Ativistas do Ocupe Estelita disputam eleição em Pernambuco

Movimento de 2014 contra projeto imobiliário no Recife projetou politicamente suas principais lideranças

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Mateus Araújo
Recife

Entre 21 de maio e 17 junho de 2014, o movimento Ocupe Estelita vivia o auge de suas ações contra a especulação imobiliária no Recife. Os ativistas acamparam no Cais José Estelita, na região central, para impedir a construção de 12 torres em frente a um dos cartões-postais da cidade.

Quatro anos depois, figuras públicas ligadas ao movimento concorrem a cargos do Legislativo, propondo uma reorganização da esquerda no estado governado há 12 anos pelo PSB e uma das maiores bases eleitorais do PT.

Edilson Silva (PSOL), 50, busca a reeleição. Ele conquistou a vaga de deputado estadual pela primeira vez em 2014, com 37 mil votos, ano em que o partido fechou coligação no estado com o PMN, que foi criticada por correligionários.

Antes ele havia concorrido a governador (2006 e 2010), prefeito do Recife (2008) e vereador (2012) —neste caso, teve 13.661 votos, mas não conseguiu coeficiente partidário suficiente para entrar.

Silva se aproximou do Ocupe Estelita em 2012, nas primeiras audiências contrárias ao Projeto Novo Recife. “Não era um projeto de alguns prédios; era uma cidade de frente pro mar e de costas para a parte pobre”, critica.

O empreendimento imobiliário de quatro construtoras —entre elas a Moura Dubeux e Queiroz Galvão, investigadas na Lava Jato— propôs inicialmente usar a área de 10 hectares para construção de 12 torres com até 37 andares. Redesenhado em 2015, o projeto agora prevê 13 prédios, de 14 a 38 andares.

Para o deputado, os debates do Ocupe Estelita sobre a utilização pública daquele terreno colocaram “o tema do direito à cidade num patamar qualificado” e simbolizaram “uma vanguarda de enfrentamento de opressão”.

Pautas, diz ele, levadas para seu mandato, a exemplo do combate à violência policial, denunciada pelos militantes durante a ocupação. “Fazemos aqui o trabalho que Marielle [Franco, vereadora carioca morta a tiros] fazia no Rio. Quando a polícia comete exagero, a gente vai para cima.”

Outra figura ligada ao Estelita e aposta do PSOL em Pernambuco é o pré-candidato a deputado federal Ivan Moraes Filho, 40. Vereador do Recife, ele estreou na política em 2016 eleito com 5.203 votos.

Jornalista e militante do direito à comunicação, Moraes Filho fez cobertura jornalística da ocupação do Cais. Na época, integrava a ONG Centro de Cultura Luiz Freire, de Olinda, e apresentava o programa Pé na Rua, exibido na TV Brasil.

“Queria que o que estavam fazendo lá ganhasse visibilidade, porque muitas das empresas de comunicação do Recife estão ligadas ao mercado imobiliário”, lembra. Na reintegração de posse, em 17 de junho de 2014, ele levou quatro tiros de bala de borracha da PM.

Embora tenha entrado na política por insatisfação com o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, o vereador acredita que o Estelita lhe deu oportunidade de perceber uma nova militância. “Tenho impressão de que muitas pessoas me conheceram lá”, explica.

Na Câmara do Recife, ele quer abrir a porta da institucionalidade aos movimentos sociais. “Minha formação política acompanhou a ascensão de uma esquerda nacional —PT, PSB, Lula, Eduardo Campos. Mas quanto mais ela ascendia, menos a sociedade civil dialogava.”

Vice-líder da oposição, hoje ele bate de frente com a bancada evangélica e defende pautas como a descriminalização das drogas, combate à homofobia e ao machismo e um processo educativo sobre leis orçamentárias.

A única mulher integrante do Ocupe Estelita a se candidatar é a professora da Faculdade de Direito da UFPE Liana Cirne Lins, 46, que busca ser deputada federal pelo PT.

Como advogada do movimento desde 2012, ela acredita que foi possível mostrar a sociedade “a legalidade do movimento” e “que vândalos eram empresários e o poder político”.

O Novo Recife, porém, foi aprovado pelo Conselho de Desenvolvimento Urbano da gestão do ex-prefeito petista João da Costa, em dezembro de 2012, em reunião sem representantes do Ocupe Estelita.

Mas no PT desde 2016, Liana Cirne Lins garante que chegou para incomodar e que não vai fazer como certos políticos que dizem “esqueçam o que escrevi”.

O movimento Ocupe Estelita foi procurado pela Folha para comentar as candidaturas, mas não respondeu.

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