Descrição de chapéu Eleições 2018

Mentor de Bolsonaro defende uso de verba federal para obter apoio de governadores

Paulo Guedes diz que presidenciável, caso eleito, pode pedir apoio em troca do repasse das verbas aos estados

Italo Nogueira
Rio de Janeiro

O economista Paulo Guedes, indicado como ministro da Fazenda num eventual governo do presidenciável Jair Bolsonaro (PSL), defendeu o uso de verba federal para influenciar governadores a apoiarem a agenda de reformas propostas pelo candidato.

A declaração foi dada durante transmissão ao vivo feita por Bolsonaro em sua página no Facebook na última quinta-feira (2).

Ele sinalizou que o presidenciável, caso eleito, pode pedir apoio ao seu programa de governo em troca do repasse das verbas aos estados. Para ele, isso daria uma "governabilidade orgânica" ao capitão reformado.

O economista Paulo Guedes, indicado como ministro da Fazenda num eventual governo Bolsonaro (PSL)
O economista Paulo Guedes, indicado como ministro da Fazenda num eventual governo Bolsonaro (PSL) - Sergio Moraes - 06.ago.2018/Reuters

"O sujeito que for eleito lá em São Paulo, vai precisar conversar com o Jair. É daí que vem a governabilidade. Seja o [Paulo] Skaf, seja o [João] Dória, vai sentar com ele e falar: 'Ô Jair, eu estou lá em São Paulo, é como se fosse uma Alemanha. Me dá um recurso aí para eu para eu atacar o problema de saneamento, saúde, educação'. O Jair vai: 'Então me apoia aqui também. Me dá governabilidade. Apoia o meu programa. Se eu fizer essa reforma, economizar aqui, cortar aqui, etc, eu consigo mandar recurso para você'", declarou o economista.

"A governabilidade vai ser orgânica, estrutural. Vai ser uma reforma do Estado. E não o toma lá dá cá enquanto a dívida cresce feito a bola de neve", disse Guedes.

A governabilidade vem sendo um dos questionamentos feitos a Bolsonaro sobre sua viabilidade para conduzir sua eventual administração. Ele tem dito que conta com o apoio de cerca de 110 deputados atuais, mas rejeita negociar com as cúpulas partidárias. O candidato do PSL afirma que os presidentes das siglas atuam como "líderes sindicais" em busca de espaço no governo.

Assim como Bolsonaro, Guedes defendeu a descentralização dos recursos arrecadados pela União para estados e municípios. O economista afirma que, ao repassar os recursos para outras unidades da federação, o presidenciável vai "reidratar a classe política".

"Como ele vai ter governabilidade? Como ele vai ter apoio? Ora, até o prefeito do PT vai querer votar nele porque ele está precisando de dinheiro para hospital, para a saúde, educação, segurança. Essa descentralização de recursos é o eixo da governabilidade. Não vamos votar nele porque ele está dando cargo na Caixa Econômica Federal. Vamos votar nele porque a classe política vai finalmente se reaproximar do povo", declarou.

Essa prática já é adotada há alguns anos no governo federal. Os repasses voluntários da União se dão, em sua maioria, por meio de convênios cujos critérios para assinatura não são objetivos.

Em tese, o governo federal pode transferir recursos para projetos apresentados aos seus ministérios. Na prática, os recursos costumam ser destinados principalmente aos estados governados por aliados. Durante a gestão do ex-presidente Lula, por exemplo, um dos mais beneficiado com esses repasses foi a administração do ex-governador Sérgio Cabral (MDB) no Rio de Janeiro. Guedes não explicou como se daria a entrega de recursos aos outros entes da federação.

O economista voltou a defender a privatização de estatais, sem citar quais. Bolsonaro tem resistido a negociar empresas como a Petrobras e a Eletrobras, embora tenha mencionado a possibilidade de vender a primeira em entrevista na GloboNews.

"Os militares fizeram a infraestrutura brasileira. Aí começa a democracia a pedir novos gastos. Na hora que você começa a fazer, além das estatais todas, vai fazer saúde, educação, saneamento, vem a hiperinflação. Não tem dinheiro para tudo. Tem que transformar o Estado. O Estado fez a infraestrutura, agora privatiza essa estrutura e vai investir em saúde e educação", afirmou Guedes.

Tópicos relacionados

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.