Descrição de chapéu
Ualid Rabah

Palestina, um experimento genocida continuado

Desde 2008, são mais de 8.000 palestinos mortos e 115 mil feridos

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Ualid Rabah

Presidente da Federação Árabe Palestina do Brasil

Entender o que acontece na Palestina não pode ser analisado simplesmente à luz dos eventos recentes. É preciso analisar sob um olhar histórico que remonta, no mínimo, a 1947, o início da expulsão de até 800 mil palestinos de suas terras e a destruição de 531 localidades, no que é conhecido como Nakba, "catástrofe" em árabe.

Desde então, o povo palestino tem sofrido com a negação de direitos nacionais, civis e humanos. A recusa de Israel em permitir a autodeterminação do povo palestino tem sido o principal fator que corrobora a manutenção dessa situação degradante há 76 anos. A sociedade internacional tem observado de maneira inerte o avanço de políticas segregacionistas de Israel, que foram objetos de relatórios robustos de organizações não governamentais relevantes, como a Human Rights Watch e a Anistia Internacional, mas também da ONU, em duas ocasiões.

Palestino é levado a hospital após ataque de Israel a hospital em Gaza - Reuters TV

O relatório da Anistia Internacional descreve como Israel impõe um sistema de opressão e dominação contra o povo palestino nos chamados Territórios Palestinos Ocupados, incluindo aqueles que vivem em Israel, bem como refugiados deslocados em outros países. O relatório detalha também como as apropriações massivas de terras e propriedades palestinas, assassinatos ilegais, deslocamentos forçados, restrições drásticas de movimento e a negação de nacionalidade e cidadania aos palestinos são todos componentes de um sistema de apartheid, à lux do direito internacional, conforme definido no Estatuto de Roma e na Convenção do Apartheid.

A ocupação sionista da Palestina viola as quatro Convenções de Genebra na medida em que há agressão física recorrente a civis, ataques aos bens de civis —como a demolição de casas na Cisjordânia ou a retirada dos palestinos em favor de colonos judeus— e punições coletivas, tais como a que vemos atualmente em Gaza. O argumento de defesa de Israel contra uma população que é incapaz de se defender, uma vez que não possui direito à autodeterminação e soberania, nem exército ou força aérea, é claramente ilegal, segundo as mesmas convenções.

Além disso, a ascensão em Israel da coalizão mais extremista de sua história, liderada por Binyamin Netanyahu (líder que sempre se opôs à autodeterminação dos palestinos e procedeu para inviabilizar os Acordos de Oslo), torna a situação cada vez mais dramática. Israel tem aprofundado as políticas de ocupação ilegais na Cisjordânia e a radicalização de leis de apartheid, principalmente em Jerusalém, onde podem ser observados avanços autoritários sobre a população não judaica e sobre seus direitos.

Consequentemente, isso tem aprofundado o discurso de ódio de parte da população israelense contra palestinos e não judeus de forma geral, sintetizado em manifestações do ministro de Segurança de Israel Itamar Ben-Gvir, para quem "a única coisa que precisa chegar a Gaza são centenas de toneladas de explosivos, não ajuda humanitária". Declarações como essa se tornaram cada vez mais recorrentes na política israelense, denotando a política que querem implementar, que não é a de "defesa", mas, sim, de extermínio.

Se Israel quisesse se proteger, buscaria, como o Brasil fez ao longo da sua história, aproximar-se de seus vizinhos e estabelecer com eles uma relação cordial (vide a relação Brasil-Argentina), mas o que vemos é a vontade de exterminar os palestinos, utilizando de episódios trágicos para os dois lados, de uma retórica artificial de lutar contra o "extremismo islâmico", mais uma ferramenta política para dar uma "solução final" nos palestinos.

Durante esses dez dias em que as tensões se acirraram, mais de 5.000 vidas foram perdidas em Gaza, cerca de 1.500 crianças, mais 12 mil feridos, muitos mutilados. Desde 2008, são mais de 8.000 palestinos mortos e 115 mil feridos. Enquanto isso, as bombas de Israel continuarão a pairar sobre as cabeças de palestinos civis, majoritariamente crianças e mulheres, como estas que acabaram de cair sobre o Hospital Batista em Gaza, levando a óbito ao menos 500 vidas. Agora, perguntamos: quantas vidas a mais teremos que ceifar para aplicar a lei? Quantas vidas palestinas valem uma vida israelense?

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.