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O que a Folha pensa desmatamento

Cerrado em risco

Desmate no bioma afeta o país, pois destrói mananciais e turbina crise do clima

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Área de cerrado desmatada para plantio de soja, em Mateiros (TO) - Lalo de Almeida/Folhapress

A atenção do país se volta para a tragédia no Rio Grande do Sul, com toda justiça. Mas não se deve perder de vista que desastres climáticos resultam de cadeias de fatores que superam fronteiras regionais e nacionais, pois o aquecimento da atmosfera é fenômeno mundial.

Além da queima de combustíveis fósseis, a crise do clima tem origem no desmatamento a grassar pelo território brasileiro.

No Centro-Oeste, a consequência é oposta à verificada no Sul: perda de recursos hídricos. Isso decorre do aquecimento global, que diminui chuvas, e da derrubada da vegetação natural para dar espaço a campos de soja, milho e algodão.

Diz-se que o cerrado é uma floresta invertida. Suas raízes penetram no solo a profundidades que podem alcançar o dobro da altura das árvores acima dele. Nessa busca pelos lençóis freáticos, as raízes favorecem sua reposição —a água da chuva penetra mais facilmente no solo já descompactado por elas.

Assim, o bioma é conhecido como a caixa d’água do Brasil. A captação pluvial nesse local, que cobre um quarto do país, garante boa parte da vazão de bacias tão importantes quanto as dos rios Doce, Jequitinhonha, Parnaíba, Tapajós, Xingu e Madeira, além do Pantanal.

O abastecimento de mananciais pela savana brasileira é tema da segunda reportagem da série Cerrado Loteado, publicada pela Folha. E as notícias não são boas, em especial no Matopiba, zona com expansão acelerada do agronegócio.

Monoculturas mecanizadas enriquecem o país com exportação, mas, sem controle, o empobrecem ao diminuírem a percolação (movimento descendente da água no interior do solo) até os aquíferos, afetando a vazão de nascentes e rios.

O fluxo também diminui com a irrigação, que desvia volumes diários várias vezes acima do consumo numa metrópole como São Paulo.

Seria disparate pressupor ligação direta entre a destruição do cerrado, hoje muito mais acelerada do que a da floresta amazônica, e o flagelo dos gaúchos. Por outro lado, esses processos estão conectados e se radicalizam sob a omissão de governos diante do imperativo de conter a crise ambiental que põe em risco a vida na Terra.

editoriais@grupofolha.com.br

Erramos: o texto foi alterado

Em versão anterior deste editorial, o rio Parnaíba foi grafado incorretamente como Paraíba. O texto foi corrigido;

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