Descrição de chapéu
Sérgio Mena Barreto

É correto liberar o teleatendimento médico em farmácias? SIM

Juntos, telemedicina e farmacêutico clínico podem ampliar o acesso à saúde

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Sérgio Mena Barreto

Presidente-executivo da Abrafarma (Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias)

Todos os anos, mais de 400 mil pessoas morrem de agravos relacionados às doenças cardiovasculares no Brasil. É como se a população inteira de Piracicaba (SP) desaparecesse a cada 12 meses. O mais chocante é que esses óbitos são classificados em estudos como "mortes evitáveis", pois boa parte dos AVCs, ataques cardíacos ou infartos agudos do miocárdio, que levam tantos brasileiros a óbito, não existiriam se ao menos duas doenças de base fossem controladas —o diabetes e a hipertensão.

Medicamentos para diabetes e hipertensão não têm custo de tratamento elevado, já contam com os genéricos como boa opção e estão cobertos pelo programa Farmácia Popular. Ou seja, todo brasileiro com uma prescrição pode retirar, sem nenhum custo, num estabelecimento credenciado, os medicamentos que podem lhes salvar a vida. E por que não o fazem? A resposta a tal pergunta não é óbvia, mas dois fatores podem explicar a origem do problema: 1) a falta de acesso ao médico; e 2) uma baixa educação em saúde.

Por causa deles, prováveis 54% dos portadores de doenças crônicas no Brasil abandonam o tratamento após seis meses, incorrendo nos agravos que vão lhes tirar a vida ou deixá-los incapacitados ainda jovens.

O abandono ao tratamento é algo tão grave que um representante da Organização Mundial da Saúde, em evento realizado pela Abrafarma, definiu-o como um dos fatores fundamentais a se investir nas próximas décadas e afirmou que nenhuma iniciativa ou dispositivo científico seria mais importante para a saúde do que convencer os usuários a manter seus tratamentos ao longo dos anos.

A verdade é que são poucos os esforços para se compreender e atuar nos fatores que levam à baixa adesão dos pacientes aos medicamentos. Enquanto o diagnóstico e tratamento das doenças foram o foco dos governos nas últimas décadas, a jornada do paciente permaneceu acidentada. É como se ele fosse abandonado à própria sorte no emaranhado e complexo sistema de saúde, seja privado ou público.

A boa notícia é que tanto o acesso ao médico quanto à educação em saúde ganhou um reforço e tanto nos últimos anos. No primeiro caso, temos o avanço da telemedicina, que coloca o atendimento ao usuário ao alcance da mão. Somente no Brasil são mais de 100 milhões de pessoas com acesso à internet e mais de 160 milhões de smartphones; e essa tecnologia, se bem utilizada, quebra todas as barreiras para aproximar o paciente do profissional médico.

No segundo caso, o de educar e apoiar pacientes, a boa notícia vem das farmácias. Usuários de Canadá, China, EUA, Inglaterra e também do Brasil passaram a utilizar melhor um profissional bem qualificado e acessível em milhares de estabelecimentos —o farmacêutico— para acompanhar e entender como manejar melhor sua doença crônica.

Agora, imagine um paciente numa farmácia, com dúvida sobre sua doença, ser assistido por um profissional médico com apoio do farmacêutico? E por que não utilizarmos desse expediente nas quase mil cidades brasileiras que ainda não contam com médico todos os dias, possibilitando acesso ao prescritor com apoio de seu farmacêutico habitual? É muito fácil vedar boas ideias sentado num confortável gabinete em Brasília, longe da realidade do usuário final, que vive a jornada acidentada e difícil da falta de acesso.

Como dizia Einstein, não encontraremos soluções para velhos problemas utilizando ideias arcaicas. Temos que lançar mão de todas as iniciativas disponíveis para pôr fim ao mal de pessoas que morrem todos os dias por falta de apoio. Eis por que acredito que esses dois elementos, telemedicina e farmacêutico clínico, constituem juntos uma poderosa combinação capaz de gerar acesso e aumentar a adesão do paciente, encerrando o sofrimento de milhares de famílias com as mortes evitáveis de seus entes queridos.

TENDÊNCIAS / DEBATES
Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.​

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.