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Fernanda Castro

Museus no Brasil de hoje: para quê?

Que os novos tempos sejam capazes de revalorizar as casas de memória e seus acervos

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Fernanda Castro

Historiadora, é diretora substituta do Museu Histórico Nacional; mestre e doutora em educação


A ideia de que museus são lugares de "coisa velha" já não tem mais lugar hoje em dia. Mais do que nunca, os "novos-velhos" museus são necessários. Em nosso país, é praxe a cultura morrer e renascer das cinzas, como fênix. E os museus são aqui lugares de resistência, de afeto e aprendizado: aproximam o novo e o antigo; aproximam o que nos dá identidade e nos mostram quem é o outro.

São essas casas de memória, com suas funções sociais, educativas, lúdicas, que vão nos ajudar na tarefa de reconstruir a dignidade de um povo tão diverso e rico em histórias, ciências e artes. Infelizmente, nos últimos anos, parte de nossa gente e da opinião pública viraram mesmo coisa de séculos passados.

De repente, num movimento histórico que ficará para os museus do futuro explicarem, tudo o que era retrógrado tornou-se pensamento dos mais contemporâneos. Racismo, invisibilização, machismo, homofobia, ausência de representatividade e discursos elitistas integram uma curadoria cultural do imaginário e das acepções culturais "oficiais".

Passados quase 20 anos de criação da Política Nacional de Museus, pioneira especialmente pelas propostas de participação e representação, ela encontra-se hoje ameaçada como nunca antes.

Que os novos tempos, que anunciam um novo Ministério da Cultura, sejam capazes de revalorizar os museus e seus acervos; as ações de pesquisa, educação, entretenimento, arte. E ainda, certamente, valorizar seus profissionais; muitos deles, é bom lembrar, servidores públicos.

Museus digitais, museus virtuais, museus pandêmicos, museus virais, museus das comunidades, dos quilombolas, dos povos originários, dos povos tradicionais. Os museus podem ser tudo o que a nossa sociedade e o nosso povo precisam para se reerguer. Atualmente, são quase 4.000 museus mapeados no Brasil – e que se façam mais! Mais plurais, mais diversos e que ajudem a ensinar e a recriar a democracia, a estética, a ética, as diferentes identidades de um Brasil de tantas culturas.

Bom recordar que, para isso, o Instituto Brasileiro de Museus, uma autarquia já ameaçada de extinção nos tempos recentes, precisa ser fortalecida, estruturada e entendida como investimento em direito à cultura.

O Ibram precisa de um projeto socialmente referenciado, da retomada das políticas públicas do setor e das formas participativas de construi-las.

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