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O que a Folha pensa guerra israel-hamas

Ponto de inflexão

Embate de 45 anos entre Irã e EUA se intensifica com ataques de Teerã a vizinhos

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Míssil de origem iraniana é exibido durante parada militar dos rebeldes houthis, em Sanaã (Iêmen) - Khaled Abdullah/Reuters

Desde que partidários da Revolução Islâmica atacaram a Embaixada dos Estados Unidos em Teerã em 1979 e fizeram 52 reféns por 444 dias, o confronto define a relação entre Washington e o Irã.

Ao longo dos anos, tensões proliferaram, mas foram poucas as vezes em que a crise quase desandou para a guerra —o episódio mais recente foi o assassinato em 2020 do principal general iraniano pelos EUA em Bagdá, seguido por ataques a bases americanas no Iraque.

O padrão, contudo, sempre foi o de luta por procuração, em particular por parte de Teerã e sua ampla rede de aliados regionais.

Mas a recente crise no Oriente Médio, com o brutal ataque terrorista do Hamas palestino contra Israel e a devastação em curso de Gaza pela retaliação de Tel Aviv, reacendeu conflitos potenciais.

O Hamas não conseguiu uma grande guerra regional imediata, e sim um jogo de espera e atrito. O Irã pesou o risco da reação dos EUA, que enviaram poderosos reforços à região, e de Israel, com suas estimadas 90 bombas atômicas.

Nas últimas semanas, a dinâmica mudou. Os houthis, rebeldes iemenitas armados pelo Irã, incrementaram seus ataques no mar Vermelho, obrigando reação americana para tentar manter a rota comercial aberta. E o Irã passou a sinalizar aos Estados Unidos que não está tão passivo quanto parecia.

Na semana passada, bombardeou bases de grupos rivais a quem acusa de terrorismo na Síria, Iraque e Paquistão. Enquanto os dois primeiros países são vassalos dos iranianos, o último é a única potência nuclear muçulmana, e seu Exército revidou o ataque, como se quisesse empatar o jogo.

Tudo isso sugere a chegada a um ponto de inflexão no Irã. Seu governo enfrenta protestos devido à crise econômica decorrente da pandemia e das sanções americanas.

Joe Biden ensaiou levantá-las, porém manteve a posição de Donald Trump, que abandonara em 2018 o acordo de 2015 que trocava o fim das punições pela renúncia do Irã a produzir armas nucleares.

O comedimento do Irã até aqui sugeria temor de que a guerra derrubasse o regime, mas um conflito algo limitado com os americanos pode energizar a teocracia.

Se Teerã estiver convencida de que Biden não se envolveria em mais do que bombardeios pontuais para evitar uma guerra impopular, sua linha-dura poderá se animar a incendiar de vez a região.

Tal desenrolar é incerto, mas seria capaz de gerar um cenário nefasto para a paz e a economia global, dada sua dependência do petróleo explorado no Oriente Médio.

editoriais@grupofolha.com.br

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