Descrição de chapéu
O que a Folha pensa

Algazarra golpista

Entidades devem lembrar Bolsonaro de que não há margem para aventura autoritária

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Jair Bolsonaro (PL) discursa em evento da Associação Paulista de Supermercados - Rubens Cavallari/Folhapress

Não deve haver dúvidas sobre as inclinações autoritárias do presidente Jair Bolsonaro (PL). Exibiu-as ao longo dos sete mandatos como deputado federal e não tem feito questão de reprimi-las em mais de três anos no Palácio do Planalto.

Se a ruptura do regime democrático dependesse tão somente da sua vontade, o Brasil correria riscos ponderáveis de recair na ditadura —e pelo método embrutecido e antiquado da quartelada.

Felizmente a institucionalidade nacional e o contexto internacional interpuseram uma série de obstáculos robustos entre as pulsões tirânicas, de um lado, e a realidade política, do outro. Contorná-los não será tarefa fácil para ninguém.

Bolsonaro experimentou ele mesmo a concretude do rochedo democrático quando foi obrigado a recuar da intentona subversiva do Dia da Independência, no ano passado. Reforçou a partir de então a sua aliança com o statu quo parlamentar na tentativa de elevar as suas chances de reeleger-se.

O presidente logrou desse modo reverter uma parcela da impopularidade e melhorar seu desempenho nas pesquisas de intenção de voto, mas ainda não a ponto de tornar-se o favorito. O horizonte da economia turvou-se pela inflação, o que costuma dificultar a reeleição de qualquer governante.

Novamente acossado pelo espectro do fracasso, Jair Bolsonaro recobrou a algazarra golpista. Instrumentaliza militares em investidas contra a Justiça Eleitoral e insufla as audiências por onde passa com ameaças difusas de tumultos e revoltas no segundo semestre.

Nesta segunda (16), o chefe de governo repetiu as bravatas no seu estilo, aos berros e empregando termos chulos, num evento de supermercadistas na capital paulista. As eleições, vociferou, poderão ser conturbadas se não forem limpas.

Em enquete proposta pela Folha, partidos de oposição e independentes afirmaram haver risco de Bolsonaro tentar um golpe contra o processo eleitoral. Autoridades e entidades tradicionais da sociedade civil preferiram o silêncio diante das indagações da reportagem.

A campanha presidencial ter começado de fato —de direito, apenas em agosto— talvez explique a cautela adotada por representantes de organizações apartidárias e dos Poderes de Estado. Neste pleito, no entanto, será preciso discernir com nitidez situações de ataque ao regime que virão do presidente da República para reagir a elas.

Lembrar, em atos e palavras, ao mandatário nostálgico de ditadores e torturadores que não há margem para aventuras autoritárias no Brasil do século 21 integra o conjunto de obstáculos à tirania que tornará inexorável, em caso de derrota nas urnas, a posse de seu sucessor em 1º de janeiro de 2023.

editoriais@grupofolha.com.br

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.