Descrição de chapéu Eleições 2018

Direita é sempre mais efetiva para entender importância do marketing

Governos de esquerda acham que basta fazer o certo para receber reconhecimento

Chico Malfitani
São Paulo

Vou ser franco e direto: a direita brasileira é quase sempre mais competente em entender a importância da comunicação e do marketing do que a esquerda. Basta lembrarmos o descaso com que governos petistas de Luiz Inácio Lula da Silva, Dilma Rousseff e Fernando Haddad, por exemplo, trataram esses temas.

O governo Dilma foi um desastre na comunicação e no marketing. Perdeu a batalha da comunicação da Copa do Mundo no país do futebol. 

Foi preciso que a Folha mostrasse que não havia a pseudo-opção: construção de hospitais vs. estádios da Copa, ao publicar que o orçamento das arenas era de R$ 8 bilhões contra os R$ 100 bilhões investidos na saúde pelo governo federal em 2014.

Podemos lembrar também que o governo Haddad não realizou campanhas publicitárias para ganhar a opinião pública antes de colocar em prática projetos como o das ciclovias e da redução da velocidade máxima para 50 km/h nas marginais e outras vias da cidade. Implementou sem comunicar antes e pronto.

Os governos de esquerda acreditam que basta fazer o certo para receber reconhecimento. Desconhecem a importância do marketing numa sociedade de comunicação de massa. Na qual é preciso fazer e comunicar. A esquerda faz muito, mas comunica pouco e mal. A direita faz pouco, mas comunica muito e bem.

A esquerda só lembra do marketing em época de eleição. E, dependendo do publicitário que coordena a comunicação, as campanhas por vezes ficam sem cara bem definida. Vendem muitas coisas ao mesmo tempo e deixam de dar o principal motivo para o eleitor escolher tal candidato.

Enquanto João Doria (PSDB) repetia insistentemente que não era político, mas gestor, a campanha de Haddad patinava na escolha do motivo para o paulistano querer a continuidade do seu governo.

E pior, quando candidatos de esquerda ganham a eleição, o eleito passa a tratar o marketing como assunto de terceira categoria. Afinal para que serviram os R$ 500 milhões gastos por ano em publicidade na Globo durante os governos do PT?

Os comercias informaram para a população que os programas sociais, a ascensão da classe média e o crescimento econômico eram políticas públicas de um governo preocupado em diminuir a desigualdade social?

Ou deixaram para as igrejas evangélicas afirmar que o crescimento de renda era fruto de algo divino ou dos dízimos? Quantos carros novos não vimos com adesivos “presente de Deus”?

Ou os governos de esquerda deixaram para o mercado vender a ideia de que era apenas fruto da tal “meritocracia”, como se as oportunidades fossem iguais para filhos de ricos e  pobres.

Não estou nem falando da regulação dos meios de comunicação —medida necessária para impedir os indecentes e antidemocráticos monopólios de mídia como da Globo. Falo de políticas públicas de marketing e comunicação eficientes e com os recursos já previstos no orçamento.

CORRUPÇÃO

Para derrubar os governos petistas, a direita usou, usa e abusa da palavra corrupção junto à opinião pública. Essa é a cara da sua campanha anti-PT.

Ela nunca incentivou os brasileiros a saírem às ruas de camisa amarela da CBF (Confederação Brasileira de Futebol) para defender a entrega do petróleo brasileiro às multinacionais, inclusive ao lado de notórios corruptos.

Nem mesmo a defender a reforma trabalhista e da Previdência, a entrega da Embraer, da Amazônia, da Eletrobras, do Aquífero Guarani, a privatização dos Correios, Caixa Econômica e Banco do Brasil. Também não incentivou os brasileiros para irem às ruas defender Aécio Neves (PSDB), Michel Temer (MDB) ou Geraldo Alckmin (PSDB).

A direita apenas dizia lutar contra a corrupção. Essa palavra foi e é a chave do marketing da direita e do golpe. Colocou o guizo da corrupção no pescoço só do PT e repetiu isso à exaustão. Do mensalão ao petrolão. Do tríplex do Guarujá ao sítio de Atibaia. Do “Brasil que a gente quer” da Globo às sessões do Supremo transmitidas ao vivo. 

“O maior problema do Brasil é a corrupção” repetem todos. Desigualdade social? Deixem isso para lá.

Não estou dizendo que a luta contra a corrupção não é importante. Só estou afirmando que ela foi usada seletivamente como peça importantíssima de marketing político. 

E o fim desse enredo culminou com a tentativa de fazer o "arauto" da luta contra a corrupção Joaquim Barbosa (PSB) como candidato a presidente. 

O ministro aposentado do Supremo, baluarte da Justiça, do domínio do fato, negro e sem papas na língua viria salvar o Brasil da corrupção. Sempre ela.

Mas, assim como Luciano Huck, o imprevisível Barbosa desistiu. Quem será o próximo candidato da direita e do mercado? Ou vão se contentar com Alckmin e Jair Bolsonaro (PSL)?

​BRASIL PARA OS BRASILEIROS

A esquerda atônita e acuada não percebe que, se unida, tem hoje nas mãos um enorme potencial em torno de palavras de ordem como "o Brasil para os brasileiros". Hoje, isso se sobrepõe à pretensa luta contra a corrupção.

O país naufraga, a Justiça é seletiva e uma verdadeira quadrilha comanda o Palácio do Planalto. Temos recessão, desemprego, déficit fiscal, miséria visível nas ruas e o pior: estamos entregando a preço de banana as riquezas naturais e o nosso patrimônio nacional para os estrangeiros.

E, por incrível que possa aparecer, quem veste verde amarelo e usa a bandeira brasileira é quem colaborou, proporcionou a falência e a entrega do Brasil e da força de trabalho dos brasileiros.

Tudo que a esquerda é contra. Quem é contra o Brasil veste verde amarelo. Quem é a favor veste vermelho. O marketing e a realidade às avessas.

Defender o Brasil é defender eleições livres e democráticas. Onde o povo e não um judiciário parcial decida o futuro dos brasileiros. Defender o país é defender emprego farto e digno. É defender o petróleo, nosso maior patrimônio. A maioria do nosso povo já sabe disso. Já sabe que caiu num engodo.

O povo sabe que essa pretensa caça aos corruptos é seletiva e tem objetivos políticos claros. Por isso Lula está em primeiro nas pesquisas. Por que no tempo dele o brasileiro vivia melhor. Mas, mais importante que defender Lula, é defender o Brasil.

Aí sim a esquerda sai da bolha e se comunica com o Brasil que não está nos dois extremos. Mostra que existe um outro país possível, além desse de Temer e do mercado.

Já passou o tempo de a esquerda se unir e usar o marketing na defesa do Brasil para os brasileiros, que aguardam essa união. Ou a esquerda vai deixar que o Bolsonaro continue usando a defesa do Brasil apenas como marketing eleitoral, mas batendo continência para a bandeira americana, como fez recentemente nos EUA? Vai esperar que outra novidade estilo Huck e Barbosa feche o círculo do marketing do combate à corrupção?

Não vamos esquecer que quem derrubou o projeto de reforma da Previdência foram os 100 mil professores e servidores municipais que tomaram as ruas da capital em gigantescas manifestações. É a força das ruas, com a correta estratégia de marketing dirigida pelas lideranças que muda os cenários políticos. 

O povo brasileiro quer o que esse pretenso combate à corrupção não conseguiu: o desenvolvimento, o crescimento econômico e de renda, empregos e o progresso de volta. Quer nossas riquezas e empresas defendidas. Quer a esperança, a alegria e o amor ao Brasil de volta.

Se a esquerda não se unir —o cenário ideal— e tiver dois, três ou quatro candidatos, pelo menos que todos defendam essa ideia poderosa. Isso não é apenas marketing, é muito mais que isso.

Chico Malfitani é jornalista e publicitário

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