Temer cancela viagem à Ásia com o avanço das investigações

A decisão vem depois de pedido da PF de prorrogação de inquérito que investiga o presidente

Brasília

O presidente Michel Temer desistiu de viagem internacional que faria na próxima semana ao Sudeste Asiático. 

A programação inicial era que ele embarcasse no dia 5 e só retornasse em 14 de maio. É a segunda vez que ele cancela o roteiro. Na primeira, desistiu por recomendação médica.

A decisão coincide o pedido da Polícia Federal de prorrogação de inquérito que investiga o presidente sobre a edição de um decreto que favoreceria empresa portuária.

Além disso, foi marcado para a próxima semana o depoimento da filha do presidente, Maristela Temer, que teve o material para a reforma de sua casa pago por Maria Rita Fratezi, esposa do coronel João Baptista de Lima Filho. 

Com o avanço das investigações, o presidente foi aconselhado durante a semana passada a encurtar ou cancelar a viagem internacional. No país, ele teria melhores condições de cuidar da estratégia de reação jurídica.

A principal suspeita de investigadores da Polícia Federal, como mostrou a Folha, é de que o presidente tenha lavado dinheiro de propina no pagamento de reformas em casas de familiares e dissimulado transações imobiliárias em nomes de terceiros.

O envolvimento de seus familiares irritou o presidente, que fez pronunciamento na última sexta-feira (27) dizendo ser vítima de perseguição criminosa disfarçada de investigação.

"É contra a minha honra e pior ainda. São mentiras que atingem minha família", disse.

Segundo o Palácio do Planalto, o presidente também decidiu permanecer no país para acompanhar a votação de proposta no Congresso que inclui R$ 1,3 bilhão ao orçamento federal. Na semana passada, o governo federal foi informado que a Venezuela e Moçambique deixaram de pagar R$ 1,5 bilhão por obras e serviços.

Com o calote, o Brasil será classificado como inadimplente, o que fará com que o BNDES e bancos privados acionem o Fundo Garantidor de Exportações. Sem o pagamento, cabe ao governo federal pagar os valores devidos ao BNDES e a bancos privados por financiar exportações ao vizinho, principalmente obras da Odebrecht no metrô de Caracas e de Los Teques

Nesta semana, por conta do feriado do Dia do Trabalho, não deve haver sessão legislativa, o que jogou a tramitação da proposta para a outra semana, quando o presidente já estaria em viagem.

No período da ausência de Temer, os presidentes do Senado Federal, Eunício Oliveira (MDB-CE), e da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), teriam de pedir licença do cargo ou se retirar do país. Isso porque a legislação eleitoral torna inelegível aquele que ocupa o posto de presidente seis meses antes da eleição, com a exceção do próprio.

Em busca de uma pauta positiva em meio à turbulência política, o presidente anunciará na terça-feira (1) um reajuste do Bolsa Família superior ao defendido inicialmente pela equipe econômica.

Em reunião no Alvorada, na sexta-feira (27), ele definiu que o aumento médio do programa deve ficar entre 5% e 6%, maior que os 3% inicialmente discutidos. A inflação do ano passado ficou em 2,95%.
No ano passado, o programa social não teve reajuste.

O valor maior é uma tentativa do Palácio do Planalto de construir uma marca social em ano eleitoral. 

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