoje.

editoriais@grupofolha.com.br

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