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Walber Gonçalves de Souza

Carta de um professor aos novos governantes

Convido-os a conhecer as entranhas de uma escola

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Walber Gonçalves de Souza

Professor, é doutor em geografia (PUC Minas)

Completo 22 anos de magistério, do ensino básico ao superior —são muitas experiências acumuladas no chão de uma sala de aula. Sempre pensei que pela educação podemos transformar o rumo de uma nação, em especial o nosso Brasil, um país tão rico, de gente (maioria) tão pobre.

Infelizmente não é isso que tenho percebido. A educação pública no Brasil não passa, com raras exceções, de uma grande mentira, de uma farsa. Vemos uma triste realidade camuflada em índices e um monte de conversa fiada, com ares de uma pedagogia modernizada. Basta conhecer as entranhas de uma escola que saberão que nossa realidade é de aterrorizar.

Sem medo de errar, posso afirmar que a nossa educação é de péssima qualidade e caminha a passos largos para se tornar ainda pior, mesmo parecendo não ser mais possível ultrapassar o fundo do poço. Um dia pensei que a educação poderia mudar a sociedade, mas o que vejo é justamente o contrário: a sociedade mudou a educação e levou para dentro das escolas todos os seus vícios e problemas.

Discursos bonitos aparecem em todas as eleições. Mas vivemos de promessas e contos do vigário. Sempre há alguém que nunca pisou em uma sala de aula da educação básica propondo uma metodologia nova; mas, como diria o ditado popular, "de boas intenções o inferno está cheio".

A "pedagogia da modinha", criada por aqueles que não conhecem a realidade de uma escola, só escancara um dos nossos grandes desafios: estabelecer uma política pública de Estado para a nossa educação, não a corriqueira política de governo.

Nossas escolas estão tomadas e reféns da indisciplina, várias pelo tráfico e abandono. A falta de professores já é percebida. A educação brasileira é um faz de contas. Pouco se ensina, por inúmeros motivos, e por consequência pouco ou quase nada se aprende. Mas o discurso governamental é sempre o mesmo: nossa educação vai bem! Afinal, ninguém quer admitir a realidade.

Provavelmente esta carta não chegará ao seu destino final, mas fica o desabafo e a eterna esperança de dias melhores. Peço: vamos encarar os desafios da educação. Ela não pode ser medida simplesmente por estatísticas. Precisamos alcançar resultados, que se manifestam na vida das pessoas, através de condições humanas e civilizadas de vida.

Precisamos solucionar a indisciplina, valorizar a carreira docente, tornar o ambiente escolar um lugar propício e necessário para o aprendizado e, principalmente, estimular as pessoas a acreditarem na escola (educação) como um meio de crescimento humano e social. O que não dá mais é continuar como está: fingindo que as coisas estão acontecendo.

Finalizando, convido-os a escolherem uma escola de uma cidade brasileira, pois retratará a realidade da imensa maioria, e ministrarem aulas durante um mês. E, se não for pedir demais, que vossos salários, ao longo do mandato, sejam iguais aos dos professores. Quem sabe assim entenderiam o que é a educação brasileira e, por consequência, fomentariam as devidas soluções.

Cordiais saudações de um professor que não vai desistir da educação!

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