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O que a Folha pensa Auxílio Brasil

O voto dos auxiliados

Transferência de renda não garante transferência de eleitor, descobre Bolsonaro

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Fila no início do pagamento do Auxílio Brasil, em São Paulo - Rivaldo Gomes - 17.nov.21/Folhapress

Principal cartada de Jair Bolsonaro (PL) na disputa por um novo mandato, o Auxílio Brasil pagará R$ 89,1 bilhões neste ano eleitoral. Para uma ideia das dimensões do novo programa, o antecessor Bolsa Família desembolsava R$ 42,4 bilhões anuais, em valores corrigidos, quando a petista Dilma Rousseff se reelegeu em 2014.

Vai se constatando, porém, que transferência de renda não resulta de modo automático em transferência de voto. Até aqui, Bolsonaro não conquistou popularidade entre os que declaram viver em domicílios atendidos pelo programa —ou 23% dos brasileiros acima de 16 anos, segundo o Datafolha.

Pelo contrário, em março o presidente obteve nessa clientela avaliações piores e mais rejeição do que no conjunto do eleitorado nacional. Entre os beneficiários do auxílio, são apenas 19% os que consideram o governo ótimo ou bom (ante 25% na população) e aqueles que se dizem inclinados a reeleger o mandatário (ante 26%).

A esta altura, não há mais do que hipóteses na tentativa de explicar o fenômeno. Algumas, não excludentes entre si, parecem razoáveis.

Uma delas é a comparação não mais com o Bolsa Família, mas com o auxílio emergencial instituído no início da pandemia, que chegou aos R$ 600 mensais e de fato melhorou a avaliação de Bolsonaro.

O Auxílio Brasil teve valor básico fixado em R$ 400, quantia tida como insuficiente por 68% dos atendidos —percepção provavelmente acentuada pela alta inflacionária.

Soa plausível ainda que o novo programa seja visto por muitos de seus beneficiários como mera continuação do Bolsa Família, associado ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) —que tem até 59% das intenções de voto nesse estrato do eleitorado, ante 43% no total.

É natural, pois, que a campanha de Bolsonaro planeje concentrar esforços em associar a política social ao governo, como noticiou a Folha. A tarefa seria mais fácil, decerto, se o presidente e candidato tivesse, em sua longa carreira política, demonstrado algum mínimo interesse no assunto.

Nos tempos de deputado, tratou a transferência de renda como a mera criação de um curral eleitoral, relação que agora se mostra menos simplista. No governo, andou a reboque do Congresso na implantação do auxílio emergencial.

Se não estivesse cronicamente limitado à pauta ideológica que só mobiliza seus apoiadores mais inflamados, poderia apresentar ao eleitorado diretrizes para um programa abrangente, duradouro e compatível com o equilíbrio orçamentário. Trata-se de debate que deveria ser travado sem demagogia por todos os presidenciáveis.

editoriais@grupofolha.com.br

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