Descrição de chapéu Eleições 2018

Bolsonaro exibe vídeo em que Wal nega ser funcionária fantasma

Presidenciável do PSL não mostrou atos parlamentares de ex-servidora

Brasília

Sem mostrar nenhum sinal da suposta atividade parlamentar que seria exercida por Walderice Santos da Conceição desde 2003, Jair Bolsonaro (PSL) exibiu na noite desta quarta-feira (15) em suas redes sociais um vídeo de 10 minutos e 30 segundos em que a ex-secretária parlamentar do presidenciável nega ter sido funcionária fantasma.

Com a afirmação "conheçam a verdadeira Wal de Mabucaba", Bolsonaro divulgou vídeo gravado por dois de seus filhos, também políticos, com declarações de Walderice na pequena Vila Histórica de Mambucaba, a 50 km do centro de Angra dos Reis, local onde Bolsonaro tem há décadas uma casa de veraneio.

Wal diz na gravação feita pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro e pelo vereador Carlos Bolsonaro que está passando por uma humilhação e que está sendo criminalizada por tentar "ajudar a família a ganhar um pouquinho a mais".

Jair Bolsonaro desembarca no aeroporto de Congonhas, em São Paulo, nesta terça (14) - Joel Silva/Folhapress

Ela nega que seja a dona da "Wal Açaí", que diz pertencer a sua irmã Luciana, ou prestar serviços domésticos para Bolsonaro —a não ser alimentar e dar água a seus cachorros.

"Me sinto humilhada com isso, porque não matei, não roubei. (...) Se perguntar para alguém se eu trabalho na casa [de Bolsonaro], não."

No vídeo, os filhos de Bolsonaro exibem, grifada, regra da Câmara que permite aos deputados manter secretários de gabinetes em seus redutos eleitorais, mas não mostram as partes da norma que se chocam com a situação de Walderice. Entre elas, a de que esse cargo tem por finalidade "a prestação de serviços de secretaria, assistência e assessoramento direto e exclusivo nos gabinetes dos deputados (...) com jornada de trabalho de 40 horas semanais."

A Folha revelou em janeiro que Bolsonaro mantinha Wal em um desses cargos desde 2003, apesar de Mambucaba ter pouco mais de 1.000 habitantes e de a suposta funcionária parlamenmtar trabalhar, na verdade, vendendo açaí em um pequeno comércio da cidade.

O marido de Wal, Edenilson, é apontado como caseiro de Bolsonaro. A Folha gravou entrevista com vários moradores da pequena cidade que apontaram, sem exceção, que Walderice e o marido trabalhavam na verdade como caseiros de Bolsonaro, além do comércio de açaí. Nenhum deles citou qualquer atividade legislativa da secretária parlamentar.

No vídeo de 10 minutos e 30 segundos exibido por Bolsonaro nesta quarta (15), tampouco a suposta atividade de gabinete é demonstrada.

A únicia parte em que há uma breve menção sobre isso aparece no começo, quando Wal diz genericamente receber reclamação de moradores. "Passa pra mim, eu passo pra ele."

A Folha voltou a Mambucaba nesta segunda-feira (13) e constatou que Walderice continuava trabalhando na "Wal Açaí", atendendo clientes no comércio todas as tardes. 

Loja de açaí onde trabalha, em horário de expediente, uma funcionária de gabinete do presidenciável Jair Bolsonaro - Lucas Landau/Folhapress

Em um primeiro contato, sem se identificar como jornalistas, a Folha teve uma conversa gravada com Walderice de cerca de 30 minutos, por volta das 14h. Nela, a secretária afirma ser dona da loja há cerca de cinco anos, diz trabalhar lá todas as tardes, não faz menção à irmã ou cita atividade parlamentar específica. "Eu sou a funcionária fantasma do Bolsonaro", chega a se identificar, em meio a risos, em certo momento. Afirma inclusive que a população de Mambucaba não vota em Bolsonaro.

Uma hora e meia depois, a Folha voltou à loja e se identificou. Walderice, que continuava no local aguardando clientes, disse que caberia a Bolsonaro responder por que o deputado não a paga com dinheiro próprio os serviços domésticos dela e do marido, e não com dinheiro da Câmara. Ela também não quis responder à pergunta sobre se é ela de fato que ganha o salário de pouco mais de R$ 1.400 brutos saídos dos cofres da Câmara.

No final da tarde de segunda, ela ligou para a Redação da Folha dizendo que iria se demitir.

Bolsonaro deu diferentes versões sobre a assessora desde janeiro. Primeiro, disse que buscou o endereço do local e viu que a “casinha” de açaí era da irmã de Walderice. Depois, passou a argumentar que ela estava de férias em janeiro. Mesmo tendo sido questionado, ele nunca apresentou exemplos da suposta atividade parlamentar de Walderice nem demonstrativos do cumprimento de pelo menos 8 horas diárias nessa atividade.

Após essa segunda, ele passou a reconhecer que ela trabalhava na loja de açaí e que dava água para seus cães. "Tem dois cachorros lá e pra não morrer de vez em quando ela dá água pros cachorros lá, só isso. O crime dela é esse aí, é dar água pro cachorro", disse. Em janeiro, o parlamentar havia negado qualquer tipo de atividade fora da política.

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