Nos últimos dois meses consolidou-se uma mudança relevante no quadro econômico internacional. Evidências de desaceleração na atividade e preços sob controle devem levar a menores taxas de juros nos Estados Unidos, o que é notícia positiva, desde que não haja uma recaída recessiva.
De fato, no período houve notável redução no ímpeto da inflação, que parece agora se aproximar da meta de 2% ao ano perseguida pelo Federal Reserve (Fed), o banco central americano. O crescimento do Produto Interno Bruto ainda se mantém perto de 2%, mas com cada vez menos exuberância.
A combinação vinha sendo bem recebida, mas os resultados mais recentes do mercado de trabalho sugerem que pode estar aumentando o risco de uma recessão.
Na leitura relativa a julho, divulgada em 2 de agosto, pela primeira vez em vários meses a criação de novas vagas ficou abaixo das expectativas. Mais preocupante, no mês o desemprego subiu de 4,1% para 4,3%. Numa média de três meses, a taxa cresceu 0,5 ponto percentual, algo que no passado se mostrou compatível com retração da atividade econômica.
Esse foi um dos motivos para a reação abrupta dos mercados financeiros, com queda notável e rápida nas Bolsas de Valores pelo mundo e ampliação da expectativa de cortes mais rápidos dos juros.
Nos dois dias seguintes à divulgação da alta no desemprego, as ações americanas caíram cerca de 5%, o dólar perdeu força ante outras divisas e a taxa de juros de prazo mais longo, dez anos, passou de 4% para 3,8% anuais.
Tais movimentos já foram em parte revertidos, o que mostra seu caráter efêmero e especulativo. Outros indicadores, como a geração de renda das famílias e a situação financeira das empresas, indicam ser prematuro concluir que uma recessão se aproxima.
De todo modo, a mensagem de que o dinamismo excepcional da economia americana possa estar ficando para trás deve ter certa permanência. Uma consequência por ora favorável é que se consolidou a expectativa de que o Fed começará a cortar os juros em setembro. As projeções atuais sugerem redução de até 2 pontos percentuais, para 3,5%, até o final de 2025.
Para o Brasil, trata-se a princípio de um quadro positivo. Menor restrição monetária global e dólar menos valorizado, desde que sem recessão, tendem a facilitar o trabalho do Banco Central.
Ao contrário do que se observa nos EUA, contudo, por aqui a inflação e os juros permanecem com viés altista, pois persistem a incerteza em relação à gestão autônoma do BC e a gastança no Orçamento federal. Reduzir essas fontes de pressão é, pois, urgente.
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