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Helder Barbalho

Combate a crimes ambientais reduz a violência

Saldo da segurança não pode ser balanço de mortes em operações policiais

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Helder Barbalho

Governador do Pará (MDB)

Primeiro os dados, depois um convite à reflexão mais ampla sobre o angustiante problema da segurança pública no Brasil. No Pará, em 2023, lançamos um decreto de emergência ambiental em 15 municípios com garimpos ilegais e desmatamento. Foi o início da Operação Curupira, uma força tarefa com seis instituições para ampliar as ações de proteção nas áreas de floresta.

Mais de um ano depois, os resultados mostram que a operação destinada a preservar o meio ambiente provocou um efeito colateral positivo na violência como um todo: redução de crimes violentos de quase 28% em Altamira, 31% em Itaituba, 59% em Anapu, quase 20% em São Félix do Xingu, mais de 14% em Novo Progresso. A maior parte dos municípios em que houve combate aos crimes ambientais experimentou uma redução maior da criminalidade do que a apresentada no restante do estado. A redução de índices se dá em quase todos os tipos de crime. Roubo, por exemplo, despencou à metade em algumas das cidades.

É claro que os resultados alcançados na preservação do meio ambiente foram notáveis. A queda no desmatamento nessas áreas protegidas foi de 59%.A preservação ambiental agradece. Mas não quero falar aqui apenas do Pará ou desse auspicioso programa de combate a crimes ambientais e seus reflexos sobre a criminalidade. Quero lançar luz sobre o significado mais amplo que essa experiência pode demonstrar para o Brasil, para muito além da questão ambiental.

O que é mais importante é que vivemos sufocados por uma falsa agenda da escolha da repressão e do confronto policial como única forma de redução da violência que assola o país e apavora os brasileiros. O que essa e outras iniciativas que já estamos colocando em prática nos dão convicção é que a segurança pública não pode ser colocada apenas na mira do fuzil, mas tem de ser vista numa lente mais ampla. Por quê? Porque não se trata de um problema isolado, e sua solução necessariamente terá de ser fruto de uma combinação de ações do Estado.

É claro que a mão forte da polícia faz parte dessa equação de pacificação social. O erro, todavia, é simplificar e, diria mesmo, surfar na onda de desespero de uma população acuada e tentar fazer crer que essa é única variável da equação. Também no Pará, apenas a título de exemplo para que entenda o ponto a que quero chegar, criamos as Usinas da Paz. São complexos multiculturais e esportivos, com serviços médicos, lazer, educação, empreendedorismo e apoio à população vulnerável. Equipamentos públicos de primeira qualidade, servidores públicos dedicados. Cidadania na veia. Estamos fazendo 26 em todo o estado.

Esse é o ponto. Temos de buscar um arsenal para a questão da violência, mas não apenas de armas. Um arsenal de soluções que passa pela reconstrução social, por medidas amplas e conectadas em várias áreas. Como vimos, combater os garimpos e o desmatamento não faz bem apenas à floresta e ao meio ambiente. É um combate à violência e um impulso em favor da segurança pública com resultados palpáveis. Não adianta apenas invadir comunidades com armamentos. O Estado tem que ocupar o lugar das organizações criminosas com cidadania e serviços públicos e dignidade.

Não podemos nos acostumar, como sociedade, que o saldo da segurança seja apenas o balanço de mortes das operações policiais. Temos de continuar acreditando que o balanço que irá nos diferenciar será o de jovens formados, crianças na escola, pessoas da terceira idade atendidas nas comunidades. Alguém poderá dizer: isso é ficção.

Ficção é imaginar que homem pode chegar à Marte e, ao mesmo tempo, no Brasil, não podermos passear por bairros como o morro do Alemão, Paraisópolis e Rocinha, apenas para citar alguns. A solução da segurança pública é do tamanho do problema: grande, complexa e multifacetada. A experiência do combate a crimes ambientais e seu efeito na queda da violência no Pará mostra uma pista para o enfrentamento da criminalidade. Não basta apenas o combate, mas também o resgate.

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