O papel das cidades e governos subnacionais nas relações internacionais passa por uma profunda transformação.
A mudança tem origem na transição de um planeta majoritariamente rural para a crescente concentração das populações em hubs urbanos. A tendência de adensamento e empoderamento desses territórios enquanto centros políticos, econômicos e institucionais se traduz também em desafios crescentes de gestão e desenvolvimento sustentável e à demanda por mais competências e capacidades.
Rompendo os antigos monopólios de Estados-nação, os municípios e suas redes, como a Organização Mundial de Cidades e Governos Locais Unidos (CGLU, que representa territórios onde habitam 70% da população do planeta), são atores em ascensão no sistema internacional. A diplomacia mais fluida e descentralizada dos municípios permite a implementação de ações de maneira prática e ágil.
Para além do ecossistema global próprio das cidades, do G20 aos Brics, passando pelo sistema ONU e bancos multilaterais, todos os grandes organismos mundiais reconhecem o papel das cidades e sua capacidade de operação internacional.
A diplomacia de cidades projetou os municípios como fundamentais negociadores, operadores e implementadores da agenda global de desenvolvimento. Mais próximos da população, são eles a primeira instância na oferta de serviços públicos. Governos nacionais, regionais e locais precisam atuar conjuntamente para oferecer respostas efetivas no enfrentamento das vulnerabilidades sociais.
Até 2030, a Organização das Nações Unidas estima que serão mais de 40 megacidades no mundo, cada uma acima de 10 milhões de habitantes. Maior metrópole das Américas e do Hemisfério Sul e quarta global, com cerca de 22 milhões de habitantes, São Paulo é mais populosa que 136 dos 193 países reconhecidos pela ONU.
Sabemos hoje que o que acontece em grandes centros, como a capital paulista, pode gerar impacto global. Da redução da pobreza às mudanças climáticas, não há como se desconsiderar a relevância e responsabilidade das cidades. O planeta é interdependente.
Assim, a estruturação de relações internacionais profissionais na esfera municipal é decisiva para se garantir, em alto nível, a inserção e projeção das cidades, facilitando o combate às desigualdades e o desenvolvimento sustentável.
Em 2001, no início de minha gestão como prefeita, São Paulo foi a primeira cidade brasileira a constituir uma Secretaria de Relações Internacionais. Assumi a pasta em 2021, a convite de Bruno Covas, e agora, na gestão do prefeito Ricardo Nunes (MDB), sobretudo no biênio 2023-2024, o município conduz a maior agenda internacional de sua história.
Serão pelo menos 15 grandes conferências e cúpulas internacionais em São Paulo, reunindo milhares de lideranças. Em agosto, a prefeitura realiza a 2ª Semana Internacional da Diplomacia de Cidades; em outubro, o "World Cities Culture Forum"; em novembro, além da 3ª Expo Internacional Dia da Consciência Negra, será a vez do "São Paulo International Summit 2023", incluindo a 28ª Cúpula de Mercocidades e a 20ª Assembleia Geral da União de Cidades Capitais Ibero-americanas (UCCI). Em 2024, teremos o Congresso Mundial do Iclei (Governos Locais pela Sustentabilidade), entre outros eventos.
Neste mesmo período, o prefeito Ricardo Nunes assumirá posições de destaque nas principais redes municipais do planeta, como a presidência das Mercocidades, a vice-presidência para América Latina e Caribe da Metropolis, a Associação Mundial das Grandes Metrópoles e o Conselho Executivo da CGLU.
Sem dúvida, nos próximos meses, São Paulo pode ser apontada como capital mundial da diplomacia de cidades.
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