Descrição de chapéu

O Brasil perdeu um bendito chato

Cláudio Weber Abramo faleceu neste domingo (12) aos 72 anos em São Paulo

Cláudio Weber Abramo falando ao microfone de mesa
O jornalista Cláudio Weber Abramo, especialista em combate à corrupção - Alan Marques - 31.jan.2016/Folhapress
São Paulo

Claudinho Abramo, como o chamava, era um chato, bendito chato. Chato pela absoluta obsessão com a precisão em tudo em que se metia, o que o levava inexoravelmente a exigir a precisão de todos os que trabalhavam com ele.

Não sei se essa obsessão pela precisão veio de sua formação em Matemática (e, depois, como mestre em Lógica) ou como herança paterna. Seu pai, Cláudio Abramo, um dos grandes ícones do jornalismo brasileiro de todos os tempos, também era um obcecado com a correção dos textos e impaciente com os erros alheios.

Como editor de Economia na Folha, ajudou, creio eu, a moldar uma cultura de perseguição implacável à informação correta e ao texto idem que acabou se cristalizando em sucessivos Manuais de Redação.
Aposto que se pudesse ler a frase anterior, Claudinho faria um “tsc/tsc” e diria que essa perseguição não é tão implacável assim, tal a quantidade de “erramos” que o jornal publica regularmente. Esse ceticismo marcava sua personalidade.

Por isso, nada mais natural que dedicar-se ao chamado “jornalismo de dados", rótulo que, desconfio, ele não aceitaria pelo valor de face. Diria, suspeito, que todo o jornalismo é de dados. Afinal, publicar dados (em forma de números, de gráficos, de textos, de declarações) é tudo o que fazemos a vida inteira —e ele o fez com competência admirável.

Sua decisão de combater a corrupção mais implacavelmente do que é possível fazê-lo no jornalismo empurrou-o inexoravelmente para ser um dos fundadores da Transparência Brasil.

Quando ele era editor de Economia na Folha, aprendi um bocado com ele, em discussões sobre textos que eu estava entregando. Discussões amigáveis e, em alguns momentos, angustiantes. Eu olhava para o horário de fechamento do jornal e ele olhava para a precisão absoluta que exigia. Ganhava sempre, o que agradeço.

Aprendi com ele também quando chefiava a Transparência Brasil. Mais de uma vez, chamou minha atenção para informações ou detalhes de informação que estavam escapando do jornalismo. Ouso dizer que ele foi uma espécie de “trailer” da Lava Jato, pela perseguição a corruptos de qualquer espécie. Um chato, bendito chato, desses que o Brasil precisa cada vez mais.

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