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Bianca Santana

É preciso nomear o genocídio negro para interrompê-lo

Matar pessoas negras é política deliberada do Estado brasileiro, que se aprimorou neste ano pandêmico

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São Paulo

Matar ou abandonar pessoas negras à morte é política deliberada do Estado brasileiro desde 1888, que se aprimorou neste ano pandêmico e de aumento da violência policial.

Apenas três dados, dos muitos disponíveis, para mostrar que não há exagero na afirmação: a cada dez pessoas assassinadas pela polícia, oito são negras; o feminicídio que acomete a todas, como temos acompanhado no noticiário recente, caiu 9,8% entre brancas em dez anos e aumentou 54% entre mulheres negras; por Covid-19, no primeiro semestre, 157 pessoas brancas e 250 negras morriam a cada 100 mil.

Sem falar nas balas perdidas que só encontram crianças negras. Na LGBTQI+fobia que se multiplica em corpos pretos e pardos. No direito constitucional à posse e titulação de terras quilombolas jamais efetivado.

Enquanto ignorarmos o extermínio deliberado de pessoas motivado por diferenças raciais não será possível compreender a dimensão do que é necessário enfrentar no Brasil.

A violência e a falta de acesso a direitos têm cor, assim como a pobreza e a desigualdade. Pessoas pretas, pardas e indígenas, que ocupam a base da pirâmide social, não são as únicas racializadas nesta sociedade também de amarelos e que alarga o grupo branco, se comparado ao norte do mundo. Em nossa hierarquização racial específica e perversa, determinados corpos são protegidos enquanto outros são exterminados.

O genocídio indígena se perpetua vergonhosamente há 500 anos. E o negro é aprofundado ano a ano como uma soma de casos isolados, como se não existisse deliberação racial sobre quem fazer viver, deixar morrer ou matar. É preciso nomear o genocídio negro para interrompê-lo.

E neste último dia de 2020, ainda é necessário perguntar quem mandou matar Marielle Franco. Além de qual o envolvimento da família Bolsonaro, tão próxima de acusados da execução, no assassinato de Marielle e Anderson.

Bianca Santana é jornalista; doutora em ciência da informação, colunista de Ecoa-UOL e autora de "Quando Me Descobri Negra (Sesi, 2015)

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